A corredora Clarisse Cruz e a escola de ciclismo da Efapel procuram encontrar ânimo para se manterem ativas face ao singular estado de calamidade pública decretado há 10 dias em Ovar, devido à pandemia da covid-19.

“Na semana passada não fiz nada, mas, desde segunda-feira, comecei a saltar à corda e a exercitar para não baixar muito o meu nível físico, nem custar tanto a retomar mais tarde. De resto, é normal que as pessoas se sintam saturadas, porque passámos de uma liberdade grande para um cerco que nos obriga a estar fechados em casa”, contou à agência Lusa a finalista dos 3.000 metros obstáculos nos Jogos Olímpicos Londres2012.

Com transmissão comunitária ativa, assente em 119 infeções por covid-19, de acordo com a Direção-Geral da Saúde, Ovar viu declarado o estado de calamidade pública pelo Governo entre 17 de março e 02 de abril, limitando o quotidiano de 55 mil habitantes aos 92 quilómetros quadrados superficiais, ‘vigiados’ por 16 pontos de controlo.

“O presidente [Salvador Malheiro] tem estado muito no terreno e fechou quase tudo. Não treinamos e dificilmente saímos para fazer alguma coisa. Ia aos Campeonatos Europeus de Veteranos em Braga, mas foi tudo cancelado e não sei o que vai acontecer. Pode ser que a normalidade regresse em maio, mas temos de esperar para ver”, apontou.

Nascida e criada na sede do município vareiro, Clarisse Cruz é assistente técnica da divisão de Urbanismo e Planeamento na autarquia, onde teve conhecimento de três colegas infetados pelo novo coronavírus, realidade que a empurrou para um isolamento de 14 dias, debruçado numa “vida normal, a ver televisão e a descansar”.

“As pessoas estão conscientes de que isto é mesmo perigoso. A parte ligada à saúde é que está mais complicada e, neste momento, todos os médicos ou enfermeiros disponíveis são bem-vindos em Ovar”, alertou a atleta do Grecas, de 41 anos, que passou por Ovarense, Clube de Atletismo de Ovar, FC Porto, Sporting, Boavista e Salgueiros.

Realidade idêntica traça Jorge Henriques, diretor da escola de ciclismo da Efapel, equipa profissional sediada em Ovar, ao refletir sobre uma cidade “parada” e um concelho “prejudicado no plano social e económico” por medidas “drásticas e exemplares”, que não deixaram de ser acatadas por uma “comunidade tranquila”.

“A zona de maior movimento é a praça do município, onde estão as forças autárquicas e civis. No parque urbano apanha-se uma ou outra pessoa isolada a caminhar e nas ruas não se veem carros e os lugares de estacionamento estão todos vagos, porque não se passa absolutamente nada”, descreveu à agência Lusa o ex-ciclista da Ovarense.

Mentor de 40 filiados entre os cinco e os 18 anos, que estão com provas suspensas até 03 de abril, Jorge Henriques apelou à juventude vareira que investisse na condição física através de bicicletas estáticas e aproveitasse a quarentena para imaginar formas de “quebrar a monotonia” imposta pela inédita cerca sanitária.

“É difícil gerir o lado emocional de jovens com vontade de andarem na rua e que têm de ficar fechados entre quatro paredes. O treino ‘indoor’ faz-se todo o ano em condições normais, mas ao terceiro dia seguido já ninguém aguenta. O corpo atinge uma temperatura brutal pelo exercício em si e o tempo parece que não passa”, elucidou.

O responsável pelas camadas jovens da Efapel também tem pesquisado “pequenos artefactos” que dinamizem os aprontos domiciliários, lamentando que os juniores convivam com “uma pressão enormíssima” entre abandonar o ciclismo ou mostrar serviço sem competição para poderem augurar uma oportunidade profissional.

“Não sabem quando vão voltar a competir, mas sabem que o treino ‘indoor’ não lhes traz a solução toda. Temos acompanhado e falado diariamente, sendo que gerir esta informação com estes jovens não é tarefa fácil”, observou Jorge Henriques, que ainda administra um dos maiores fabricantes ibéricos de mobiliário hospitalar.

Sediado na Murtosa, vila limítrofe de Ovar, e com uma fábrica em Bombarral, no distrito de Leiria, o negócio vai recebendo “muita solicitação” por causa da covid-19, que já fez de Espanha o segundo país mais com mais vítimas e exige o reforço dos hospitais portugueses, embora as expedições esbarrem numa gestão “complexa” em torno de Ovar.

“Tem de haver flexibilidade na entrada e saída de certos bens e pessoas. Preciso que entrem matérias-primas e não tenho nada, assim como os clientes pedem-me material e não consigo transportadoras que quebrem a cerca para levantar mercadorias. O controlo está mesmo muito apertado e esta semana tem sido mais difícil passar”, atirou.

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