O Comité Olímpico Internacional (COI) alertou seriamente Roma sobre os riscos de intromissão governamental na gestão do Comité Olímpico Nacional Italiano (CONI).

Numa carta divulgada na passada terça-feira pelo jornal 'Corriere della Serra' à qual a AFP teve acesso, o COI alertou o CONI sobre um projeto-lei que colocaria em causa a sua independência e, na pior das hipóteses, poderia conduzir a exclusão da Itália dos próximos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.

A entidade que fica na cidade de Lausanne, na Suíça, manifestou as "suas sérias preocupações" sobre o projeto-lei que, se for adotado, "afetaria claramente a autonomia do CONI".

"Pertencer ao movimento olímpico exige cumprir a Carta Olímpica", lembra o COI, que considera que a adoção deste texto levaria a considerar a organização "não conforme aos princípios da Carta Olímpica".

"Decisões unilaterais" do governo

Na sua carta enviada a Giovanni Malago, presidente do CONI, James Macleod, diretor de relações com os Comités Nacionais Olímpicos (CNO), sugere emendas ao projeto-lei e aponta que o CONI não deveria, como prevê o texto inicial, "ser reorganizado por decisões unilaterais do governo".

Já o COI propõe a realização ainda "esta semana" de uma reunião em Lausanne com o CONI para "ajudar a resolver a situação".

Contactada pela AFP, uma fonte italiana próxima ao caso considerou que "a situação é complicada". Segundo a mesma fonte, o fundamento desta reunião em Lausanne foi "aprovado" mas não há ainda uma data marcaada.

O COI também lembra o conteúdo do artigo 27.9 da Carta Olímpica, que prevê que, em caso de transgressão da carta, a comissão executiva do COI pode tomar "todas as decisões apropriadas para a proteção do Movimento Olímpico no país de um CNO, especialmente a suspensão ou a retirada de reconhecimento do referido CNO" se a constituição, a legislação ou outras regulações em vigor nesse país, ou todo ato de um organismo governamental ou de outra entidade, acabarem por "obstruir a atividade do CNO".

O Parlamento italiano adotou na terça-feira à noite, poucas horas depois da publicação da carta do COI, uma lei de bases que autoriza o governo a reformar a organização do desporto a nível olímpico. Mas os parlamentares defenderam-se na quarta-feira, negando o desejo de colocar em risco a independência do CONI.

"Respeito à Carta Olímpica", defende Governo

"Conseguimos fazer adotar uma agenda (um documento juridicamente não vinculante) que compromete o Governo a exercer as suas prerrogativas, com respeito à Carta Olímpica", declarou o senador Claudio Barbaro, citado pela imprensa.

O Governo italiano tem um ano como prazo máximo para aprovar os decretos de aplicação concretos desta lei de bases.

"Agora resta a segunda parte do trabalho a ser feito (...) com os decretos legislativos e de aplicação (...). Neste âmbito vamos esclarecer as dúvidas que surgem de um mal-entendido, como mostra a carta do funcionário do COI", declarou Giancarlo Giorgetti, secretário de Estado dos Desportos e, principalmente, braço direito de Matteo Salvini, líder da Liga e homem-forte do Governo italiano.

Este caso ocorre menos de dois meses depois da designação no final de junho de Milão-Cortina d'Ampezzo para a organização dos Jogos Olímpicos de Inverno-2026, à frente de Estocolmo.

Se a Itália fosse suspensa por interferência governamental, seria a primeira grande nação a sofrer uma sanção semelhante, desde a Índia em 2012.