Tadej Pogacar nunca imaginou que alcançaria a ‘dobradinha’ Giro-Tour na mesma temporada, revelando-se hoje sem palavras após conquistar pela terceira vez a Volta a França, numa altura em que o ciclismo está a viver a sua melhor era.

“Estou superfeliz, não consigo descrever quão feliz estou. Depois de dois anos difíceis no Tour, com alguns erros, este ano correu tudo na perfeição. Estou sem palavras”, começou por dizer na ‘flash-interview’, depois de vencer a sexta etapa nesta edição do Tour.

Aos 25 anos, ‘Pogi’ juntou-se ao belga Philippe Thys (vencedor em 1913, 1914, 1920), ao francês Louison Bobet (1953, 1954, 1955) e ao norte-americano Greg LeMond (1986, 1989, 1990) na lista de tricampeões do Tour e fica a dois triunfos de igualar os recordistas Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain.

“Penso que esta é a primeira grande Volta em que estive confiante todos os dias, até no Giro tive um dia mau – não vou dizer qual -, mas esta Volta a França foi simplesmente fantástica. Desfrutei do primeiro dia até hoje, tive um apoio tão grande. Não podia deixar ninguém ficar mal”, confessou.

O esloveno, que vestiu a camisola amarela ininterruptamente desde a quarta etapa, depois de já a ter vestido após a segunda, alcançou também a ‘dobradinha’ Giro-Tour, tornando-se no oitavo ciclista da história, e o primeiro desde o italiano Marco Pantani, em 1998, a consegui-lo.

Nem mesmo o seu ídolo Alberto Contador ou Chris Froome cumpriram tamanho feito, apenas concretizado por Fausto Coppi (1949 e 1952), Jacques Anquetil (1964), Eddy Merckx (1970, 1972 e 1974), Bernard Hinault (1982 e 1985), Stephen Roche (1987), Miguel Indurain (1992 e 1993) e Pantani.

“É incrível. Nunca tinha imaginado isto. Talvez algumas pessoas tenham pensado que o Giro era uma ‘rede de segurança’ se não tivesse sucesso no Tour, e claro que seria se não tivesse sido bem-sucedido na Volta a França... Ganhar apenas o Giro já teria tornado este ano incrível, mas ganhar também o Tour é outro nível. Ganhar os dois juntos é um nível ainda mais acima”, defendeu o agora tricampeão.

A história do domínio de Pogacar em grandes Voltas conta-se através dos números, nomeadamente as seis etapas que ganhou tanto no Giro como no Tour, um feito inédito na modalidade, ou os 39 dias que passou com a camisola de líder (20 no Giro e 19 na prova francesa), que lhe permitem bater o recorde estabelecido por Merckx (37) em 1970.

Mas há mais: os seus 17 triunfos em etapas na ‘Grande Boucle’ permitem-lhe superar Jacques Anquetil e igualar Jean Alavoine, corredor do início do século XX, sendo que ninguém ganhou tantas tiradas antes dos 26 anos, e as 14 etapas de alta montanha que ganhou na prova também são um recorde, com Merckx a ser segundo com ‘apenas’ 10.

Só que o ambicioso ‘Pogi’ nunca se cansa de ganhar e até já pensou no próximo objetivo: “O [Mathieu] van der Poel fica muito bem na camisola de campeão do mundo mas quero tirar-lha”.

“Penso que nos últimos dois anos temos ouvido que esta é a melhor era do ciclismo e, se não estivesse eu próprio a competir, diria o mesmo. É a melhor era de sempre do ciclismo, pelo menos na [luta pela] geral. Este tipo de competição com o Jonas [Vingegaard], o Remco [Evenepoel] e o Primoz [Roglic] é incrível. E estão a aparecer cada vez mais jovens… Podemos desfrutar deste momento do ciclismo”, destacou.

Depois, já no pódio, ladeado pelo ‘vice’ Vingegaard – novamente segundo atrás do esloveno, depois de ter ocupado a mesma posição em 2021 – e pelo terceiro classificado, o vencedor da juventude Evenepoel, voltou a elogiar os seus rivais.

“Como foi louca a jornada e as batalhas com o Jonas e o Remco e o Primoz e todos os que estavam a lutar pela vitória. Penso que foi uma das Voltas a França mais loucas da história, Testemunhámos muita coisa nesta Volta a França, nomeadamente como o Mark Cavendish bateu o recorde de vitórias e fez história”, recordou, antes de agradecer a todos os fãs e também à família, amigos e equipa, que inclui o português João Almeida, quarto na geral final.