A espera terminou. Começa este sábado a 110ª edição da Volta a França em bicicleta, considerada a maior prova do ciclismo mundial, e um dos maiores eventos desportivos do ano. Entre o dia 1 e o dia 23 de julho os melhores ciclistas do planeta irão rolar, sprintar, subir e descer, com o objetivo de chegar aos míticos Campos Elíseos em Paris na última etapa, preferencialmente vestidos com a camisola amarela.

Contudo, dos 176 corredores que estarão na linha de partida este sábado, apenas uma pequena franja tem reais ambições e hipóteses de vencer 'La Grande Boucle'. A edição do ano passado assistiu a surpreendente vitória do dinamarquês Jonas Vingegaard, que bateu categoricamente Tadej Pogacar, o jovem que parecia ser dono e senhor da prova após duas conquistas consecutivas.

De volta ao grande palco, o mundo do ciclismo anseia por ver os dois jovens prodígios novamente em combate pela vitória. Terá 2022 sido um mero interregno no domínio de Pogacar? O início do reinado de Wingegaard? Ou o primeiro episódio de uma saga onde os dois ciclistas irão deixar toda a concorrência para trás e travar épicos duelos pela almejada camisola amarela?

A corrida

A 110ª edição do Tour irá iniciar, como tem vindo a ser costume nos últimos anos, fora de território francês. Neste caso, a corrida irá ter início no País Basco, mais propriamente em Bilbao. E engane-se quem pense que o primeiro dia será apenas uma apresentação e uma etapa para os ciclistas aquecerem.

Na primeira etapa o pelotão vai encontrar desde logo as primeiras dificuldades com cinco contagens de montanha espalhadas pelos 182 quilómetros da tirada, onde se subirá quase 3000 mil metros no total. Será uma etapa onde, apesar de não se esperarem grandes diferenças no que aos candidatos à vitória diz respeito, poder-se-á ter uma ideia da forma em que os principais favoritos chegam à corrida.

Este será apenas o arranque de uma das primeiras semanas mais duras da história recente da Volta a França, e que terá o seu pico na etapa número 9, dia 9 de julho. Depois de terem ultrapassado subidas como o Col D´Aspin ou o mítico Tourmalet na sexta etapa,  o pelotão percorre 182 quilómetros de uma tirada 9 que termina no topo do Puy de Dome, que regressa ao Tour depois de 35 anos de ausência.

O pelotão será posto à prova na subida final da etapa ao subir mais de 13 quilómetros com uma média de inclinação perto dos 8%. Destes 13 quilómetros, os últimos 4,5 terão um grau de inclinação superior a 11%...será o primeiro grande teste para os homens da geral.

Tour 2023
A subida final ao Puy du Dome créditos: letour.fr

Depois do primeiro dia de descanso e passados os Pirenéus, o pelotão ruma em direção aos Alpes. Depois de algumas tiradas mais propícias aos sprinters, a corrida chega a um dos pontos altos (literalmente) com a subida ao Grand Colombier, precisamente no dia 14 de julho, dia da Bastilha e feriado nacional em França. Após tão grande esforço, é caso para dizer que o pelotão não vai ter tempo para respirar, uma vez que as duas etapas seguintes também incluem muita montanha; a 15ª etapa terá mesmo três contagens de primeira categoria.

Após o segundo dia de descanso segue-se o único contra-relógio da edição 110º do Tour; um total de apenas 22 quilómetros, a menor distância presente numa edição da Volta a França no que a contra-relógios diz respeito. Após nova etapa alpina, que chega à estância de esqui de Courchevel, o pelotão tem duas etapas planas que antecedem o penúltimo e talvez decisivo dia da corrida. Na 20ª etapa os ciclistas vão ter mais de 3000 metros de subidas distribuídos por seis escaladas ao longo de pouco mais de 130 quilómetros; será a última oportunidade para quem quiser alcançar os seus objetivos.

Como é habitual, o Tour irá terminar nos Campos Elíseos em Paris na última etapa. Na próxima edição a última etapa não poderá terminar no centro da capital francesa, isto devido à realização dos Jogos Olímpicos.

Veja o perfil das 21 etapas do Tour 2023

As figuras

Jonas Vingegaard

Como vencedor da última edição do Tour, o dinamarquês Jonas Vingegaard terá de ser considerado como o principal candidato a voltar a vestir a camisola amarela em Paris. O ciclista da Jumbo Visma tem feito uma época consistente, tendo vencido provas como 'O Gran Camiño', a Volta ao País Basco e, mais recentemente o 'Critérium du Dauphiné', prova habitualmente vista como barómetro para a forma dos ciclistas antes do Tour e onde Vingegaard dominou a seu belo prazer.

Para a Volta a França, o dinamarquês não terá ao seu lado Primoz Roglic (em preparação para a Vuelta), mas será devidamente escudado por nomes como os de Sepp Kuss, Wilco Kelderman e o sempre espetacular Wout van Aert, um dos ciclistas mais completos do pelotão internacional e que certamente estará muito ativo desde o início da corrida.

Tadej Pogacar

Tadej Pogacar é um dos principais pontos de interrogação para a Volta a França. O esloveno arrancou a temporada a todo o gás, chegando mesmo a bater Vingegaard na clássica Paris-Nice. Seguiram-se triunfos na Volta a Flandres, a Amstel Gold Race e 'La Flèche Wallonne'; infelizmente o ciclista sofreu uma queda aparatosa na 'Liège-Bastogne-Liège', fraturando um dos pulsos e obrigando Pogacar a interromper a época. Mesmo assim, o esloveno ainda regressou a tempo de conquistar os campeonatos nacionais da Eslovénia, quer de estrada, quer de contra-relógio.

Em comparação com o ano anterior, Pogacar parece vir melhor acompanhado para a Volta a França. Para além do seu habitual 'braço direito', Rafał Majka, a equipa da Emirates aposta forte na conquista do Tour com as presenças de nomes como os de Felix Großschartner, Mikel Soler ou ainda o do britânico Adam Yates.

Os 'outsiders'

Apesar de todas as atenções estarem viradas para a luta entre Vingegaard e Pogacar, outros ciclistas também também estarão à espreita de uma oportunidade de lutar pelo pódio em Paris. E se a Jumbo e a Emirates têm os seus líderes bem definidos, resta saber quem será o chefe de fila da INEOS, equipa com maior orçamento do pelotão internacional.

A formação contará com Ergan Bernal, antigo vencedor do Tour, numa altura em que o colombiano ainda recupera do gravíssimo acidente de que foi vítima, não estando ainda em condições de lutar pela vitória. Daniel Martínez ou Carlos Rodríguez poderão ser assim os melhor posicionados para assumir a liderança da equipa, que conta ainda com o talento de homens como Jonathan Castroviejo ou Thomas Pidcock.

No restante pelotão, será necessário ter em conta nomes como os dos australianos Jay Hindley da BORA (vencedor do Giro em 2022) e Ben O´Connor da AG2R, Mikel Landa e Jack Haig da equipa Bahrain, Richard Carapaz da EF Education, Enric Mas da Movistar, Louis Meintjes da Intermarché ou Alexey Lutsenko da Astana. Todos nomes que certamente irão lutar pelos dez primeiros lugares da classificação.

Quanto aos homens da casa, todos esperam espetáculo por parte de nomes como Romain Bardet, Thibaut Pinot, Julian Alaphilippe, ou ainda David Gaudu; o ciclista da FDJeux foi quarto na edição anterior do Tour e irá certamente lutar pelo pódio.

Já Portugal irá ser representado por Rui Costa, na equipa Intermarché, e ainda pela dupla da Movistar composta por Nélson Oliveira e Rúben Guerreiro; este último é visto como possível candidato a lutar pela camisola da montanha, podendo ainda apontar à conquista de uma etapa de montanha.

Está tudo a postos para que arranque a 110ª edição da Volta a França. Esperam-se milhares de adeptos ao longo dos 3,404 quilómetros que os ciclistas vão percorrer durante três semanas, e milhões mais colados à televisão para apoiar os seus corredores de eleição.

A Volta a França é o terceiro maior evento desportivo em termos de audiência televisiva, ultrapassado apenas pelos Jogos Olímpicos e o Campeonato do Mundo de futebol.