David Blanco tinha um sonho e o contrarrelógio de hoje, ganho pelo amigo Alejandro Marque (Carmim-Prio), tornou-o mais real ao consolidar uma amarela que, no domingo, será símbolo de recorde de vitórias na Volta a Portugal em bicicleta.
Leiria voltou a ser talismã para o espanhol de 37 anos que já aí tinha sido muito feliz em 2010, no dia em que praticamente conquistou a última das suas quatro vitórias na Volta a Portugal (2006, 2008, 2009 e 2010), e hoje voltou a sê-lo, com um quarto lugar no “crono” que lhe valeu 22 segundos de vantagem para o seu único verdadeiro rival, Hugo Sabido, e 57 para o colega da Efapel-Glassdrive, Rui Sousa, dono do último lugar do pódio.
«Perdi para um grande campeão». Derrota assumida pelo português da LA-Antarte, mas não por Blanco que, até cortar «o risco em Lisboa», nem quer ouvir falar de quinta conquista e muito menos de recorde de triunfos na prova portuguesa.
«É outra vez a mesma frase: até ao rabo é touro», disse, recordando um lema clássico em edições anteriores, depois de ter concluído a etapa 38.47 minutos, acrescentando mais 14 segundos ao avanço de oito que tinha à partida sobre Hugo sabido, 11.º no exercício solitário contra o cronómetro (39.01).
Mas nem só da mais do que certa quinta amarela do antigo corretor da Bolsa de Madrid se conta a história da nona etapa e penúltima etapa.
Foi um dia de ex-líderes e ex-vencedores: primeiro foi Jason McCartney, o triunfador da sexta etapa, a comprovar os seus dotes de contrarrelogista, depois foi o primeiro camisola amarela, Reinardt Van Rensburg, a passar como uma flecha na meta (38.32 minutos).
Passaram muitos e bons especialistas, mas nem José Gonçalves (38.42), campeão português de contrarrelógio, foi capaz de bater o seu homólogo sul-africano, firme com o melhor tempo até à demonstração de sobrevivência da Carmim-Prio.
Alejandro Marque, o galego que é companheiro de treino e um dos melhores amigos de Blanco, voou nos 32,6 quilómetros do trajeto igual ao de 2010 para mostrar que a equipa de Tavira, apesar de todos os azares, ainda tem ânsia de vitória.
Sem pressão da geral, o corredor “tavirense”, que há dois anos, no mesmo percurso, tinha sido terceiro, pedalou para o triunfo, o único da sua equipa numa desastrosa Volta que interrompeu o reinado de quatro anos dos homens de Vidal Fitas no primeiro lugar da geral individual.
«Hoje, quando acordei, sabia que tinha de dar o meu máximo para sair daqui com a vitória. Satisfeitos não estamos, porque a desistência do Ricardo [Mestre] foi uma perda muito grande. Sofremos uma crise e esta é a melhor maneira de ultrapassá-la», reconheceu o ciclista de 30 anos.
Já Marque tinha cortado a meta, depois de 32,6 quilómetros entre Pedrógão e Leiria, percorridos a uma média de 50,824 km/hora, com um tempo de 38.15 minutos, e na estrada ainda decorria o duelo do dia.
«Continua que estás a ganhar», ia gritando Mário Rocha a Sabido, numa “mentira” motivacional para ocultar a superioridade de Blanco, que ia, quilómetro após quilómetro, amealhando um e outro segundo na consolidação da sua quinta amarela.
Fortemente apoiado pelos muitos espetadores que coloriram as estradas, o líder da LA-Antarte tentava, como podia, contrariar aquilo que era a vitória anunciada do galego, confirmada aos 21,9 quilómetros, no ponto intermédio, quando a diferença entre primeiro e segundo era de 16 segundos.
Não havia nada a fazer: os oitos segundos de diferença à partida tornaram-se 22 à chegada e Leiria, tal como em 2010, consagrou Blanco como vencedor da Volta a Portugal. Sonho alcançado, abraços e agradecimentos partilhados – enquanto isso, Sabido aceitava a derrota, consolado pelos membros da sua equipa -, estava feita história na prova rainha do ciclismo luso.
No domingo a décima etapa servirá apenas para o desfile dos campeões, que têm 149,5 quilómetros entre Sintra e Lisboa para desfrutar de um dia de “descanso” até cortarem a meta na Avenida da Liberdade para a cerimónia do pódio final.
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