No regresso à prova ‘rainha’ do ciclismo português, após dois anos de ausência, Linarez esteve imperial, ganhando ao sprint a primeira etapa da 84.ª edição, diante de Daniel Babor e Tomás Bárta, o duo de checos da Caja Rural, que foram, respetivamente, segundo e terceiro em Ourém, com as mesmas 4:33.04 horas do vencedor.

“Quero dedicar esta vitória ao nosso querido Pedro Silva, o criador desta equipa. Quando o conheci, trouxe-me para cá e disse-me que me queria ver ganhar uma etapa na Volta a Portugal. Infelizmente, não pôde ser, mas viu-me lá em cima e deu-me esse empurrão nos metros finais”, declarou o feliz venezuelano, que, momentos antes, tinha abraçado Xavier Silva, ao som de um “obrigado por tudo”, que deixou o filho do fundador da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua em lágrimas.

Graças aos 10 segundos de bonificação conquistados na meta, Linarez ainda igualou Rafael Reis na liderança da geral, mas o português da Glassdrive-Q8-Anicolor, que andou a sprintar nas metas volantes para aumentar a sua vantagem, levou a melhor no ‘desempate’ nos centésimos de segundo do tempo registado no prólogo.

“[A amarela] também era um dos objetivos, mas houve um pouco de confusão nos sprints bonificados. O Rafael Reis bonificou e nós ficámos na expectativa. Não estou líder, mas amanhã [sexta-feira] é outro dia”, notou o sorridente segundo da geral, que tem Babor atrás de si, a um segundo.

Foi logo nos primeiros metros dos 188,5 quilómetros de ligação entre o Velódromo Nacional de Sangalhos (Anadia) e Ourém que os portugueses João Macedo e Diogo Narciso, da Credibom-LA Alumínios-MarcosCar, e Rafael Lourenço (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) iniciaram a primeira fuga da 84.ª edição, numa iniciativa em que foram acompanhados pelo alemão Adrian Zuger (Bike Aid) e pelo neerlandês Bart Buijk (Universe Cycling).

Os cinco ganharam uma margem que rondou os dois minutos, sendo perseguidos pela Aviludo-Louletano-Loulé Concelho, apostada em fazer César Martingil – que era quarto, a quatro segundos - bonificar, quer nas metas volantes, quer no final, para chegar à amarela. Mas, no primeiro sprint intermédio, já só os ciclistas da Credibom-LA Alumínios-MarcosCar estavam isolados na frente, facto aproveitado por Reis para ir ‘amealhar’ mais um segundo.

Wesley Mol (Bike Aid) haveria, depois, de saltar do pelotão para juntar-se ao duo de fugitivos, com os três a colaborarem bem e a dilatarem para três minutos a vantagem sobre os perseguidores, antes de o neerlandês sucumbir também ao ‘contrarrelógio por equipas’ dos dois jovens portugueses, mas também ao calor e terreno acidentado que os ciclistas enfrentaram durante toda a jornada.

João Macedo, que foi assistido pela equipa médica durante a etapa, e o ‘pistard’ Diogo Narciso perseveraram, demonstrando também que esta prova não é para equipas estrangeiras (exceção feita às quatro ProTeams espanholas), pouco acostumadas às temperaturas ‘impossíveis’ registadas e que serão ainda mais altas nos próximos dias.

Apesar de, após o prólogo, ter sugerido que ‘despir’ a amarela hoje nem seria necessariamente mau para a Glassdrive-Q8-Anicolor, perante as longas e quentes etapas que medeiam até à entrada nas montanhas, na segunda-feira, o ciclista de Palmela voltou a sprintar na terceira meta volante do dia, conquistando mais um segundo, que viria a ser fundamental para segurar a liderança.

Na aproximação à meta, o duo da Credibom-LA Alumínios-MarcosCar foi perdendo tempo, com Macedo, o último dos resistentes, a ser alcançado a 21 quilómetros da meta, após uma odisseia que durou quase 170 quilómetros.

Anulada a fuga, ainda houve tempo para César Fonte (Rádio Popular-Paredes-Boavista) atacar na última contagem de montanha da tirada, em Fátima, e seguir isolado até à entrada dos derradeiros 6.000 metros, numa altura em que o pelotão seguia a alta velocidade para lançar o sprint que consagrou o venezuelano.

“Não há nada fácil nesta vida, muito menos uma vitória na Volta a Portugal”, lançou Linarez, de 26 anos, após festejar com os seus companheiros, entre abraços e gritos de alegria, o mais belo triunfo da sua carreira.

Entre os favoritos na geral, só Joaquim Silva (Efapel) perdeu tempo – 33 segundos -, caindo para 90.º, a 49 de Rafael Reis. O campeão Mauricio Moreira continua a ser o melhor entre os candidatos, na quinta posição, a cinco segundos do seu companheiro português.

Na sexta-feira, uma nova chegada ao sprint, no final dos 177,2 quilómetros entre Abrantes e Vila Franca de Xira, pode ‘condenar’ Reis a despedir-se da amarela, uma vez que o vencedor do prólogo não deve arriscar intrometer-se na luta entre homens velozes.