O ciclista português Ivo Oliveira mostrou-se hoje feliz com um bronze “deveras emocionante” na perseguição individual dos Mundiais de pista, em Saint-Quentin-en-Yvelines, superando um fémur partido e “três dias de cama” para chegar ao pódio.

“Para mim foi um título deveras emocionante. É a minha segunda perseguição, praticamente, em dois anos. Foi especial. A semana passada estive doente, quase três dias de cama. Não sabia se ia recuperar bem, mas mantive-me calmo e motivado”, descreveu, pouco depois de conquistar o bronze no Velódromo Nacional, que vai acolher os Jogos Olímpicos Paris2024, a que quer chegar.

Vice-campeão mundial da disciplina em 2018, o português de 26 anos cumpriu a prova com 4.08,738 minutos, mais de um segundo melhor do que o britânico Dan Bigham, adversário pelo último lugar do pódio.

O título mundial, disputado numa final pelo ouro 100% italiana, foi para o recordista da Hora Filippo Ganna, que bateu o recorde do mundo para superar Jonathan Milan, fixando o novo máximo em 3.59,636.

Quatro anos depois da primeira medalha em Mundiais de elite, Ivo Oliveira voltou a fazer história para o ciclismo português, voltando a mostrar ser um dos melhores do mundo nesta disciplina.

A vontade de “melhorar o recorde pessoal” foi concretizada na qualificação. “Na final, sabia que tinha a meu favor a frescura”, por Bigham ter feito também a perseguição por equipas, comentou.

Assim, e mesmo com “muito, muito pouco tempo para recuperar” até à final, ficou “emocionado, feliz, por subir ao pódio” e “mostrar outra vez” que está entre os melhores.

“Fraturei o fémur, eu próprio duvidava se ia alguma vez voltar ao meu nível. [Quis] mostrar a mim e a toda a gente que estou ainda melhor”, atirou.

Um controlo do esforço ao longo dos quatros quilómetros, fazendo “exatamente igual à qualificação”, permitiu-lhe superar o tempo do britânico a partir dos 2.000 metros, mesmo que no fim tenham perdido tempo em relação ao que fizeram antes, uma situação normal, já numa fase de “jogo psicológico”.

“Ouvia o meu irmão e o selecionador nas bancadas gritarem que estava na frente, só me deu motivação, as pernas até andaram mais. (...) Tentava ver pelo olho esquerdo alguma sombra [da margem]. O meu irmão dizia que estava à frente, mas podia ser só para motivar. Vai ser difícil adormecer hoje”, rematou.

O selecionador, Gabriel Mendes, gabou Ivo Oliveira como “um dos melhores corredores do mundo nesta disciplina”, hoje tendo o corolário de um “processo de trabalho”

“Melhorando o seu melhor tempo, teríamos um bom indicador. O foco [do trabalho] foi para isso, e bateu esse recorde. A segunda etapa era verificar se o tempo era suficiente para conseguirmos a qualificação, porque isto é uma competição tão no limite que para ganhar um segundo é muito difícil”, analisou.

A “capacidade extraordinária de gerir os milésimos de segundo na pista, competência de atletas de nível de topo mundial”, que Ivo Oliveira tem, disse o técnico, levou-o ao bronze.

“Sabia que era muito importante a fase final da corrida, a parte mental. Estávamos a controlar a corrida, e quando senti que o adversário quebrava, foi o momento decisivo para dar esse ‘feedback’ ao Ivo, nas últimas seis voltas. Transcendeu-se, superou-se. Esta medalha de bronze é um orgulho de todos nós”, completou.

A medalha conseguida, a primeira de duas do dia de hoje depois de Maria Martins conseguir, nem uma hora depois, o bronze no omnium, serve também como “fator ainda mais motivador”.

“O Ivo tem essa capacidade de superação, e com mais tempo para trabalhar a especialidade desta prova, conseguiremos melhorar”, acrescentou.

Ivo Oliveira compete ainda no domingo, com o irmão Rui Oliveira, na prova do madison, do programa olímpico da pista.

Portugal está representado em Saint-Quentin-en-Yvelines por Ivo Oliveira, Rui Oliveira, João Matias, Maria Martins e Daniela Campos, num Campeonato do Mundo que decorre até domingo no mesmo velódromo que vai acolher a especialidade nos Jogos Olímpicos Paris2024.