Sete das nove equipas do escalão Continental Profissional em Portugal admitem que, "para já", não houve cortes de salários nem ‘lay-off', mas a pandemia da COVID-19 pode obrigar a ajustes que preocupam os diretores desportivos.

Os dirigentes contactados pela Lusa manifestaram uma "preocupação" que é transversal à modalidade quando passou um mês desde a última competição, a Clássica da Primavera, mas revelam que os efeitos ainda não se fizeram sentir.

Na Miranda-Mortágua, Pedro Silva conta à Lusa que há "alguma almofada financeira" para os próximos tempos, ainda que tenham tido de reduzir custos, o que passou por indicar aos colaboradores independentes, como massagistas e outro ‘staff' de apoio, que se candidatassem ao apoio previsto pelo Estado para quebra de atividade.

Foram cancelados "os seguros da frota automóvel e adiados os compromissos do ‘leasing'", porque "nesta fase qualquer poupança é bem-vinda", até porque há na equipa "corredores com rendas, famílias e outras coisas a pagar".

"Que fique bem claro, ninguém vai ficar prejudicado em relação aos contratos iniciais enquanto tivermos o orçamento previsto", garante o diretor desportivo, ainda que este possa ainda "ser reduzido".

Tal depende da saúde financeira dos patrocinadores, num contexto em que se esperam problemas para muitas empresas, ainda que, na Miranda-Mortágua, seja "ainda cedo para falar em compromissos" e a prioridade é "os salários dos ciclistas".

Na Aviludo-Louletano, a "fase muito complicada" não originou nenhum reajuste ou corte de salários, conta à Lusa o diretor desportivo, Jorge Piedade, o mesmo se passando, para já, nas várias outras formações: Atum General - Tavira - Maria Nova Hotel, Kelly/InOutBuild/UDO, Efapel, Feirense e LA Alumínios-LA Sport, que disseram à Lusa não ter ainda tomado medidas nem passado por dificuldades em pagar salários, enquanto Rádio Popular Boavista e W52-FC Porto não anunciaram quaisquer medidas do género.

A Lusa tentou contactar, sem sucesso, os diretores desportivos de ‘axadrezados' e ‘dragões'.

O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), Delmino Pereira, admite à Lusa que algumas equipas "poderão aderir ao sistema de ‘lay-off'" em Portugal, depois de a federação ter criado um grupo de trabalho para prestar informações sobre medidas governamentais que apoiam equipas ou ciclistas neste período.

A preocupação com a incerteza, que acontece tanto nas equipas como nas empresas que as patrocinam, existe no meio velocipédico português e a maior parte dos diretores desportivos confessa não saber o futuro no que toca à gestão financeira das formações para lá dos próximos meses.

Na La Alumínios-La Sport, Hernâni Broco elenca também a "sorte de apenas depender de uma empresa", que espera "que consiga suportar todas estas condições", aguardando-se com expectativa "que a janela competitiva seja aberta".

"Neste momento, temos tudo em dia. O futuro... todos os dias surgem coisas novas, por isso temos de aguardar com serenidade. Continuamos otimistas", apontou Manuel Correia, da Kelly/InOutBuild/UDO.

Por seu lado, Joaquim Andrade, que dirige o Feirense, lembra que a equipa faz parte de um clube "que tem grandes responsabilidades" noutras modalidades, pelo que qualquer decisão "depende da direção do clube".

Na Efapel, Rúben Pereira lembra a "ligação de 10 anos" do patrocinador principal para referir que não têm tido problemas, o mesmo se passando na equipa de Tavira, que Vidal Fitas dirige com "otimismo" neste período.

Aqui, explica, estão "a ser avaliadas todas as opções", até porque os patrocinadores do ciclismo em Portugal "terão as suas dificuldades "e podem ter dificuldades em cumprir o estipulado", além da incerteza sobre "que tipo de calendário vai ser possível".

"Neste momento tão delicado, as equipas precisam umas das outras. É preciso estarmos mais unidos do que nunca. Espero que, quando for preciso, as equipas se mantenham e os patrocinadores façam mais um esforço, porque as equipas merecem", refere Rúben Pereira.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil. Dos casos de infeção, mais de 312 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.