Pela primeira vez desde que se reformou, David Blanco não vai estar na Volta a Portugal em bicicleta, mas, à distância, o recordista de vitórias não esconde que gostava de ver Alejandro Marque (Efapel) de amarelo em Lisboa.
“'A priori', a Volta a Portugal vai ser uma discussão entre o Gustavo e o Alex. Penso que o ‘crono’ de Pedrógão não costuma fazer grandes diferenças, portanto a montanha vai ser muito importante, sobretudo o dia da Serra [da Estrela], como sempre. O final do Larouco repete, mas no ano passado acabou por não acontecer nada de especial, se calhar porque estava muito vento de frente. Há a Senhora de Graça e depois está Viana, que acaba lá em cima [em Santa Luzia], a Torre e nada mais. A [etapa] de Boticas pode ser complicada, mas não estou a ver que o final seja difícil”, enumerou à agência Lusa por telefone, desde Santiago de Compostela.
David Blanco conhece a Volta a Portugal, aquela que os espanhóis chamam de ‘Grandíssima’, quase como ninguém, ou não tivesse ele vestido por cinco vezes a amarela final, um recorde que lhe permite discorrer sobre os candidatos e o percurso com a maior facilidade.
Os nomes dos amigos Alejandro Marque e Gustavo Veloso (W52-Quinta da Lixa), os homens que o sucederam no palmarés são os primeiros que menciona, não sem antes desfazer a ideia pré-concebida de que o favoritismo dos dois galegos reside nos longos 34,2 quilómetros entre a Praia de Pedrógão e Leiria.
“Qualquer um dos dois ao não ter um contrarrelógio, como por exemplo o de quando ganhou o Alex, que fazia diferenças muito grandes, sai prejudicado. Tem muitos quilómetros, mas as duas vezes que eu o fiz estava vento de costas. O terreno… a mim parece-me um ‘crono’ muito fácil. E dá para ver. Alex ganhou esse ‘crono’ uma vez, mas as diferenças foram sempre muito pequenas entre os primeiros, quando comparados com outros ‘cronos’”, analisou.
Profundo conhecedor das técnicas e táticas do pelotão nacional, o antigo corretor da Bolsa de Madrid atreve-se a apontar a união coletiva como fator decisivo para o desfecho da 77.ª edição e Jóni Brandão como o maior rival do seu melhor amigo.
“O maior problema que vejo para o Marque, analisando como correu sempre a Efapel, é que cada um corre para si e assim é complicado”, lembrou, recordando a sua última vitória na Volta, na qual foi sempre uma figura à parte na equipa, excluído e atacado por quase todos os companheiros.
Para o antigo ciclista, a única maneira de vencer a Volta é ter uma equipa unida e aí leva vantagem Gustavo Veloso, o campeão em título: “O Delio [Fernández] pode perfeitamente ganhar e no ano passado mostrou que é capaz de se sacrificar para que o Veloso ganhe. Para mim, é dos máximos favoritos, até porque todos estão a olhar para Alex e Veloso e o Delio pode aproveitar”.
Quando se trata de favoritos, uma lista na qual não inclui Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista), o segundo do ano passado, pela época apagada que o veterano de Barroselas está a fazer, Blanco não se esquece de outro amigo, Ricardo Mestre, seu companheiro nos tempos em Tavira e o homem que lhe seguiu as pisadas nos tempos áureos da equipa algarvia. “Pode andar bem”, defendeu sobre o último vencedor português da Volta a Portugal (2011), nomeando também Amaro Antunes (LA-Antarte).
‘Obrigado’ à decisão salomónica de revelar qual dos três amigos e antigos vencedores da Volta a Portugal mais gostaria de ver de amarelo a 9 de agosto, em Lisboa, Blanco hesita, pensa, antes de assumir o mais óbvio: “Qualquer dos três merece, mas o Alex, depois de tudo o que lhe aconteceu no ano da Movistar [em 2014, esteve meses sem correr até ser ilibado de um positivo por betametasona], é o que mais merece”, confessou.
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