A Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua cumpriu hoje o sonho de vestir pela primeira vez a amarela na Volta a Portugal em bicicleta, ao vencer pelo segundo dia consecutivo com Leangel Linarez, perfeitamente lançado por João Matias.

Depois de trabalhar durante toda a jornada para garantir que o ciclista venezuelano destronasse Rafael Reis (Glassdrive-Q8-Anicolor) da liderança, a equipa dirigida pelo bicampeão da Volta Gustavo Veloso viu o seu esforço recompensado em Vila Franca de Xira, onde Linarez ‘bisou’ com autoridade, diante do espanhol Miguel Ángel Fernández (Burgos-BH) e do checo Daniel Babor (Caja Rural), respetivamente segundo e terceiro.

“Hoje, consegui o objetivo. Quero dedicar esta vitória a toda a equipa, pelo grande trabalho que fizeram do princípio ao fim. Esta camisola amarela não é apenas minha, é deles também. Os meus companheiros controlaram a corrida e, no final, o meu colega Matias fez um grande lançamento e pude concluir da melhor maneira”, elogiou o novo líder da 84.ª edição, que, graças às bonificações, tem sete segundos de vantagem sobre Babor e 10 sobre Reis.

A amarela do venezuelano, a primeira na Volta da estrutura de Mortágua, deixou os seus companheiros em lágrimas, nomeadamente João Matias, um dos grandes protagonistas da passada edição, que, nesta Volta, encarnou o papel de lançador com o mesmo afinco que o fez ganhar duas etapas em 2022.

“É um grandíssimo profissional. Com a Volta que fez no ano passado, chegar aqui e não só abdicar e fazer o seu trabalho, mas ver como o colega ganha e veste a amarela e festejar como se fosse uma vitória dele… É o significado de uma equipa e é o nosso segredo”, enalteceu também Veloso.

Mas o triunfo do ciclista de 26 anos, que agora espera levar a amarela até à Torre, começou a ser escrito logo no início dos 177,3 quilómetros entre Abrantes e Vila Franca de Xira, ponto final de segunda etapa.

Nem as elevadas temperaturas, a rondar os 40 graus, ‘assustaram’ os aventureiros do dia, com o então líder da montanha Diogo Narciso (Credibom-LA Alumínios-Marcos Car) a lançar-se na defesa da camisola logo ao quilómetro dois, na companhia de outros dois ‘repetentes’, os neerlandeses Wesley Mol (Bike Aid) e Bart Buijk (Universe Cycling), e do norueguês Jonas Hjorth (Global 6 Cycling).

Com a amarela em mente – Linarez estava empatado em tempo com Rafael Reis, que tinha levado a melhor, na quinta-feira, no ‘desempate’ aos centésimos -, a Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua assumiu a perseguição ao quarteto, estabilizando a diferença nos três minutos.

A tirada prosseguiu sem história, até à entrada dos 80 quilómetros finais, quando o pelotão se dividiu em dois, numa zona de perfil acidentado e vento lateral, e os austríacos da Voralberg assumiram o comando do primeiro grupo, tentando eliminar concorrência, nomeadamente dos homens da Efapel, AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense e Kelly-Simoldes-UDO, apanhados desprevenidos pela aceleração.

O momento de ‘pânico’ durou menos de 10 quilómetros, mas serviu de aviso para os mais distraídos sobre as intenções da equipa austríaca nesta Volta a Portugal, além de ter condenado definitivamente a fuga. Com ainda tanto para percorrer até à meta, a Glassdrive-Q8-Anicolor ousou ao atacar com o ‘trabalhador’ Fábio Costa para obrigar outros a assumirem a corrida.

A liderança de Rafael Reis estava a prazo e a equipa ‘amarela’ não queria ter a responsabilidade de controlar o pelotão até à chegada, pelo que o menos conhecido dos seus ciclistas pedalou para conseguir uma vantagem próxima de um minuto, anulada a 54 quilómetros da meta por ‘obra’ das espanholas Euskaltel-Euskadi e Caja Rural.

Houve ainda tempo para Sinuhé Fernandez (Burgos-BH), Lukas Meiler (Vorarlberg) e Luis Ángel Maté andarem isolados, com o experiente espanhol da Euskaltel-Euskadi a passar na frente nas duas últimas contagens de montanha da jornada para conquistar a liderança daquela classificação.

A eles juntaram-se depois os portugueses Luís Mendonça (Glassdrive-Q8-Anicolor) e César Fonte (Rádio Popular-Paredes-Boavista), com o quinteto a aguentar-se até perto dos derradeiros 10.000 metros, pouco antes de Linarez, também líder da classificação por pontos, voltar a fazer a festa, numa segunda etapa que os favoritos passaram incólumes, chegando todos com as mesmas 4:16.32 horas do vencedor.

“Assim diz o ditado, esperemos que seja acertado”, disse o venezuelano, em jeito de promessa, ao ser questionado sobre se não há duas sem três, antecipando que, no sábado, na quente ligação de 191,8 quilómetros entre Sines e Loulé, haverá nova oportunidade para tentar o ‘tri’.