A ética e motivação para o treino e a responsabilidade social mantiveram Emanuel Silva e Mariana Machado a treinar com vista aos Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados para 2021 devido à pandemia de covid-19, disseram hoje os atletas.

O canoísta e a atleta falavam na conferência ‘online' dedicada ao Dia Olímpico, organizada pela Câmara de Braga e o Comité Olímpico de Portugal (COP), numa sessão em que participaram, também o diretor desportivo do COP, Pedro Roque, e o chefe de missão a Tóquio2020, Marco Alves.

Sobre o financiamento e a motivação dos atletas de modalidades em relação ao futebol, por exemplo, Emanuel Silva preferiu destacar como "com tão pouco se faz tanta coisa" em Portugal, vendo-se "como um gladiador", que vai à luta "sem desculpas, porque atleta que é atleta não inventa desculpas".

Esse esforço e sacrifício, de resto, guiaram o canoísta medalhado olímpico (prata em K2 1.000 metros em Londres2012, ao lado de Fernando Pimenta) durante o período de confinamento, já depois de um adiamento que foi "a decisão mais sensata".

"O adiamento dos Jogos não me calhou bem. [...] Já estava em velocidade de cruzeiro, muito motivado. Desmotivei, mas tenho as pessoas certas comigo. [Nós, atletas] vivemos de adrenalina de treino, para competir a curto prazo", revelou.

Ainda assim, a cultura de trabalho e a "responsabilidade social", dada também pela bolsa que lhe é atribuída e que é "paga pelos portugueses", trouxe-lhe profissionalismo e responsabilidade para continuar a treinar e "chegar mais forte" ao evento em 2021.

A atleta Mariana Machado, por seu lado, admitiu que também se desmotivou, ainda para mais porque viu ‘cair' as provas que lhe podiam dar o apuramento para Tóquio2020, pelo ‘ranking', ainda que tenha agora mais tempo para o tentar.

O bom ambiente familiar, a vontade de treinar e estudar e uma ética de esforço fizeram com que continuasse, explicou.

Do lado do COP, Marco Alves elencou os efeitos do adiamento para este organismo, e, sobretudo, para uma organização penalizada em largos milhões de euros pela passagem para 2021, enquanto Pedro Roque considerou que o desporto português está numa "fase muito importante de regresso faseado aos treinos, ainda a decorrer".

Se uns estão já próximos do regresso à competição, muitas das modalidades de pavilhão estão ainda agora "a começar a treinar com limitações", sendo "difícil dizer" se o confinamento prejudicou o momento e capacidade dos atletas.

"Portugal tem atletas que o representam com orgulho, mas não só para participar. E tem dado resultados", destacou, lembrando os quatro medalhados olímpicos em atividade: além de Emanuel Silva, Fernando Pimenta, Telma Monteiro e Nelson Évora.

Sem que nenhum atleta português, explicou, possa ficar de fora de Tóquio2020 pelo ‘atraso’ de um ano, "atletas jovens como a Mariana Machado, que tinham pouco tempo, têm agora mais possibilidades".

"Dá-nos um otimismo muito grande para o que podem ser as perspetivas [portuguesas] para os Jogos Tóquio2020", acrescentou.

Os responsáveis no COP elencaram ainda as preocupações com "a incerteza dos processos de qualificação, devido às restrições de viagens e participação equitativa" entre países, mas este organismo está "a monitorizar tudo" o que diz respeito ao processos para apurar 43% das vagas, com 57% das quotas, a nível global, já atribuídas.

Quanto a pontos positivos e negativos do período trazido pela pandemia de covid-19, Mariana Machado apontou a possibilidade de concluir mais um ano académico, que ia deixar por fazer devido à intensidade de provas, enquanto a pior parte foi não se estrear em Europeus seniores ou participar no Campeonato Mediterrâneo, mesmo tendo agora "mais tempo" para procurar chegar a Tóquio2020.

Emanuel Silva, por seu lado, garantiu que estará "em Tóquio no próximo ano e mais preparado", tendo aproveitado para estar "mais presente com a família", em vez de cumprir quase 200 dias de estágio até ao arranque da competição na capital japonesa.

Os Jogos Olímpicos Tóquio2020 foram adiados para 2021, devido à pandemia de covid-19, estando marcados para decorrer de 23 de julho a 08 de agosto, com 34 portugueses já apurados, em 10 modalidades diferentes.