A complexidade de decidir um programa olímpico não pode ser subvalorizada, defendeu hoje o presidente dos Comités Olímpicos Europeus, alertando para os ‘perigos’ inerentes à introdução de novas modalidades e à alteração da distribuição de quotas.

“A complexidade de decidir um programa olímpico não pode ser subvalorizada, tem de assegurar um equilíbrio entre o interesse da cidade organizadora e o interesse global. […] O programa dos Jogos tem que funcionar para todos os comités olímpicos nacionais”, argumentou Spyros Capralos.

O presidente dos Comités Olímpicos Europeus intervinha numa sessão temática sobre a evolução do programa dos Jogos Olímpicos, inserida nos trabalhos da Assembleia Geral da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais (ANOC), no Centro de Congressos do Estoril.

O também presidente do Comité Olímpico grego abordou a introdução de cinco novas modalidades em Los Angeles2028, concedendo que irão atrair mais audiência, sobretudo nos Estados Unidos, mas sublinhando que algumas “estão muito pouco representadas no resto do mundo e provavelmente sairão do programa depois desses Jogos”, que terão 37 desportos.

O basebol/softbol, o flag football (uma versão sem elementos protetores - e menos violenta - do futebol americano), o críquete, o squash (desporto de raquetes que utiliza uma parede) e o lacrosse, desporto com raízes nativo-americanas, foram introduzidos no programa para Los Angeles2028, no qual já não consta o breaking, ‘estreante’ em Paris2024.

Embora reconhecendo que “a alteração do programa olímpico traz desafios e oportunidades para os comités olímpicos”, Spyros Capralos mostrou-se apreensivo com a consequente alteração de quotas que estas mudanças provocam.

“Vai afetar os comités olímpicos nacionais. Alguns desportos terão menos lugares, o que aumentará a pressão sobre os atletas para se qualificarem e, no limite, pode excluir atletas de elite”, alertou.

Alguns sistemas de qualificação tornam obrigatório aos atletas competir em todo o mundo, “o que incrementa consideravelmente os custos para atletas e comités olímpicos, tornando-se mesmo insuportável para os mais pobres”, evidenciou ainda.

As mesmas preocupações foram expressadas pelos restantes membros do painel, com o diretor executivo do Comité Olímpico da Irlanda a destacar que a maioria das modalidades introduzidas no programa de Los Angeles2028 tem “muito pouca representatividade” no seu país.

“É importante que os Jogos continuem a evoluir, mas isso coloca-nos mais desafios”, assumiu Peter Sherrard, lembrando que todos os comités olímpicos lidam com recursos finitos e, por isso, têm de priorizar.

Apesar de em Paris2024 a Irlanda ter alcançado o melhor resultado da sua história olímpica – foi 19.ª no medalheiro, com sete medalhas, quatro delas de ouro -, Sherrard revelou que o financiamento governamental não apoiou sete das 25 modalidades presentes nos últimos Jogos.

Embora todos os intervenientes tenham admitido que a inclusão de novas modalidades, como o surf, o BMX, o skate ou o basquetebol 3x3 atraiu novos públicos e também mais patrocinadores, a secretária-geral do Comité Olímpico da Nova Zelândia também defendeu que tem de existir um “compromisso” no programa dos Jogos, de modo a tranquilizar os desportistas, que hoje em dia desconhecem a ‘longevidade’ olímpica destes novos desportos.

“O facto de haver modalidades retiradas do programa aumenta a pressão sobre os atletas”, alertou Nicki Nicol, antes de notar a inexistência de segurança e critérios claros nestas permanentes alterações.

Também Joan Smith, secretária-geral do Comité Olímpico da Namíbia, considerou que “a pressão de introduzir novos desportos esgota algumas nações”, nomeadamente as mais pequenas, sem contudo deixar de reconhecer que as novas modalidades introduzidas nas últimas duas edições dos Jogos criaram “estrelas” e ofereceram “uma nova dimensão ao entusiasmo com o desporto”.