A seleção portuguesa de ciclismo de pista atravessa, até aos Mundiais da categoria, em fevereiro, a fase derradeira de apuramento para os Jogos de Tóquio2020, com o otimismo e a concentração a reinarem no seio da equipa.

Depois de um período de estágio e treino no Velódromo Nacional de Sangalhos, com vários pódios nos Troféus Internacionais Bento Pessoa e Alves Barbosa, a formação lusa leva Ivo Oliveira, João Matias, Iuri Leitão e Maria Martins ao Canadá, e à Taça do Mundo, em busca de um desígnio inédito: chegar a uns Jogos Olímpicos.

“É uma seleção, mas é como se fosse uma equipa [de clube, que trabalha todo o ano]. Temos grupos nas redes sociais, fazemos jantares e convívios. Aí está o segredo do nosso sucesso, porque toda a gente sabe que para um país, que está a tentar pela primeira vez o apuramento olímpico, não é fácil ter as maiores condições, financeiras, de material... o sucesso está no companheirismo, na amizade e no compromisso com este objetivo”, resume à agência Lusa João Matias.

O ciclista mais experiente do grupo, com 28 anos, o que faz dele “quase um idoso” perante companheiros mais jovens, não foge do “principal objetivo” que é um apuramento inédito do ciclismo de pista para uns Jogos, mas, para já, está focado nas duas últimas ‘barreiras’ até Tóquio2020.

Primeiro, a equipa encontra-se no Canadá para disputar a etapa da Taça do Mundo de Milton, onde precisa de conquistar pontos para o apuramento para os Mundiais, de 26 de fevereiro a 01 de março em Berlim, no qual fica decidida a qualificação olímpica.

Sob a orientação de Gabriel Mendes, selecionador nacional, Portugal procura o apuramento nas disciplinas olímpicas de omnium e madison, no masculino, e no omnium feminino, assegurando uma presença histórica da pista em Jogos Olímpicos.

Pelo caminho, uma queda deixou Rui Oliveira, parte integrante do grupo, de fora, mas a equipa tem “superado tantos azares que não vai ser este” a deitar por terra o trabalho feito até aqui.

“A esperança está lá sempre. Sempre nos agarrámos aos azares para transformá-los em energia positiva. (...) Temos de lutar, e a verdade é que com a ambição de poder estar nos Jogos... acordamos todos os dias a lembrar-nos disso, e é isso que nos motiva a levantar da cama e a lutar dia a dia”, completa.

Em Milton, João Matias tem a companhia de Ivo Oliveira, irmão de Rui Oliveira, e de Iuri Leitão, enquanto o setor feminino tem sido representado desde o início do ciclo pela jovem Maria Martins, que tem em seu nome os principais feitos do ciclismo feminino.

‘Tata’, como é conhecida, conquistou a primeira medalha do ciclismo feminino português num Europeu, um bronze em scratch, e assume o foco para os Jogos, depois de um período de preparação que “tem estado a correr muito bem até agora, em resultados e progressão”.

“Penso que estamos a seguir um caminho de progressão, isso é o mais importante. Os resultados depois acompanham. Estamos muito confiantes, vamos dar o nosso melhor e depois preparar ao máximo o campeonato do mundo, com o objetivo da qualificação”, afirma.

Não sente, admite, a “responsabilidade” das medalhas para o setor feminino, mas antes “uma razão de orgulho e um motivo para chamar outras atletas jovens”.

“Que vejam como um exemplo, e que saibam que podem chegar onde eu estou, e superar tudo isso e bater recordes. Estou muito satisfeita, cresço muito com o nosso grupo. Os masculinos têm tido um papel fundamental no meu crescimento, devo-lhes muito”, comenta a ciclista de 20 anos.

A correr no WorldTour pela UAE Emirates, na estrada, Ivo Oliveira assume a confiança da seleção e refere a capacidade que “quatro ou cinco atletas” portugueses têm tido em fazer frente a países que “têm 10 atletas a pontuar, com uns a descansar, outros a treinar ou a competir”.

“A pista [em Portugal] só começou a ter resultados há quatro ou cinco anos, ninguém diria que é possível pensar numa qualificação olímpica. (...) Se conseguíssemos, era mesmo mostrar a tanta gente o que fizemos com tão pouco”, refere.

No seio de uma geração a caminho de fazer história está o mais jovem Iuri Leitão, que não consegue “sequer conceber ir aos Jogos”. “Estou focado em ajudá-los a chegar lá. Isso é um objetivo para o futuro”, comentou.