O Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) reduziu para metade o castigo aplicado à Rússia, pelo esquema de doping no país, adianta a agência 'AFP', numa decisão conhecida esta quinta-feira. O país foi excluído por dois anos das principais competições desportivas mundiais, pelo que irá falhar os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021 e ainda o Mundial de Futebol, que se realiza em 2022 no Qatar já que o TAS é o último organismo de recurso.A decisão é metade da sanção proposta pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), que tinha pedido quatros anos de suspensão.A Rússia tinha sido excluída por quatro anos das competições internacionais pela Agência Mundial Antidoping (AMA) em dezembro der 2019, na sequência de um escândalo de doping sistemático no país, agravadas com a descoberta de manipulação de dados.A sanção em causa implicava a exclusão da Rússia da participação, organização ou candidatura a grandes eventos desportivos, incluindo Jogos Olímpicos e Paralímpicos e campeonatos do Mundo.A Rusada esteve suspensa preventivamente e, em setembro de 2018, a AMA impôs um conjunto de condições para que fosse reabilitada, condições essas que não foram cumpridas e, a piorar os factos, foi descoberta nova manipulação de dados. Na génese de longo processo entre as duas entidades está a descoberta de um sistema de dopagem com conhecimento e apoio estatal, tornado público em 2015.

A Agência antidopagem, a Rusada, foi acusada pela Agência Mundial Antidoping de adulteração de ficheiros informáticos do seu laboratório entre 2011 e 2015, com vista a encobrir um programa generalizado de doping naquele país.

Ao todo, a AMA investigou 298 processos de atletas russos, suspeitos de terem beneficiado de doping entre 2011 e 2015. A equipa de investigação da AMA informou através de um comunicado que "forneceu os dossiês detalhados a 28 organizações antidopagem, incluindo 27 federações internacionais e um organismo responsável por grandes manifestações".

Dos 298 dossiers enviados pela AMA, 145 foram afetados pela falsificação de dados, uma manipulação observada pela agência, que em dezembro de 2019 transmitiu ao Comité de Revisão de Conformidade (CRC) que a Agência Antidopagem da Rússia (Rusada) não estava em conformidade com o código mundial de antidopagem, que originou a exclusão da Rússia de grandes eventos desportivos, incluindo os Jogos Olímpicos, por quatro anos.

Conhecida em dezembro de 2019, a decisão da AMA deixava a Rússia de fora dos Jogos Olímpicos de verão em Tóquio (em 2021, adiados de 2020), dos Jogos Olímpicos de inverno de Pequim (2022) e ainda do Mundial de futebol do Qatar (2022).

Sendo assim, só atletas da Rússia que possam comprovar que estão limpos de qualquer prática de dopagem poderão competir sob bandeira neutra, como decisão sem precedentes de um litígio em curso desde há vários anos, que envolve até o ministério do Desporto daquele país.

Grigory Rodchenkov, que se refugiou nos Estados Unidos após ter sido forçado a demitir-se da Rusada, confessou em 2016 ter orquestrado um esquema de manipulação e ocultação de provas quanto a práticas de dopagem, um sistema colocado em ação nos Jogos de Inverno Sochi2014.

O antigo chefe do laboratório antidopagem de Moscovo que denunciou o ‘escândalo’ na Rússia considera que os atletas russos deverão ser todos proibidos de participar nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados para 2021 devido à pandemia de COVID-19

Em entrevista recente à BBC, Rodchenkov afirmou que a decisão da Agência Mundial Antidopagem (AMA) de excluir a Rússia de Jogos Olímpicos e competições Mundiais, deve ser total e sem exceções.

"Deve ser uma proibição total e sem exceções", afirmou Rodchenkov, o principal denunciante do esquema de doping organizado, que em finais de 2015 foi forçado a abandonar o cargo no laboratório e que se refugiou nos Estados Unidos, (sob nova identidade) de onde continuou a lançar acusações contra as autoridades russas.

Rússia defende-se com... motivações políticas

O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu que a decisão da Agência Mundial Antidopagem (AMA) tem uma "motivação política".

"Qualquer punição deve ser individual e não coletiva", defendeu o chefe de Estado russo, dizendo acreditar que a sanção à Rússia se explica "não pela preocupação de ter um desporto limpo", mas sim por "uma motivação política".

Para Vladimir Putin, a decisão da AMA “contraria a Carta Olímpica”, o documento estruturante do Movimento Olímpico e da organização dos Jogos Olímpicos.

"Não há qualquer repreensão a fazer ao Comité Olímpico russo, e se não há nenhuma repreensão a este comité, então o país deve poder participar nas competições sob a sua bandeira nacional", declarou.