O candidato ao Comité Olímpico de Portugal (COP) Jorge Vieira questionou hoje o papel do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) após o investimento do Governo de 65 milhões de euros para o Desporto para 2024-2028.

Numa resposta escrita enviada à Lusa sobre o contrato-programa, em que criticou o valor baixo das verbas e a forma como serão aplicadas nos próximos quatro anos, Vieira alerta para “alterações significativas com esta operação” na relação entre IPDJ e os comités olímpico e paralímpico, bem como federações e outras entidades, como autarquias.

“Custa a entender, talvez pelo ineditismo, qual é o papel do IPDJ no processo, qual a capacidade administrativa e técnica dos comités para gerirem este processo ao longo de quatro anos, em domínios para os quais não estão, até hoje, nem preparados, nem vocacionados. Num primeiro relance, parece antecipar-se uma intenção, ainda não expressa, de proceder a uma alteração radical da administração pública do desporto”, declarou o antigo presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA).

O papel do IPDJ é problematizado por Jorge Vieira, que não entende o enquadramento da iniciativa “no futuro programa estratégico de desenvolvimento de longo prazo para o desporto português”, parecendo-lhe que “as ações táticas se anteciparam à estratégia”.

O valor, disse ainda o candidato à presidência do COP, é baixo para os objetivos propalados, sobretudo quando comparado com as medidas que visaram alavancar outros setores em défice.

“Sem desvalorizar, como já afirmado anteriormente, as medidas apresentadas e o dinheiro agora ‘oferecido’, não podemos deixar de lamentar o montante do financiamento. O desporto tem acumulado mais de um século de subfinanciamento. Este défice histórico não se corrige com um investimento de 65 milhões de euros para quatro anos. Medidas semelhantes aplicadas noutros setores contaram com montantes muito mais expressivos”, apontou.

Na terça-feira, deu-se o anúncio do investimento de 65 milhões de euros (ME) adicionais no desporto entre 2024 e 2028, efetuado pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, responsável pela tutela do Desporto, com contrato-programa assinado na sede do COP.

Além do valor em si, a “pulverização” deste ‘bolo’ financeiro “por cinco medidas distintas e 14 programas, ao longo de quatro anos, é de discutível eficácia” se o objetivo “é alcançar mudanças estruturais no desporto”.

“Julgamos que a alteração de estruturas organizacionais do desporto não é possível nem com este montante de financiamento, nem com a evidente pulverização dos recursos em tantas medidas e programas. Uma significativa parte dos recursos financeiros deverão, sem dúvida, ser aplicados na própria gestão dos processos”, pode ler-se na resposta de Vieira.

Assim, considera ser urgente “refletir sobre o modelo de financiamento do desporto português”, não antecipando “um novo desporto como resultado desta decisão política”, cuja natureza ainda deixa “muito por compreender”.

“É, também, preocupante o lançamento desta iniciativa, que contém tantas implicações para o funcionamento do COP e do Comité Paralímpico de Portugal em pleno processo eleitoral. O contrato-programa agora assinado transforma completamente o campo de ação dos comités e a sua disponibilidade financeira, pelo menos durante quatro anos”, avalia.

Entre as “reflexões” de Jorge Vieira está também a divisão deste valor, de dotação “extraordinária e excecional”, e a sua centralização nos comités, sem verbas entregues “às federações para financiamento operacional”, com 76,3% do valor destinado ao COP e 23,7% ao desporto paralímpico.

Sobre a candidatura do presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, ao COP, hoje anunciada, Jorge Vieira diz que está completamente fora de questão desistir, indo até ao fim com o desígnio de ganhar as eleições.

Fernando Gomes é o quinto candidato anunciado à presidência do COP, juntando-se ao ainda secretário-geral José Manuel Araújo, a Jorge Vieira, antigo presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, e a Laurentino Dias e Alexandre Mestre, antigos secretários de Estado do Desporto.

As eleições dos Órgãos Sociais do Comité Olímpico de Portugal (COP) para o mandato 2025-2029 estão marcadas para 19 de março de 2025.