Várias dirigentes desportivas de vários países e modalidades defenderam hoje a necessidade de “vontade política” para aumentar o número de mulheres em cargos de liderança no desporto, além das quotas e da cooperação entre organizações.

Como parte do Conselho Geral da World Rugby, Yvonne Nolan colocou ênfase nos “caminhos até à liderança”, em instituições em que, por norma, todos os oficiais eleitos são homens, reforçando o papel das quotas.

“Introduziu-se um lugar extra no Conselho, desde que as federações nomeassem uma mulher. Foi um aumento de quase 40% da noite para o dia. Teve um efeito transformativo. [...] Se vires uma mulher em cargo de liderança numa organização, é mais fácil imaginar isso a acontecer mais vezes”, resumiu.

Nolan falou numa conferência sobre liderança feminina no desporto, inserida na Sport Integrity Week, evento da SIGA que, ao todo, conta com apenas cerca de 30% de palestrantes mulheres, e incluiu a professora universitária Mary Davis, chamada a falar sobre a ligação entre moda e desporto, bem como uma representante de uma empresa de vestuário desportivo.

A neerlandesa Emine Bozkurt, antiga eurodeputada, entre 2004 e 2014, reforçou a necessidade de “investimento, políticas” no caso de “se querer mesmo mudança”, mas defendeu que, acima de tudo, “é preciso vontade política e é preciso insistir”.

“A cooperação entre organizações e associações é fundamental para manter o tema na agenda. [...] Como eurodeputada, liderei a Comissão das Relações com a América Central, e fazia questão de colocar sempre o desporto e a igualdade de género na agenda”, contou.

O evento, em que a SIGA assinou um protocolo com a entidade pela igualdade de género das Nações Unidas, incluiu ainda um testemunho, em vídeo, da secretária-geral da Federação Equestre Internacional, Sabrina Ibañez, também presidente da Associação de Organizações Paralímpicas.

“O desporto ainda tem muito a percorrer até termos igualdade de género. [...] É tempo de agir, para que não passemos a próxima década a discutir as mesmas coisas outra e outra vez. Até as mudanças mais pequenas podem ajudar a quebrar o ciclo de desigualdade de género”, atirou.

Pela Liga norte-americana feminina de futebol, a comissária Jessica Berman notou a forma como a desigualdade aumenta “vozes internas de dúvida, a ‘síndrome de impostor’, guiado pelas expectativas da sociedade”.

“Não entendo porque é que o sucesso do desporto no feminino tem sido comparado com ligas masculinas que duram há décadas. A nossa Liga está na sua 10.ª época, e o seu sucesso tem de ser medido em função do sucesso próprio, porque é assim que avaliam campeonatos masculinos”, criticou.