Com o dia internacional da mulher a ser celebrado nesta quinta-feira, dia 8 de março, também no desporto, o direito à igualdade de oportunidades tem sido uma das principais lutas do género. Os desafios e os obstáculos para o sexo feminino ainda são realidades difíceis de esbater. Mas há progressos.

Os lobbies e as razões políticas levam as mulheres a serem arredadas da luta pelo direito a praticar qualquer tipo de modalidade desportiva. São vários os obstáculos que as tentam desviar do sonho: A desigualdade nas oportunidades, o assédio moral e sexual, a diferença nos prémios monetários, entre outros.

Há mulheres que faturam milhões, mas ficam muito aquém dos homens

As lendas do desporto feminino conseguem faturar milhões, mas ainda assim ficam a 'léguas' dos homens.

Serena Williams, ténis
Serena Williams em ação. Créditos: Elsa/Getty Images/AFP créditos: 2018 Getty Images

Consultando a lista da Forbes dos 100 desportistas mais bem pagos do mundo, a primeira e única mulher presente no ranking é a tenista Serena Williams (ocupa a posição 51) , por muitos considerada o grande ícone do desporto feminino. Aos 34 anos, a mais nova das irmãs William já venceu 72 títulos ao longo da carreira. São 783 vitórias, contra apenas 132 derrotas. Números impressionantes para a norte-americana, que regressa aos courts já no presente mês, para disputar o torneio de Indian Wells, depois de ter sido mãe de uma menina, em setembro.

Serena Williams é a única mulher presente na lista dos atletas mais bem pagos do mundo da revista Forbes

A mais nova das irmãs Williams obteve em 2017, ganhos no valor de 21 milhões de euros entre participações em torneios e patrocínios. Ainda assim, há uma montanha que a separa do líder do ranking, Cristiano Ronaldo. O jogador português chegou quase aos 75 milhões de euros/ano.

Contudo, é também no ténis, que se começaram a dar passos de gigante em matéria da igualdade. No Open da Austrália e no Open dos EUA, mulheres e homens têm exactamente os mesmos prémios monetários. É no desporto das raquetes que as mulheres mais facilmente o estatuto do super estrelas.

De acordo com o ranking das Forbes, oito das desportistas mais bem pagas do mundo vêm do ténis: Angelique Kerber, Serena Williams, Venus Williams, Garbine Muguruza, Caroline Wozniacki, Agnieszka Radwanska, Eugenie Bouchard e a atual número um mundial
Simona Halep. As exceções são a piloto Danica Patrick e a lutadora de UFC, Ronda Rousey.

Mulher como piloto de testes na Fórmula 1

Pouco a pouco, muitas barreiras têm sido esbatidas. E os exemplos começam a ser dados em desportos que praticamente vedados a mulheres. Na Fórmula 1, começa-se a abrir a porta. A Sauber anunciou como piloto de testes da Alfa Romeo Sauber, a colombiana Tatiana Calderón, de 24 anos.

Futebol Feminino em Portugal

Seleção feminina festeja depois do triunfo frente à Noruega na Algarve Cup
Seleção feminina festeja depois do triunfo frente à Noruega na Algarve Cup. Créditos: FPF

Por cá, o crescimento progressivo na aposta nas modalidades tem-se refletido também no feminino. Em 2017, Portugal deu cartas nas modalidades, com Joana Schenker e Inês Henriques, a conquistarem títulos mundiais, no bodyboard e na marcha.

Recorde o vídeo da Revista do Ano do SAPO Desporto que fez o resumo das conquistas nas modalidades

A nível coletivo, a seleção feminina de futebol tem vindo a encher de orgulho o desporto português. A evolução e o investimento na modalidade Portugal tem dado frutos. O auge de todo o trabalho desenvolvido teve o seu culminar em 2017, com a presença de Portugal, pela primeira vez, no Campeonato da Europa de futebol feminino.

Já nesta quarta-feira, dia 7 de março, a equipa portuguesa assegurou a melhor participação de sempre na Algarve Cup, depois de vencer a Austrália por 3-1 e assegurar o terceiro lugar do torneio.

Portugal vence Austrália e chega ao pódio da Algarve Cup
Portugal vence Austrália e chega ao pódio da Algarve Cup
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Joana Schenker, a campeã do Mundo de bodyboard

Preocupa-me mais a desigualdade entre homens e animais, do que entre homens e mulheres

Joana Schenker sagrou-se, em outubro, campeã do mundo de bodyboard. Amante de grandes causas, confessa estar profundamente dedicada à proteção dos animais e sente que todo o esforço, que resultou no título alcançado na Praia do Norte, na Nazaré, valeu a pena.

Joana Schenker apanhou aos 30 anos a onda de uma vida
Joana Schenker apanhou aos 30 anos a onda de uma vida

SAPO Desporto: Já se passaram alguns meses depois do teu título mundial. Achas que estás a ter o reconhecimento merecido?

Joana Schenker: "Não me posso queixar minimamente, tenho tido muita exposição. Há muitas pessoas a ligar-me e muitas portas se abriram. Não me sinto negligenciada".

Joana Schenker: "Há muitas pessoas a ligar-me e muitas portas se abriram"

SD: Fora e dentro do desporto sentiste-te alguma vez descriminada por seres mulher?

JS: "Queremos sempre que as coisas sejam iguais para homens e mulheres. Mas os apoios e as oportunidades não são os mesmos. Mas são as dificuldades que também nos tornam mais fortes. As mulheres têm que lutar".

SD: No mar há essa diferença?

JS: "Às vezes sinto que quando estou a surfar nos picos de homens, eles não querem que eu esteja lá por ser mulher. Mas isso também pode ser porque estamos fora do nosso habitat, por remarmos mais lento e não sermos tão agressivas".

SD: Uma mulher que seja para ti uma referência, no desporto ou na vida?

JS: A Jane Morris Goodall (antropóloga britânica  considerada a maior especialista mundial em chimpanzés).  Foi para África estudar os chimpanzés e tornou-se uma grande defensora dos animais. É uma das pessoas mais ativas na proteção da natureza. Preocupa-me mais a desigualdade entre homens e animais, do que entre homens e mulheres".

"Às vezes, sinto que quando estou a surfar nos picos de homens, eles não querem que eu esteja lá por ser mulher"

Inês Henriques, a campeã e recordista mundial nos 50 km marcha

13/07/17 - Inês Henriques sagrou-se campeã mundial e recordista mundial nos 50 quilómetros marcha em Londres. Proeza inédita, pois foi a primeira vez que que se realizou essa distância em Mundiais na vertente feminina.

Nada foi por acaso. Esta expressão acaba por ter mais força no exemplo da atleta de 37 anos. Com provas dadas na marcha, o desafio passou por provar que era possível resistir, numa distância que muitos julgavam ser à medida do físico dos homens.

Inês Henriques recebeu o prémio de atleta feminina do ano na Gala do Desporto
Inês Henriques recebeu o prémio de atleta feminina do ano na Gala do Desporto. créditos: AFP/Lusa

"Eu quando em janeiro [de 2017]  fiz a distância a primeira vez, já tinha a perspetiva de fazer um feito histórico. Foi uma luta muito grande, porque sabia que o impacto seria muito grande em Londres. Fiquei muito satisfeita quando recebi o email do advogado norte-americano que me avisou nos íamos ter uma prova de 50 km só para nós [mulheres]. Quando os mínimos de quatro horas e 30 minutos foram estabelecidos, essa foi a principal vitória para as mulheres".

A vontade em correr a distância e de dar lugar à novas gerações colocou os 50 km marcha no topo das prioridades da atleta do CN Rio Maior e essa foi a sua grande luta.

"Acho que não houve pressão das mulheres para fazerem os 50 km. Essa foi a minha grande luta"

"Há muitos anos que os homens corriam os 50 km e as mulheres os 20. Os 20 km para mulheres só começaram em 1999. Acho que não houve pressão das mulheres  para fazerem os 50 km. 50 km, é muito. Para homens e mulheres, sublinhou. Tinha que haver igualdade e tínhamos que ter essas duas provas [20km e 50km]. Essa foi a minha grande luta".

Para além dos treinos, Inês Henriques tem-se batido pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Já muitas lutas foram ganhas: O valor pago a homens e mulheres passou a ser o mesmo. Mesmo assim, há interesses instalados. A realização da prova dos 50 km marcha no maior acontecimento desportivo mundial vai ser uma batalha difícil de vencer.

Inês Henriques: "Nos Jogos Olímpicos, em vez de quererem colocar as mulheres nos 50 kms marcha, preferem tirar os homens"

"Na marcha queriam dar valores diferentes a homens e mulheres e nós interferimos. Na marcha nunca cedemos", admitiu. Mas nunca senti essa diferença de tratamento - Mulheres e homens sempre foram iguais - Só senti nesse aspecto dos 50 quilómetros (kms). Ainda não temos garantias que vamos estar nos Jogos Olímpicos. O atletismo está em grande mudança, mas ainda há diferença de géneros. Em vez de colocarem as mulheres na prova dos 50 kms, preferem tirar os homens. Eu acredito que nos Jogos Olímpicos vamos ter os 50 kms femininos, mas a questão da diferença mexe muito. Eu quero lá estar. Se não houver 50, faço os 20. Quero estar na luta pela medalha olímpica e isso é algo fantástico".

Inês Henriques nunca sentiu inferiorizada em relação aos homens. A educação em casa teve um papel fundamental.

"Tudo partiu da nossa educação. A minha mãe ensinou-me a não me deixar inferiorizar pelo facto de sermos mulheres. Ídolo no desporto? Susana Feitor. Tive o privilegio de treinar com ela desde miúda e é a minha grande referência.

O desportos duros não assustam as meninas

Desengane-se quem julga que, num desporto duro como o râguebi, as mulheres estão impedidas de sonhar. Ana Costa, sub-16 do Ubuntu Raguebi, clube da linha de Sintra, é presença assídua na seleção nacional. Foi capitã numa equipa de rapazes e não se intimida por treinar com elementos do sexo oposto. Muito pelo contrário.

Veja o vídeo

"Abrimos as captações para raparigas. Há sempre respeito por elas no que ao contacto diz respeito, mas engraçadamente, não é preciso. Elas são extremamente corajosas, vão com tudo a placagem, e em termos de técnica, de leitura tática de jogo, elas muitas vezes superam os rapazes. Eles focam mais na agressividade, elas mais na leitura de jogo. Temos por exemplo uma jogadora que está a fazer um estágio na seleção masculina, que era a capitã da nossa equipa de sub-16 que era mista. Era uma líder", explicou Luís Maria Andrada, presidente do clube, do Ubuntu Râguebi numa recente reportagem ao SAPO Desporto.

O assédio sexual, um dos assuntos do ano também no desporto

Hope Solo, guarda-redes norte-americana
Hope Solo, guarda-redes norte-americana créditos: 2017 Getty Images

Foi um dos temas do ano e o grito de revolta das mulheres que abraçaram o movimento "Me too". Recentemente a guardiã norte-americana Hope Solo denunciou a situação. A jogadora de 35 anos revelou que o antigo presidente da FIFA, Sepp Blaterr, a "apalpou". O incidente teve lugar quando Hope Solo e o antigo dirigente esperavam para subir ao palco para entregarem o prémio de jogadora feminina do ano, à americana Abby Wambach.

Em declarações ao jornal Expresso, durante a última Web Summit, a guardiã referiu que o assédio no desporto é uma prática recorrente e não se tratou de uma episódio isolado.

"É algo que se vulgarizou. Assisti a isso ao longo de toda a minha carreira e gostava que mais atletas partilhassem as suas experiências. É algo que está descontrolado e não apenas em Hollywood. (...) Durante anos, vi jogadoras que namoravam e acabaram por casar com os seus treinadores da universidade, algo que, obviamente, um treinador não devia fazer, sobretudo com futebolistas tão jovens. Vi situações com os médicos, com os assessores de imprensa, entre jogadoras no balneário".

O dia internacional da mulher comemora-se nesta quinta-feira.

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