O antigo selecionador português Fernando Santos concedeu recentemente uma entrevista ao diário desportivo 'A Bola' onde abordou vários temas relativos à sua passagem pela equipa das quinas. Um dos mais polémicos diz respeito ao contrato que o treinador assinou com a Federação Portuguesa de Futebol e que levantou suspeitas de evasão fiscal.

Fernando Santos revela que a ideia de fazer um contrato, não com o próprio, mas com uma empresa (Femacosa) partiu da própria FPF. O técnico lamenta a posição tomada por Fernando Gomes e sublinha que não deve nada às finanças.

Quem lhe explicou o contrato?:"O presidente e os advogados que estavam com ele. Então diz-me: ‘Nós não queremos fazer um contrato contigo pessoalmente, queremos fazer um contrato com uma empresa.’ Eu não estava a perceber. Tinha 35 anos de treinador e até aquele dia sempre tinha feito contratos de trabalho a termo. Todos os meus contratos de trabalho, com clubes e nas seleções, foram a termo. Até àquele dia. Explicaram-me as razões…"

Quais as razões?: "Tinham tido problemas com equipas técnicas anteriores. Não me disseram que tinha sido com o Paulo Bento. Disseram-me que tinha acontecido com os adjuntos, porque depois, quando saiu, os adjuntos não queriam sair e alguns tinham de ficar na Federação… Não me apresentaram outro contrato. Só me apresentaram este tipo de contrato. Era como se fosse uma empreitada. Um contrato com uma empresa e depois essa empresa contrata os assistentes, porque nem assistentes eles iam contratar. Mas, atenção, o que me propuseram foi um contrato de prestação de serviços entre a Federação Portuguesa de Futebol e uma empresa. Essa foi a única coisa que me foi proposta. Liguei aos meus advogados a dizer-lhes o que me estavam a propor e que era preciso criar uma empresa. Eles disseram-me que não era, pois eu tinha criado uma empresa no dia 9 de janeiro de 2014, nove meses antes daquela conversa"

Quais os objetivos dessa empresa?: "Investir em Portugal. Eu era residente fiscal na Grécia e recebi uma proposta de uma empresa de brindes. Comprei 15% dessa empresa e em março de 2014 passei a ser administrador. Quando dizem que eu criei uma empresa para representar a Federação isso é mentira. Sabe a Federação, sabe a Autoridade Tributária, sabem todos. Eu tinha confiança absoluta no que o presidente me disse. Sinceramente: da mesma maneira que não discuti dinheiro também não ia discutir aquilo. Queria muito ser selecionador nacional, portanto estavam reunidas todas as condições. A única coisa que eu sabia que tinha de fazer a seguir era falar com os meus adjuntos, o Ricardo, o João Carlos e o Justino, e dizer-lhes que o único contrato que me tinha sido proposto era aquele. Portanto, se quisessem trabalhar comigo tinham de trabalhar para Femacosa e não para a Federação. Foi a primeira vez que isto me aconteceu. Eu nunca tive contrato com a Federação. Havia um contrato de prestação de serviços entre a Federação Portuguesa de Futebol e a Femacosa. O que eu estou a dizer já foi dito pelo doutor Fernando Gomes quando foi ouvido no caso. Exatamente aquilo que eu estou a dizer. E disse mais: disse que eu estava numa situação muito frágil porque tinha oito jogos de castigo. Fernando Gomes disse isso e está escrito"

Tal foi dito publicamente?: Não foi e isso deixa-me triste. Realmente, isso deixa-me triste porque todos sabem que esta é a verdade. Minha e dos adjuntos de que falei. O que me importa, no fundo, é o que fizemos ao longo daqueles oito anos. Eu tinha um plano claro, que era uma equipa que ganhasse mesmo e depois consolidar esse caminho de vitória, apostando muito naquilo que era o trabalho feito pela formação. Nós lançámos 52 jogadores da nossa formação. Não nos podem tirar esse mérito. Tenho dificuldade em ficar zangado com Fernando Gomes, por aquilo que é a relação pessoal que sempre tivemos e porque profissionalmente só tenho que dizer bem. Enquanto estive na Federação fui apoiado a 200 por cento em todas as minhas decisões. Agora, neste caso exclusivo, fiquei muito triste, porque acho que era o mínimo. Uma coisa é fazerem-se comunicados, outra é dizê-lo publicamente"

Fuga ao fisco: "Quando quiserem ver os meus contratos eu estou disponível. Não tenho nada a esconder. E se quiserem ver os outros desde o Estoril também. Sinceramente, estou de consciência completamente tranquila. Nunca falhei com um tostão ao fisco. Nunca. Não devo nada ao fisco.  Na altura em que foi preciso pagar, pagou-se"