Fernando Santos concedeu uma entrevista ao site Goal.com onde fala sobre a participação de Portugal no Campeonato do Mundo deste ano na Rússia, onde chega com o estatuto de campeão europeu. O técnico considera que a equipa lusa não é favorita à vitória, mas garante que os jogadores vão ter ambição e entrar em todos os jogos para ganhar.

"Para mim, os favoritos ao título são o Brasil, a Alemanha, a Espanha, a Argentina e a França. Digo isso pela enorme base de recrutamento e pela extraordinária qualidade das suas seleções, aliada ainda à experiência que têm nestes grandes palcos e ganhar", começou por dizer Fernando Santos.

"Sabemos que não somos favoritos e aceitamos o favoritismo das outras equipas, mas isso não quer dizer que não tenhamos ambição e o objetivo claro de entrarmos em cada jogo para ganhar (...) Somos um grupo muito forte, coeso. Somos humildes, mas sabemos que temos qualidade. Não temos a intenção de pensar que somos melhores que todos os outros, mas acreditamos muito no nosso valor e também sabemos que é difícil nos vencerem", acrescentou.

Um dos temas da conversa foi também a lesão de Danilo, que foi operado e falha a participação nesta competição. O selecionador lamentou a ausência do médio, mas disse que tem de estar preparado para os imprevistos.

"Não tenho medos ou fobias. Tenho é que estar preparado para resolver os imprevistos que a vida nos traz. Por exemplo, acabamos de perder, infelizmente, o Danilo, que considerávamos fundamental para o Mundial, não só pela sua qualidade individual e coletiva, mas também nas opções que nos dava para estruturarmos de forma diferente a escolha dos 23 jogadores convocados", afirmou Fernando Santos.

Fernando Santos destacou ainda da importância que Cristiano Ronaldo tem no grupo de trabalho, funcionando como elemento motivador do restante grupo.

"O Cristiano é fundamental em qualquer equipa onde esteja. Isso já era dito no Manchester United e agora é dito no Real Madrid, e estamos a falar de duas das melhores equipas do mundo. É claro que o melhor jogador do mundo é um elemento absolutamente fundamental em qualquer estratégia das equipas onde esteja, mas todos sabemos que para ganhar temos que ter uma equipa e jogar como equipa. Aliás, ele tem demonstrado esse compromisso, esse espírito de sacrifício e entrega, e os colegas sentem-se ainda mais motivados pelo exemplo dele", assegurou o técnico de 63 anos, acrescentando:

"O Cristiano está em excelente forma e espero que assim continue até e durante a competição na Rússia."

Rejuvenescimento da seleção nacional e as polémicas do futebol português

Nesta entrevista, o selecionador nacional falou sobre o grandes crescimento registado nas seleções mais jovens e recusou a ideia de que é preciso uma "renovação urgente".

"As coisas no futebol não funcionam assim, não se substituem dez ou 11 jogadores de um grupo só porque sim, esperando que os jovens assumam e façam tudo bem", começa por referir Fernando Santos.

"A seleção atravessa agora uma fase de rejuvenescimento e isso tem um preço. O nosso grupo atual é menos experiente do que o grupo do Euro de 2016, quando tivemos uma equipa fantástica. Agora é preciso dar tempo aos jogadores jovens que estão chegando para se afirmarem. Como estamos a ver, isso nem sempre é fácil, a começar pelos clubes onde jogam. Não deixo de ter exigência máxima, mas não posso pedir o mundo aos jovens que começam agora o seu percurso nos grandes palcos", garantiu o técnico português.

Questionado sobre as polémicas que têm abalado o futebol português, Fernando Santos optou por não abordar o assunto: "Como treinador da seleção portuguesa, compete-me analisar os jogadores e essencialmente o que se passa dentro do campo. Sei que temos pessoas muito capazes para cuidar das outras questões. Posso testemunhar isso de perto ao trabalhar ao lado dos dirigentes da FPF (Federação Portuguesa de Futebol), que são um exemplo e uma referência a nível nacional e internacional. Importante também é o desenvolvimento na formação de jogadores e treinadores, o crescimento de jogadores federados, a evolução do futebol feminino, do futsal. Estes são aspetos dos quais nos devemos orgulhar, fruto do trabalho que é realizado no nosso país."

O vício de fumar e o horário de treino na Grécia

Num tom mais descontraído, Fernando Santos foi questionado sobre sobre o número de cigarros que desejava fumar quando viu Cristiano Ronaldo sair lesionado sair na final do Europeu 2016 com a França.

"Nem tive tempo para pensar nisso. O meu único foco era montar um sistema sem o Cristiano que nos mantivesse equilibrados e com hipóteses de criar dificuldades ao adversário", afirmou o técnico.

Fernando Santos viu ainda ser-lhe lançado um desafio: deixava de fumar caso conquistasse o Campeonato do Mundo? "Para já, reduzi muito o número de cigarros que fumo [risos]. Ao contrário do que se possa pensar, não sou de fazer promessas, muito menos no campo desportivo. Sei que o que se faz no campo depende essencialmente da estratégia, do plano, do que se treina e da forma como se trabalha", salientou.

"Acho que tudo o que for vício não deve ser positivo. Acredito que devemos e podemos fazer as coisas na medida ideal, com equilíbrio. Mas se existe algo que possa chamar de vício... Tenho pelo menos mais um.... Tenho o vício de ganhar. Sei que não podemos ganhar sempre, mas só penso em ganhar e trabalho muito para que as minhas equipas ganhem", acrescentou o selecionador nacional.

Fernando Santos falou ainda do um episódio caricato que viveu quando chegou pela primeira vez à Grécia para treinar o AEK de Atenas. O treinador de 63 tentou implementar um novo horário de treino, mas a ideia não recolheu o agrado dos jogadores.

"De facto, umas das coisas de que gosto muito é de estar com os meus amigos, de contar e ouvir histórias engraçadas. De passar bons momentos. Há tantas histórias engraçadas que é difícil escolher uma... Quando cheguei à Grécia, sem conhecer bem a cultura e os hábitos do país, preparei os treinos para serem feitos pela manhã, uma vez que os estudos e a prática apontam para as vantagens de treinar de manhã. Escrevi num quadro que havia no balneário o novo horário do treino: 8h00. Na Grécia, isso não era nada habitual e os capitães da equipa vieram falar comigo para explicar que havia muito trânsito naquela hora e que seria complicado chegar naquele horário ao treino.... Eu ouvi e fui ao quadro riscar o "8h00". Escrevi, então, "7h00", dizendo que não havia trânsito, com certeza. Claro que todos me pediram para marcar para 8h00 que logo dariam um jeito...", atirou Fernando Santos.