Rui Társio, avançado angolano de 23 anos, tem evoluido de forma notável no futebol português, anseando a concretização do "objectivo supremo": jogar pela selecção do seu país.

O avançado assume-se como apaixonado do desporto “rei”. “Está-me no sangue”, afirma, numa entrevista concedida este domingo à Angop, via WhatsApp, em que considera que o desejo de jogar pelos “Palancas Negras” deve concretizar-se pelo trabalho.

Por enquanto, sublinha, o objectivo é evoluir, perspectivando para a época 2020/21 a subida da I Divisão Distrital de Setúbal, onde representa o Alcochetense, para o Campeonato de Portugal, a terceira maior prova lusa depois das 2ª e I Ligas.

Há cinco anos no país europeu, o atleta, que usa preferencialmente o pé direito, realizou a sua melhor época desportiva na formação Alcochetense na última edição, onde contribuiu com 13 golos, que permitiram ao clube colocar-se na 2ª posição na Distrital de Setúbal.

Rui Társio conta, na entrevista à Angop, que liderou a lista de melhores marcadores até quase ao final da prova, mas foi ultrapassado por Mário Madeira (Vasco da Gama de Sines – 15 golos) e por Bruninho (Oriental Dragon – 16).

Salienta que na primeira época (2018/19) no Alcochetense marcou apenas cinco tentos, devido a algumas  lesões, mas na segunda (2019/20) deu-se a explosão e quase se sagrou o artilheiro da prova.

“Foram no total 19 golos marcados, (sendo)13 na Distrital, dois na Taça de Portugal e quatro na Taça de Setúbal”, explica o jogador, que, recentemente, se vinculou ao empresário desportivo César Barbieri, brasileiro que representa a empresa “Ello Sports”.

Refere, sem citar nomes, ter recebido convites de alguns clubes para evoluir no Campeonato Nacional de seniores, estando ainda a avaliar cada proposta para decidir pelo melhor projecto de desenvolvimento.

O angolano considera o futebol uma arte, revelando que encontra inspiração em jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo “O Fenómeno”, Neymar (todos brasileiros) e Quaresma (português).

“Sempre gostei do Ronaldinho e do Ronaldo ‘O Fenómeno’. Para mim, foram os tipos de jogadores que toda criança imitava. O (Ricardo) Quaresma também me inspirou, mas, actualmente, Neymar é a minha principal referência”, ressalta o atacante.

Nascido a 7 de Abril de 1997, em Luanda, Rui Társio emigrou para Portugal, por motivação familiar, segundo ele próprio disse.

Objectivo de jogar pela Selecção de Angola

O goleador diz que, como todo o jogador, tem como “sonho” representar as selecções nacionais, mas “não faz disto prioridade”, sendo que tudo dependerá do seu trabalho e da avaliação da Federação Angolana de Futebol.

Focado no seu objectivo de evoluir, afirma não ter ainda qualquer contacto com o órgão reitor do futebol angolano e acrescenta que continuará a empenhar-se para que surjam convites.

Sobre a selecção de honra, é de opinião que existem bons jogadores a evoluírem dentro e fora do país, sobretudo valores individuais, mas que por vezes falta o colectivo.

Rui Társio entende que o colectivo faz as equipas e defende maior aposta nesse aspecto, nem sempre tão bem acautelado, citando como exemplo a última participação de Angola no Campeonato Africano das Nações, decorrido em 2019, considerada um fracasso pela crítica desportiva.

Na sua óptica, olhando para nomes como Gelson Dala, Wilson Eduardo, Bastos Quissanga, Geraldo e Ary Papel, Angola fez a diferença em termos individuais na prova africana, mas o conjunto não funcionou por conta de aspectos que diz desconhecer.

Falta marketing ao “Girabola”

O futebolista advoga uma maior divulgação internacional do Campeonato Nacional de Futebol da I Divisão “Girabola”, além de acções de marketing que fariam da prova mais conhecida e dos jogadores com mais mercado externo.

Realça não perceber porque é que até em Portugal, considerado a primeira opção na Europa para angolanos que queiram evoluir no exterior, a prova angolana mais importante não é vista nas televisões.

Para o interlocutor da Angop, este facto fecha portas aos empresários desportivos, que não têm a possibilidade de seguir a nata de jovens jogadores angolanos, boa parte deles promissores.

Refere que executantes como Carlinhos, Ary Papel e outros são exemplos da boa formação que se faz em Angola, que dispõe de academias de qualidade, com infraestruturas desportivas iguais ou melhores do que de certos países.

Rui Tárcio reconhece que, apesar de só acompanhar pelas plataformas digitais, a academia do 1º de Agosto é comparada a muitas da Europa, daí não se estranhar que tenha colocado no mercado internacional atletas com qualidades como as de Gelson Dala.

“Sinto uma crescente desvalorização do Girabola vinda mesmo de Angola, porque sem divulgação e marketing os jogadores não são valorizados”, alerta o futebolista, para quem a passagem do brasileiro Rivaldo por Angola, concretamente pelo Kabuscorp do Palanca, devia ser melhor maximizada, por ter sido um dos melhores jogadores do mundo.

Observa que muitos países não tiveram o privilégio de ter em seus campeonatos referências de tamanho calibre, motivo suficiente para que a prova merecesse e mereça melhor visibilidade, já que o Rivaldo atrai público e olhares de dirigentes e agentes.

“O Rivaldo, por tudo o que representou e ainda representa para o futebol mundial, tinha de ser uma porta aberta ao mundo para o Girabola. Não tendo acontecido isto, espero ao menos que tenha passado a sua vasta experiência aos jogadores e dirigentes”, conclui a entrevista.