O FC Porto encara com superioridade teórica o ‘clássico’ da quarta jornada da I Liga de futebol, diante de um Sporting “em reconstrução e com limitações” devido à contenção financeira, vincou hoje o treinador Domingos Paciência.

“Atribuo algum favoritismo ao FC Porto, em função de ser o campeão nacional e ter feito dois bons jogos com Sporting de Braga (3-1) e Boavista (5-0), que dizem muito do seu poderio. Contudo, sabemos que esse favoritismo por vezes não é a realidade do jogo e o Sporting também pode criar obstáculos a jogar em casa”, analisou à Lusa o técnico.

Os ‘dragões’ chegam a Alvalade duas semanas depois de terem deixado fugir o Benfica na liderança do campeonato, quando perderam na receção ao Marítimo (3-2), antes do interregno para os compromissos das seleções nacionais e de uma reta final agitada de defeso, assinalada pelas vendas do influente Alex Telles e do capitão Danilo.

“O FC Porto parte com a mesma estrutura, apesar das saídas de dois jogadores importantes. É natural que o Benfica também tenha algum favoritismo na conquista do título, devido ao investimento na aquisição de jogadores de qualidade e com alto valor de mercado. O tempo dirá quem investiu bem e melhor consoante os resultados”, observou.​​​​​​​

Domingos Paciência, antigo avançado do FC Porto de 1987 a 1997 e entre 1999 e 2001, lembra o “rendimento muito irregular” revelado pelo médio português pouco antes de reforçar os franceses do Paris Saint-Germain, contrastando com a “grande perda” simbolizada pela saída do defesa brasileiro rumo aos ingleses do Manchester United.

​​​​​​​​​​​​​​“Veremos se o Zaidu se impõe ou se há uma adaptação com o Nanú. Neste momento é tudo imprevisível e o Sérgio Conceição vai ter de conseguir pôr o lado esquerdo, o mais forte em rentabilidade ofensiva, a funcionar da mesma forma. Tal como trabalhou o Alex Telles nas bolas paradas, também pode evoluir o próximo jogador nessa função”, frisou.

O derradeiro dia de mercado possibilitou os empréstimos do defesa Malang Sarr, do médio Marko Grujic e do avançado Felipe Anderson, que irão beneficiar os ‘dragões’ “em posições onde não estavam muito fortes”, além da “troca bem feita” dos dianteiros Aboubakar, Soares e Zé Luís pelos “bem conhecidos” Mehdi Taremi e Toni Martínez.​​​​​​​

“A base do sucesso desta equipa continua a ser a capacidade de trabalho e um compromisso muito forte de todos os jogadores no sentido coletivo, sendo que há individualidades com criatividade para fazer a diferença. Por outro lado, o FC Porto tem mais dificuldades quando é submetido a um jogo de posse do adversário”, avaliou.

Com “alguma desvantagem” em relação aos campeões nacionais e ao Benfica surge o Sporting, que Domingos Paciência orientou em 2011/12 e até arrancou a I Liga com triunfos nos terrenos de Paços de Ferreira (2-0) e Portimonense (2-0), intercalados com o desaire caseiro no ‘play-off’ da Liga Europa aos pés dos austríacos do LASK Linz (4-1).​​​​​​​

“Essa saída das provas europeias liberta-os para uma aposta mais forte no campeonato. Sabemos perfeitamente que o Sporting é uma equipa em reconstrução e com algumas limitações em função da disponibilidade financeira. Tudo isso leva a que não tenha as mesmas armas e argumentos dos rivais e quase de certeza não lute pelo título”, notou.

Reparando nos “riscos” inerentes ao desejo de “querer ganhar com a formação” e suplantar “equipas já feitas” com “jovens em início de carreira”, o ex-internacional luso avisa que os leões “têm de ter os melhores para ganhar”, como atestou o regresso do médio campeão europeu de seleções João Mário a poucas horas do fecho do mercado.

“As suas características estão bem identificadas. É um jogador que gosta de percorrer o último terço, é para ter mais bola do que para recuperar e pode fazer a diferença do meio-campo para a frente. Em que posição? Gosto de vê-lo com alguma liberdade nas suas decisões e acredito que pode fazer o papel do Bruno Fernandes no Sporting”, projetou.

Domingos Paciência, de 51 anos, reconhece que Rúben Amorim “ainda está numa fase muito experimental”, expressa num início de temporada atribulado pela acumulação de casos de infeção por covid-19, embora saliente a utilidade de o Sporting apresentar “alternativas táticas e outros padrões para criar alguma surpresa nos adversários”.​​​​​​​

“Os dias que vivemos obrigam o treinador a um grande trabalho mental na gestão da equipa. A qualquer momento pode deixar de contar com um, dois, três ou mais jogadores devido à pandemia, pelo que o trabalho não se torna fácil para ninguém. Nesta altura não é possível trabalhar da mesma forma como se trabalhava há um ano”, alertou.

O Sporting, quinto colocado, com seis pontos e um jogo a menos, recebe à porta fechada o FC Porto, quarto, com seis, no sábado, às 20:30, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, num ‘clássico’ da quarta ronda arbitrado por Luís Godinho, da associação de Évora.