Os advogados dos principais suspeitos da morte de um adepto do FC Porto em 2022 defenderam hoje que “não se fez prova alguma” de quem cometeu aquele crime, e criticaram o pedido de “pena máxima” feito pelo Ministério Público.

Durante as alegações finais, que decorreram durante todo o dia no Tribunal de S. João Novo, no Porto, os advogados de Marco Gonçalves, mais conhecido como ‘Orelhas’, e Renato Gonçalves admitiram que os seus clientes “agiram mal”, mas condenaram o “julgamento em praça pública” de que dizem terem sido os arguidos alvo, salientado que o objetivo do Ministério Público (MP) “é apenas condenar e não descobrir a verdade”.

Nas alegações finais do MP, a procuradora Adriana Faria pediu “pena máxima” (25 anos de prisão) para Marco Gonçalves, Renato Gonçalves e Paulo Cardoso (pai, filho e tio) e uma “pena próxima da máxima” para Diogo Meireles, os quatro principais arguidos no caso da morte de Igor Silva em maio de 2022, durante os festejos do FC Porto pela conquista do título de campeão nacional.

Para os restantes arguidos acusados daquele crime (Miguel Pereira, Rui Costa e Sérgio Machado) o MP pediu “penas exemplares”, e penas de prisão efetiva para os restantes, a mãe e irmã de Renato Gonçalves e uma amiga destas, acusadas de ofensas à integridade física de uma jovem.

Segundo defendeu Carlos Duarte, advogado de Renato Gonçalves, arguido que admitiu ter dado uma das 18 facadas de que Igor Silva foi vítima, a “teoria que está subjacente” e defendida pelo MP é que se não se consegue “provar quem deu as facadas, o Renato admitiu aqui uma, o Renato vai levar com as outras 17”.

“O problema é que os vestígios não são compatíveis (…)”, arguiu.

Carlos Duarte referiu que “não se pode dizer com total certeza” quem matou Igor Silva, admitiu que Renato Gonçalves “não agiu bem”, mas considerou que o seu cliente “não pode ser condenado por homicídio quando não há prova que sustente isso”.

Já a advogada Poliana Ribeiro, que representou Marco Gonçalves, salientou que “ainda antes do julgamento começar” já o seu cliente estava condenado: “O Marco tem que ser culpado. Antes de ser julgado, o Marco já era culpado, o Marco tem que ser culpado ou ninguém vai entender isto”, disse.

“Não estamos num sistema em que o MP tem que acusar, o MP tem que apurar a verdade e isso não foi feito”, continuou.

A advogada salientou ainda que Marco Gonçalves “tentou colaborar” na busca da verdade, admitindo que o seu cliente não está isento de culpa: “Por um crime de ofensas, pois com certeza que sim. Mas condená-lo por um crime de homicídio é ir muito além daquilo que se passou e não será fazer justiça”, defendeu.

Quanto à defesa de Paulo Cardoso, o seu advogado confessou “o espanto” pelo pedido de pena máxima para o seu cliente: “Da análise desta prova (…) resulta claro que o arguido Paulo não teve qualquer participação na morte do Igor”, disse Tiago Machado.

E realçou: “Paulo Cardoso terá de ser necessariamente absolvido do crime de homicídio. É evidente que alguém teve de dar as facadas [que mataram Igor Silva], mas do ponto de vista do arguido Paulo Cardoso ele não teve qualquer intervenção”.

Já a defesa de Diogo Meireles salientou que “a acusação foi uma espécie de fato feito à medida com aquilo que foi saindo para a comunicação social”, e durante o julgamento “não se fez prova de coisa nenhuma”.

“Ninguém pode dizer que o Diogo estava a agredir o Igor ou a impedir que o Igor fosse socorrido”, defendeu a advogada Marta Ferreira Araújo.

A advogada pediu a absolvição “do arguido Diogo Meireles de todos os crimes que vem acusado porque, na dúvida, que se absolva, não que se condene”.