Pinto da Costa endereçou uma carta aos sócios do FC Porto, onde dá a conhecer algumas das ideias fortes que tem para o próximo mandato à presidência do clube. Uma dessas ideias passa pela criação de uma "Cidade do FC Porto", designada como "um conjunto de instalações de ponta que será muito mais do que um centro de treinos ou de estágio".

"Apesar de várias dificuldades, nos últimos anos tivemos capacidade para formar uma extraordinária geração de jogadores, que alcançou o topo da Europa e que já começa a dar cartas ao mais alto nível. Acredito que o sucesso do FC Porto no presente e no futuro passa por muitos desses atletas, e tenho a convicção de que poderemos fazer ainda mais e melhor quando entrar em funcionamento, durante o próximo mandato, a Cidade do FC Porto", pode ler-se.

O líder dos azuis e brancos aborda ainda a situação financeira que o clube atravessa. "As conjunturas interna e externa são difíceis, e até por isso o próximo mandato terá de ser um tempo de maior equilíbrio entre o dinheiro que geramos e o que gastamos. Mas não consentiremos, como alguns gostariam que acontecesse, que as nossas equipas percam a competitividade que está na génese de um FC Porto vencedor", destaca.

"Não abdicaremos, por fim, de ser aquilo que somos há décadas: um clube incómodo. Somos incómodos porque nos levantamos contra as injustiças de um país estupidamente centralizado. Somos incómodos porque lutamos e vamos continuar a lutar pela verdade desportiva. Somos incómodos porque ganhamos muitas vezes contra tudo e contra todos. Somos incómodos porque os que querem fazer crer que somos provincianos sabem bem que o nosso nível é internacional. O incómodo que causarmos continuará a ser uma medida do nosso sucesso", garante Pinto da Costa.

Recorde-se que as eleições do FC Porto estão marcadas para os dias 6 e 7 de junho, entre as 10 e as 19 horas, no Dragão Arena.

Leia a carta de Pinto da Costa na íntegra: 

"Caro sócio do FC Porto,

Dediquei a maior parte da minha vida a servir o FC Porto. Sou presidente da direção há 38 anos, mas antes já tinha tido a honra de ajudar o clube noutras funções: fui seccionista do hóquei em patins, do hóquei em campo e do boxe entre 1962 e 1969; diretor das modalidades amadoras de 1969 a 1972; e diretor para o futebol entre 1976 e 1980. Quando tomei posse a 23 de abril de 1982, já tinha participado nas conquistas de dois campeonatos de futebol e de muitos outros troféus. Desde essa altura, vivi com todos vós um conjunto de tantas e tão grandes alegrias que nem cabem em palavras, mas não é para o passado que quero olhar agora, em 2020, quando me candidato para mais um mandato à frente do clube. O que me moveu foi sempre o futuro. Se todos juntos ganhámos muito, foi porque soubemos sempre acompanhar as mudanças ou estar à frente delas. Por isso vencemos em tempos tão diferentes.

O diagnóstico sobre o presente é duro. Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e incerto, e a pandemia com que estamos a lidar atualmente é só mais uma confirmação disso mesmo. O universo do desporto não foge a essa regra, que tem tido como uma das consequências mais importantes o aumento das desigualdades entre os clubes dos campeonatos mais ricos da Europa e os restantes. Há dois dados muito significativos: a última vez que uma equipa de fora dos cincos principais campeonatos europeus venceu a Liga dos Campeões foi em 2004; e a última vez que uma equipa de fora dos dois principais campeonatos europeus venceu a Liga Europa foi em 2011. Nos dois casos, foi o FC Porto.

Tal como aconteceu quando me candidatei pela primeira vez, tenho consciência de que este é um momento que exige mudanças e estou disponível para voltar a protagonizá-las. Queremos continuar a ser um caso de estudo no panorama do futebol mundial, e isso implica superar deficiências nos planos financeiro, organizacional e desportivo. Além disso, impõe-se renovar os órgãos dirigentes do clube. Os objetivos serão os mesmos de sempre: ganhar, ganhar, ganhar.

No futebol, conquistar títulos em todas as épocas é a meta que se sobrepõe a todas as outras. Incrementar a competitividade da nossa equipa principal será sempre prioritário, sabendo-se que atravessamos uma fase em que o rigor das escolhas tem de ser cada vez maior e em que as camadas jovens têm de assumir um papel preponderante. Apesar de várias dificuldades, nos últimos anos tivemos capacidade para formar uma extraordinária geração de jogadores, que alcançou o topo da Europa e que já começa a dar cartas ao mais alto nível. Acredito que o sucesso do FC Porto no presente e no futuro passa por muitos desses atletas, e tenho a convicção de que poderemos fazer ainda mais e melhor quando entrar em funcionamento, durante o próximo mandato, a Cidade do FC Porto, um conjunto de instalações de ponta que será muito mais do que um centro de treinos ou de estágio.

Nas restantes modalidades, o objetivo é igualmente manter o nível de elite do FC Porto. Tornar o que já temos cada vez melhor parece-me mais importante e mais adequado à realidade atual do que pensar no que não existe neste momento. Este princípio não invalida, de forma alguma, que possam surgir novos projetos, ao nível daqueles que ainda recentemente resultaram nas reativações do ciclismo e do voleibol, na vertente feminina. Tanto num caso como no outro, trata-se de parcerias devidamente sustentadas e ao nível dos pergaminhos do nosso clube, que se traduzem naquilo que é mais importante: títulos.

Sei bem como o sucesso desportivo depende de vários fatores, alguns até que nós não podemos – nem queremos – controlar. Um dos que podemos e queremos controlar cada vez melhor é a saúde financeira do FC Porto. As conjunturas interna e externa são difíceis, e até por isso o próximo mandato terá de ser um tempo de maior equilíbrio entre o dinheiro que geramos e o que gastamos. Mas não consentiremos, como alguns gostariam que acontecesse, que as nossas equipas percam a competitividade que está na génese de um FC Porto vencedor. As reformas que são necessárias e que concretizaremos terão sempre estes princípios em consideração.

Não abdicaremos, por fim, de ser aquilo que somos há décadas: um clube incómodo. Somos incómodos porque nos levantamos contra as injustiças de um país estupidamente centralizado. Somos incómodos porque lutamos e vamos continuar a lutar pela verdade desportiva. Somos incómodos porque ganhamos muitas vezes contra tudo e contra todos. Somos incómodos porque os que querem fazer crer que somos provincianos sabem bem que o nosso nível é internacional. O incómodo que causarmos continuará a ser uma medida do nosso sucesso.

Nos próximos quatro anos, os desafios que o clube terá de enfrentar não serão poucos nem simples. Mas não serão os primeiros nem serão os últimos da sua história infinita. Juntos, como verdadeiros Dragões, contornaremos as dificuldades. E juntos celebraremos as conquistas que são o elemento mais importante da nossa identidade."