Nuno Mendes, mais conhecido por Mustafá, prestou, esta quarta-feira, depoimento no julgamento do ataque à Academia de Alcochete, a 15 de maio de 2018. O líder da claque Juve Leo foi ouvido, esta tarde, no Tribunal de Monsanto, onde deu a sua versão dos factos.

Sobre a reunião entre a claque e Bruno de Carvalho, na altura presidente do Sporting, na sede da Juve Leo, Mustafá conta que o antigo líder leonino 'passou das marcas' e que só não foi agredido porque ele não deixou.

"Samico tomou conhecimento do que se tinha passado [n.r.d. post de Bruno de Carvalho a criticar os jogadores após a derrota com o Atlético Madrid em Espanha]. Eu na minha revolta, marquei a reunião para sábado. E no sábado é que recebo o telefonema do André Geraldes a dizer que o presidente - como é que ele soube que havia reunião, não sei - queria ir à reunião. Ainda hoje não sei qual foi o post do Bruno de Carvalho; o meu foco era a Juventude Leonina, estava-me borrifando para os posts, depois é que me inteirei do que se estava a passar. Uma hora e meia, duas horas antes é que disse que o presidente ia lá. Ele, o André Geraldes, o Vasco Santos e o segurança dele. O Bruno Jacinto chegou cinco minutos depois", começou a explicar.

"Passei a palavra ao presidente, ele começou a justificar-se. Aquilo nem foi uma reunião, aquilo descambou um bocado ali. No entender do presidente, aquele post não era motivo para tanto... Até chegarem a essa conclusão, a arrogância, a maneira como fala com as pessoas, como o bar,... ele tinha o pé em cima do bar e dizia que tinha as filhas. Até o Elton estava a dizer, tenho oito filhos, você tira o pé de cima do bar, que está aqui há 43 anos. Isto aqui não é o Sporting, é a Juventude Leonina. Nesse dia não sei como é que ele não levou ‘umas pingas ali’. Não levou porque eu não permiti", recorda Mustafá.

No seu depoimento, o líder da Juventude Leonina negou qualquer envolvimento no ataque a Academia do clube, dois dias depois da derrota com o Marítimo que afastou o Sorting do segundo lugar.

"Antes estivesse [em Alcochete nesse dia]. Nada do que se passou é normal. No dia 15 só acordei para comer a canja da Cristina. Voltei para a cama e só acordei com ela a dizer-me para ir ver o que se tinha passado", explica.

"Soube [do ataque] pela minha mulher, que foi buscar a minha filha e foi-me acordar. A Cristina acordou-me, chamou-me. Vi tudo pela televisão. Um dia vou saber o que se passou mesmo. Ainda não sei. Se alguém está por trás disto, ainda não foi preso. Metade daqueles arguidos não conheço", completa.

Sobre a invasão, o líder da Juve Leo contou à juíza Sílvia Pires que não havia motivo, mesmo após todo a confusão causada após a derrota com o Atlético Madrid, para a Liga Europa.

"No meu entender não havia motivo para ir à Academia. Perdemos um jogo com o Atlético Madrid. Não é uma equipa qualquer. Perder 2-0 não é uma coisa do outro mundo. E eu não tinha noção do que se passava na internet. Na mesma reunião: Houve uma pessoa que perguntou se podíamos ir à Academia. Ficou logo descartado", explicou.

De recordar que de manhã, na 34.ª sessão do julgamento, foram ouvidos Pedro Lara e Valter Semedo.

No final da sessão, o advogado de Mustafá, Rocha Quintal, apresentou, pela terceira vez, um pedido de alteração da medida de coação do arguido, para uma medida não privativa da liberdade.

O julgamento da invasão à academia prossegue na sexta-feira com Eduardo Nicodemes e Ricardo Neves, de manhã, e Bruno de Carvalho, antigo presidente do clube, à tarde.

O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes e o líder da Juve Leo responde ainda por tráfico de droga.