O advogado Aníbal Pinto, arguido no processo Football Leaks, disse hoje que a Polícia Judiciária (PJ) tem de “explicar” a partilha de um ofício com o advogado Pedro Henriques, representante da Doyen, relativo à origem dos emails.

“Fiquei chocado, espero que a PJ tenha a dignidade de explicar isso. Fiquei surpreendido, nunca vi uma polícia como a Judiciária, numa investigação que está sujeita a segredo profissional, a dar esse ofício ao mandatário de uma das partes”, afirmou o arguido à saída do Tribunal Central Criminal de Lisboa, acrescentando: “A ser verdade que a PJ estava a trabalhar para a Doyen, se é a Doyen que comanda a PJ, não consigo perceber isto.”

Em causa, estão as declarações do inspetor da PJ José Miguel Amador, durante a quarta sessão do julgamento, em que a primeira testemunha a ser ouvida perante o coletivo de juízes admitiu que Rui Pinto teria tido conhecimento do ofício entre a PJ e os russos do operador russo Yandex - a pedir informações sobre a origem dos emails que eram trocados entre o administrador da Doyen, Nélio Lucas, e Rui Pinto (então ainda anónimo) – a partir do computador de Pedro Henriques.

Questionado pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, sobre a razão da partilha desse ofício com o mandatário da Doyen, o inspetor da Judiciária não foi muito claro, explicando apenas que “terá sido partilhado para agilizar a chegada aos russos”. José Miguel Amador reconheceu não ter conhecimento direto de como se procedeu a essa partilha e sublinhou que “não é hábito” a PJ atuar desta forma.

“A PJ tem obrigação de esclarecer a opinião pública. São coisas muito sérias para ficarem sem explicações”, contrapôs Aníbal Pinto, reiterando: “Aquilo que ouvi é inacreditável: a PJ estar ao serviço da Doyen? Estar a servir-se de terceiros por não ter capacidade internacional? Mas a Doyen tem mais capacidade internacional? Não consegui perceber.”

O arguido no processo Football Leaks notou também que as declarações de José Amador vincaram que não fez “nada de ilegal” no encontro com Nélio Lucas e Pedro Henriques na área de serviço em Oeiras, que serviu de base à acusação do crime de tentativa de extorsão.

“O senhor inspetor disse que montaram uma emboscada para me apanhar em flagrante delito e a pergunta é: porque é que não me prenderam? Porque eu não faço nada de ilegal, tudo o que fiz foi legal”, afirmou, sem deixar de repetir a sua convicção de que será absolvido.

Já sobre as breves palavras trocadas com Rui Pinto antes do início da retoma dos trabalhos de tarde, Aníbal Pinto garantiu só ter perguntado se o criador da plataforma eletrónica estava bem e se estava a “aguentar” o processo, tendo ainda desejado “a melhor sorte do mundo”.