O FC Famalicão é o grande destaque da Primeira Liga portuguesa: após sete jornadas, o clube recém-promovido à elite do futebol português aparece na liderança da competição, à frente dos gigantes Benfica e FC Porto. O segredo? Os interesses do empresário Jorge Mendes e o investimento de um milionário israelita.

"Nem nos meus sonhos mais loucos poderia imaginar que lideraríamos o Campeonato Português!", comemora Ramiro Carvalho, sócio do Famalicão há cerca de 40 anos.

Este empresário de 64 anos, vestido com a camisa azul do clube, percorreu os 350 km que separam Famalicão de Lisboa para ver a sua equipa derrotar por 2-1 o Sporting, um dos candidatos ao título em Portugal.

A vitória ajudou os 'Famalicenses' a permanecer na liderança da competição nacional. Com 19 pontos, têm mais um que Benfica e FC Porto após sete rondas.

Ascensão meteórica com investimento de um milionário israelita

A reviravolta no Famalicão começou em junho de 2018, quando o magnata israelita do petróleo, Idan Ofer, aceitou o desafio lançado pelo amigo Jorge Mendes. Este milionário, dono de um terço do Atlético de Madrid, decidiu investir no clube desta cidade industrial de 130 mil habitantes, situada a cerca de 30 km do Porto, quando a equipa agonizava no fundo da tabela da segunda divisão portuguesa.

Sporting - Famalicão: Jogadores do Famalicão aplaudem os mais de 200 adeptos que deslocaram a Alvalade para apoiar a equipa
Sporting - Famalicão: Jogadores do Famalicão aplaudem os mais de 200 adeptos que deslocaram a Alvalade para apoiar a equipa créditos: Lusa

Um ano depois, o clube está na elite do futebol português após 25 anos de ausência e tem um orçamento anual de 7,5 milhões de euros, um décimo do orçamento do Sporting, por exemplo, mas duas vezes maior do que o de clubes recém-promovidos à primeira divisão nos últimos anos.

No início de setembro, Idan Ofer aumentou a participação da sua holding 'Quantum Pacific' no capital da SAD do clube de 51 para 85 por cento

Mas, principalmente, o clube conta com a rede de contatos do poderoso Jorge Mendes e da sua empresa, a Gestifute, que gere as carreiras de grandes nomes do futebol internacional, como o cinco vezes melhor do mundo Cristiano Ronaldo, o técnico José Mourinho ou a jovem promessa portuguesa João Félix, que na última janela de transferências mudouse do Benfica para o Atlético de Madrid por 126 milhões de euros.

'Relação privilegiada' com Jorge Mendes

"O Famalicão tem uma relação privilegiada com Jorge Mendes. A Gestifute foi sócia do clube e da Quantum Pacific na constituição da nossa sociedade anónima desportiva. Foi quem celebrou o 'casamento' entre as duas partes", confirmou o diretor geral do Famalicão, Miguel Ribeiro, em entrevista ao jornal português Expresso.

"Temos a ambição de colocar o Famalicão no mais alto nível do futebol português, e quando digo isso não estou só a falar da permanência na 1.ª divisão", garantiu o ex-homem forte do Rio Ave, outro clube do norte de Portugal que beneficiou-se da influência de Jorge Mendes no passado.

Quando os sócios do Rio Ave recusaram ceder o controle do clube aos chineses da Fosun, o empresário, de 53 anos, procurou um novo projeto no Famalicão.

Jorge Mendes, empresário de futebol
Jorge Mendes, empresário de futebol créditos: DR

Para colocar o Famalicão na elite, Mendes reforçou a equipa com cerca de 20 jogadores ligados à Gestifute ou a clubes europeus com os quais tem negócios.

Diversas promessas do Benfica, do Atlético, do Valencia, do Wolverhampton ou do West Ham foram assim emprestados, como o defesa central argentino Nehuen Pérez, que concorre ao prémio Golden Boy.

Sonhos europeus 

Apenas quatro jogadores do plantel atual estavam na equipa no ano passado e, segundo estimativas do site especializado 'Transfermarkt', o valor de mercado da equipa subiu de 9 milhões de euros no ano passado para 21 milhões esta temporada.

"Temos consciência da importância de Jorge Mendes no clube, sem ele o Famalicão não poderia trazer todos esses jogadores", reconhece Francisco Fontão, adepto de 37 anos.

De seu status de recém-promovido, o clube só conserva um estádio pequeno para apenas cinco mil espectadores, que será ampliado em dois mil lugares até 2021, após investimento de 8 milhões de euros.

Enquanto alguns adeptos já sonham com uma possível qualificação para competições europeias, accessíveis a partir do quinto lugar no Campeonato Português, o técnico João Pedro Sousa prefere manter os pés no chão.

"Não pensamos na Europa. O nosso objetivo é a permanência [na 1ª divisão] e não pensaremos em nada mais enquanto isso não for alcançado", declarou o treinador após a vitória estrondosa sobre o Sporting em Alvalade.