Bruno de Carvalho continua a sua ´cruzada` contra o estado atual do futebol mundial. O presidente do Sporting criticou, em diversas ocasiões, o poder que os agentes de futebolistas têm atualmente no mercado de transferências e esta tarde voltou a fazer o mesmo, numa conversa com Rob Harris, jornalista da Associated Press, durante a Web Summit.

"Cada vez mais os agentes têm mais poder, os jogadores têm cada vez mais medo em fazer algo sem ser do conhecimento dos agentes. Estes são agentes que deviam facilitar o negócio ou estão aí para fazer dinheiro com as transferências?", perguntou o líder leonino, quando questionado sobre Jorge Mendes, agente de futebolistas.

"Em quatro anos, o Jorge Mendes fez transferências no valor de 1,2 mil milhões de euros. É um grande agente, mundialmente conhecido. Quando vemos um mercado de transferências como este e um mercado de comissões como este, a crescer a cada ano... é muito. As comissões têm crescido quase o dobro desde 2010. Compramos, pagamos o que compramos e ainda pagamos mais. E isto ainda vai aumentar, é o futebol atual", declarou BdC, que pede a intervenção dos Governos já que este não é um problema que possa ser resolvido por ligas ou federações.

"A FIFA diz que os clubes têm de chegar a um entendimento primeiro numa transferência de jogadores e só depois é que se pode falar com o jogador. O que acontece hoje em dia é que se vai diretamente ao agente do jogador, ele é que decide se o jogador é vendido ou não. Temos de criar regras concretas sobre tudo: os TPO [Third Party Ownership], a venda e compra de clubes por parte de terceiros. Os Governos têm de fazer algo e regular a intermediação de agentes nas transferências. Isto não será resolvido entre ligas ou federações terão de ser os países a reunirem e fazer algo", avisou.

"Estamos a criar um monstro e no fial iremos estar contra o jogo, os adeptos, os jogadores tudo. No futuro vamos perder esta dimensão estratosférica e voltar ao início. Os melhores elementos de um clube são os seus adeptos", finalizou Bruno de Carvalho, que estendeu ainda as suas críticas aos milionários que têm adquirido alguns clubes na Europa.

"90 por cento dos clubes europeus não tem as contas auditadas e publicadas. Se os governos continuarem a não fazer nada, será muito mau no futuro. 44 clubes dos cinco principais campeonatos pertencem a alguém, há muitas nacionalidades nos clubes, com muitos donos. As pessoas que compram clubes não entendem a dinâmica dos mesmos, não percebem a essência de um clube", acusou.

Para Bruno de Carvalho, o Sporting é e será sempre da sua massa associativa.

"O Sporting continuará a ser dos adeptos, eles são a essência deste mercado de futebol. Nós investimos muito na Academia, temos dois jogadores formados no clube que já foram Bolas de Ouro, somos os melhores a produzir jogadores".

Outro tema abordado na conversa com o jornalista da AP foi a derrota do Sporting nos tribunais, no diferendo que mantinha com a Doyen, sobre a transferência de Marcos Rojo para o Manchester United. Bruno de Carvalho voltou a frisar que não sabe como o Sporting perdeu o caso.

"A Doyen é algo que não é uma instituição, ninguém sabe o que é. Não percebo como perdemos o caso [no TAS- Tribunal Arbitral do Desporto]. Quando lutamos contra algo que não se percebe quem são, quem está por detrás, de onde vem o dinheiro... o futebol tem um longo caminho pela frente. A perda do caso para a Doyen foi um dia mau para o futebol e para o Sporting. Perder para algo que ninguém sabe o que é, é mau. Às vezes perdemos e não é justo, outras ganhamos e não era justo", atirou.