Depois de uma exibição personalizada na passada quarta-feira, diante do Arsenal, as expetativas para o jogo em Barcelos eram elevadas. A vitória europeia ao cair do pano veio coroar de forma justa o desempenho dos azuis e brancos diante dos londrinos, deixando no ar a ideia de que o dragão tinha, finalmente, encontrado o equilíbrio que faltara ao longo da época. Aliás, à entrada para o estádio sentia-se o fervor entre os adeptos, que aqui e ali ainda falavam da fantástica réplica deixada pelo FC Porto nos oitavos de final da prova milionária, com a esperança de ver estendida a boa imagem também ao campeonato.

Uma ideia que não se confirmou. E bastaram poucos minutos em campo para o perceber. Ao contrário da partida de quarta-feira, o dragão apresentou-se no Estádio Cidade de Barcelos sem chama. Do outro lado não podemos dizer melhor, mas as despesas do jogo deveriam ser, à partida, assumidas pelo natural favorito, o FC Porto. Afinal, o triunfo europeu não galvanizou o dragão como se esperava, pelo contrário. Não sabemos se por cansaço, se por desmotivação, se por falta de estratégia, mas a nódoa caiu mesmo no melhor pano da época.

Conclusão: 49 pontos após 23 jornadas da Liga. É o pior registo desde 2013/2014 do FC Porto, que fora de casa só venceu um dos 5 últimos jogos realizados no campeonato. Mais: sofreu golos em todos esses encontros. Noutra perspetiva, nos últimos 4 jogos perdeu 7 pontos (em 12 possíveis).

A grande surpresa da noite começou por ser a ausência de Galeno no onze inicial. A estrela da Champions ficou no banco, cedendo o lugar a Iván Jaime, que uma vez mais não aproveitou a oportunidade que lhe foi concedida. Mas já lá vamos. Nico González também saltou do onze relativamente ao duelo europeu, uma vaga que seria ocupada por Eustáquio. Tal como previsto, face ao último jogo, Vítor Campelos promoveu apenas o regresso de Martim Neto - de volta após suspensão - assumindo a função de cérebro do Gil à frente dos pivôs Pedro Tiba e Mory Gbane.

Da primeira parte, só notas soltas e vagas. Duas longas paragens, uma logo no início por causa de uma questão técnica com as comunicações dos árbitros, outra mais à frente após um choque violento entre Pepe e Rúben Fernandes, marcaram em definitivo a falta de ritmo do jogo no primeiro tempo. Os portistas assumiam a partida, com mais posse, mas o Gil saía rápido sempre que possível, o que nunca deixou a equipa de Sérgio Conceição totalmente confortável, de forma a impor a sua ideia de jogo.

Entre a apatia generalizada dos dragões, Pepe e Francisco Conceição eram - e foram durante toda a partida - os mais inconformados. Do extremo português, por exemplo, saíram as melhores oportunidades, mas que não chegaram a ser de perigo iminente. Faltava harmonia à formação azul e branca, que não consegui ligar-se em campo, e talvez a exibição apagada de Iván Jaime ajude a explicar a pouca criatividade do meio-campo portista. Do outro lado, Tidjany Touré e Murilo iam fazendo das suas, já depois de Rúben Fernandes ter subido à área portista para cabecear ao lado da baliza de Diogo Costa.

Ainda no primeiro tempo, Stephen Eustáquio chegou a colocar bola no fundo das redes gilistas, mas o árbitro invalidou de imediato o lance, por falta de Wendell sobre Andrew. O luso-canadiano, com forte presença na área, viria a estar muito perto de marcar, mas Gabriel Pereira tirou-lhe um golo certo aos 45'+9'.

Ao intervalo, imaginando o que terá sido o puxão de orelhas de Sérgio Conceição no balneário, a equipa do FC Porto chegou bastante atrasada ao retomar da partida. Independentemente do que tenha dito o técnico portista, certo é que valeu a pena. Cedo se percebeu que tinha subido ao relvado uma outra equipa, e não apenas por causa da troca ao intervalo de Alan Varela por Grujic. Com um ritmo completamente diferente, muito mais veloz e intenso, os jogadores portistas pareciam finalmente ter acordado para a importante missão de conquistar os três pontos.

Depois de uma catadupa de lances perigosos, um deles na sequência de um bom remate de Iván Jaime (finalmente!), Fábio Veríssimo apontou para a marca dos onze metros. Mão na bola de Mory Gbane, Evanilson foi chamado a converter e lá marcou, mas a custo. Andrew ainda defendeu o primeiro remate, mas na recarga o avançado brasileiro não vacilou: 10 golos na Liga, 20 em todas as competições esta época.

O golo galvanizou os portistas, que durante uns largos minutos não se afastaram da área do adversário. Ainda assim, diga-se, a maior pressão portista não impediu o Gil Vicente de criar alguns lances de perigo. Primeiro por Tiba, com a bola a passar muito próximo da baliza de Diogo Costa, ainda antes de Campelos ter colocado Maxime Domínguez e Alipour em campo, com o internacional iraniano a deixar o guarda-redes da seleção nacional em sentido, após ganhar a frente à defensiva contrária.

Respondia Evanilson do outro lado com um frente a frente ganho novamente por Andrew, seria o ponto final no resultado. Mas como diz o ditado - e algum sentido deve ter - quem não marca arrisca-se a sofrer. Já nos descontos, quando tudo parecia resolvido, Thomas Luciano vestiu a capa e voou para ser o herói da noite em Barcelos (perante tamanha passividade de Wendell).

O FC Porto está agora a 9 pontos do líder Benfica e a 7 do Sporting, que tem menos um jogo. Atrás, se olhar pelo retrovisor, o dragão vê o SC Braga. Em caso de vitória esta noite, diante do Boavista, os arsenalistas podem aproximar-se e ficar apenas a três pontos dos azuis e brancos. No próximo domingo há um escaldante FC Porto-Benfica, no Estádio do Dragão.

O momento: Evanilson falha o 2-0

É o lance que antecede o golo do empate. O avançado brasileiro falha no frente a frente com Andrew depois de uma poderosa arrancada, que deixou para trás a defensiva gilista. Grande trabalho do artilheiro portista, que ainda assim não conseguiu traduzir em golo o notável esforço na reta final do encontro. Se tivesse marcado, provavelmente o desfecho teria sido outro, e por isso este é o momento do jogo. Por razões óbvias, o golo do Gil Vicente, aliado à má abordagem de Wendell, é também um dos momentos capitais da noite.

Os melhores: Dois do FC Porto, dois do Gil Vicente

Francisco Conceição voltou a ser o principal criador de perigo. Foi dos poucos, sobretudo na primeira parte, a contrariar a monotonia azul e branca, quase sempre incansável com uma mão cheia de ações desequilibradoras, quer pela esquerda, quer pela direita, quer quando fletia para o meio. O esforço peca por escasso, apenas porque a equipa não foi além do empate. Mas nota-se que está a crescer e é, atualmente, uma peça chave da equipa.

Quanto a Pepê, é sem dúvida mais feliz no corredor central nas costas do avançado, neste caso Evanilson. O extremo brasileiro, que também é lateral e tudo mais, é uma espécie de motor que faz andar a locomotiva azul e branca, mas para não perder velocidade é preciso que todos consigam carburar como ele. E isso não aconteceu.

Na equipa de Barcelos, destaque para Tiba e Luciano. O médio de 35 anos foi crucial no meio-campo gilista e esteve perto de marcar, antes de sair, já perto do final da partida. Luciano foi o homem golo e teve muito mérito na forma como conquistou a bola nas alturas, sobrepondo-se perante a passividade de Wendell. O defesa de 22 anos foi, com todo o mérito, o herói do jogo. Ao 5.º jogo, Thomas Luciano estreou-se a marcar pelo Gil Vicente. O lateral não jogava desde novembro e marcou o 1.º golo da carreira.

Os piores: Iván Jaime e Wendell

Foi mais uma oportunidade desperdiçada para o espanhol, que não era titular na Liga desde a 13.ª jornada, frente ao Casa Pia, no início de dezembro. O médio de 23 anos nunca se impôs no jogo, quer ofensiva, quer defensivamente. Já na segunda parte disparou um bom remate, digno de registo, mas há pouco mais a enaltecer no jogo do ex-Famalicão.

Quanto a Wendell, depois da exibição bem conseguida diante do Arsenal, o jogo em Barcelos não deixará boas recordações ao brasileiro. A falta de ligação a Iván Jaime ficou evidente e pareceu demasiado amarrado atrás, não oferecendo a profundidade exigida, talvez por cansaço. Quando ao golo do empate do Gil Vicente, Wendell fica muito mal na fotografia, deixando Luciano cabecear a seu belo prazer.

O que disseram os treinadores:

Sérgio Conceição: "Já desperdiçámos alguns pontos esta época dentro do filme a que acabámos de assistir. Muitas ocasiões, golos falhados, ficamos à mercê de uma bola parada, de um ressalto, de uma situação no último minuto, como aconteceu hoje [ontem], e perdemos aqui mais dois pontos. Há que assumir isso, toda a gente aqui dentro, e é algo para que vamos olhar, tentando perceber o que faltou. A questão é bem visível, não vale a pena estar aqui com grandes conversas: faltou fazer o segundo, o terceiro e o quarto golo. Tivemos oportunidades, sete ou oito, não fizemos e quem não faz põe-se a jeito".

Vitor Campelos: "É um empate que nos dá mais um pontos. Temos 26. O objetivo é atingir os 35 o mais rápido possível. Quando é atingido ao minuto que foi… mas muito merecido. Acaba por ser merecido. A primeira parte foi equilibrada. O FC Porto teve mais posse de bola. Relembrar que ainda esta semana venceu o Arsenal. Na segunda parte entraram fortes e fizeram o 1-0. Depois podiam ter dilatado o marcador, mas nós também tivemos as nossas oportunidades. Nestes jogos temos de ter uma pontinha de sorte e acreditar".

Veja o resumo completo da partida.