'Apanha-me se puderes'. Era o que desafiava o FC Porto ao SC Braga à entrada do jogo no Dragão, enquanto ouvia o mesmo de Benfica e Sporting, que já tinham vencido os respetivos jogos. E nesta corrida desenfreada do gato e do rato, os dragões souberam - com a seriedade e o compromisso necessários - olhar pelo retrovisor com a devida cautela enquanto se mantinham focados na perseguição aos rivais lisboetas.

Num jogo praticamente de sentido único - salvo raras exceções que esbarraram, como sempre, numa muralha chamada Diogo Costa, os azuis e brancos alcançaram um triunfo pleno de justiça, aliado àquela que foi, muito provavelmente, a melhor exibição da época.

Depois do empate no Bessa na última ronda, o FC Porto regressa às vitórias na I Liga e alcança a segunda vitória consecutiva depois da goleada na Taça frente ao Estoril por 4-0. Já o SC Braga, que não vence há três jogos, perde o assalto ao 3.º lugar e está já a 10 pontos da liderança. E caros leitores, nunca é demais lembrar-vos, estamos precisamente - nem mais, nem menos - a meio da famigerada maratona, como tanto gostam os treinadores de chamar.

O melhor de um, o pior de outro

Em causa estava o último lugar do pódio da I Liga e o perigo de, em caso de derrota ou empate, dilatar ainda mais a distância para o líder Sporting e vice-líder Benfica. O FC Porto sabia-o, o SC Braga também - parece uma verdade 'de la palice' - mas pela forma como o jogo se desenrolou talvez o facto não parecesse assim tão óbvio. Pelo menos para uma das equipas.

Alarmado por alguma intermitência qualitativa ao longo da época, o jogo com os guerreiros vinha colocar à prova, uma vez mais, a fibra do dragão. Depois da vingança servida bem quente ao Estoril na prova rainha, carrasco que já custou uma Taça e 3 pontos esta época aos dragões, os homens de Sérgio Conceição desde cedo mostravam ao que vinham. Em equipa que ganha não se mexe, reza a história, e em equipa que goleia ainda menos se mexerá. E o técnico portista não mexeu. De novo Nico González, de novo Evanilson, novamente Francisco Conceição. Eustáquio, André Franco, Toni Martínez, outrora escolhas iniciais, voltavam a começar no banco.

Do lado do SC Braga, por comparação ao afastamento da Taça frente ao Benfica, Artur Jorge deixou no banco Saatçi e Rony Lopes, optando por José Fonte e Álvaro Djaló - avançado espanhol que viria a ser um dos mais inconformados na pálida equipa minhota.

Num 4-3-3 carregado de mobilidade e sempre de olhos postos em Evanilson, Sérgio Conceição reforçou que há FC Porto para além de Taremi, tal como já tinha demonstrado, aqui e ali, no jogo a meio da semana. Para isso também ajudaram - e muito - as gazelas Francisco Conceição e Galeno. No caso do extremo emprestado pelo Ajax, com um notório e estudado desapego tático - devidamente ponderado - permitiu-lhe cair não raras vezes para o corredor central, baralhando assim a marcação arsenalista na companhia de Pepê.

Uma estratégia que começou por dar frutos bem cedo, logo aos 12 minutos, pelo insuspeito do costume. Na sequência de um livre habilmente batido por Francisco Conceição, Fábio Cardoso subiu ao 10º andar, onde não moravam nem Fonte, nem Paulo Oliveira. Um poderoso cabeceamento sem quaisquer hipóteses para Matheus empolgava o Dragão, que explodia de alegria. A vantagem só admirava quem estivesse de costas voltadas para o relvado.

Numa primeira parte de sentido único, destaque ainda para uma defesa monstruosa de Diogo Costa a um remate de Ricardo Horta, aos 31 minutos da partida. Levou a melhor o guarda-redes da seleção nacional, que defendeu para canto um golo cantado do capitão arsenalista.

Outra vez tu, Evanilson?

O jogo seguiu para o intervalo com uma vantagem pela margem mínima da formação da casa e Artur Jorge sabia que a sua equipa teria de fazer muito mais no segundo tempo. Sabia-o, certamente, mas nem teve tempo de pôr o plano em prática. Numa desatenção altamente penalizadora e em zona proibida, Borja entrega a bola a Evanilson, que dentro da grande área é abalroado - é mesmo a melhor forma de descrever o lance - por Matheus.

Já recomposto, foi o avançado brasileiro a assumir o castigo máximo e com sucesso. Já são 15 golos esta época, reforça o estatuto de melhor marcador da equipa. Por esta altura, o relógio marcava 49 minutos de jogo.

Se a equipa bracarense alguma vez chegou a almejar uma reviravolta, a subida à montanha ficava ainda mais acidentada com um novo tropeção demasiado precoce.

Com o jogo na mão, a equipa de Sérgio Conceição nunca adormeceu e soube gerir a vantagem na segunda parte de forma tranquila. Já o SC Braga tentava, a espaços, aproximar-se da baliza de Diogo Costa, mas sem conseguir incomodar realmente a formação portista.

Assim, o SC Braga (33 pontos) não pôde, porque não soube, apanhar o FC Porto no 3.º lugar. E o FC Porto (38) pôde, porque soube, continuar a tentar apanhar o Benfica (42) e o Sporting (43).

O momento

O momento do jogo é apenas um, mas repartido em três micro momentos: erro de Borja, penálti cometida por Matheus e castigo máximo convertido com sucesso por Evanilson. Uma sequência de episódios em pouco mais de três minutos que acabou por ajudar a ditar o desfecho dos 90'. É óbvio que o golo madrugador de Fábio Cardoso é extremamente importante, mas o facto do segundo tento ter surgido quatro minutos após o arranque da segunda parte e depois de um duplo erro dos arsenalistas - Matheus também se faz muito mal ao lance - torna-o como o momento chave deste FC Porto-SC Braga.

O melhor

Fábio Cardoso. Não apenas pelo golo, mas sobretudo pela exibição sólida que, ao lado de Pepe, permitiu fechar as portas ao rápido e acutilante ataque dos minhotos - o melhor da competição, importa lembrar, a par do Sporting, com 40 golos. O defesa chegou a ser relegado para terceira escolha aquando da aposta em David Carmo e até mesmo perante o lançamento do jovem Zé Pedro, que chegou a ser titular em Alvalade enquanto o central ex-Santa Clara ficou no banco. Fábio Cardoso marcou um golo importantíssimo e carregado de intenção, fazendo aquilo que se pede a um central nas bolas paradas. O cabeceamento indefensável ofereceu uma capacidade de gestão física e emocional que contribuiu, e muito, para o desfecho positivo do jogo.

Por razões óbvias, Evanilson assume-se cada vez mais como o avançado de referência na ausência de Taremi. Depois do excelente jogo diante do Estoril, voltou a ser o motor atacante dos dragões com imensa influência ofensiva, mas sempre com participação ativa no momento de defender, tal como o iraniano.

Nota: Diogo Costa, uma vez mais. Pouco defendeu. Mas quando foi chamado a intervir, fê-lo com uma segurança tremenda. Destaque para a enorme defesa ao remate de Ricardo Horta aos 31 minutos de jogo. Estava 1-0 para os dragões.

O pior

A ter que escolher uma individualidade, Cristián Borja. Pelo envolvimento direto no segundo golo do FC Porto e pela fraca exibição.

Mas o maior destaque pela negativa é atribuído a toda a equipa minhota, pelo apagão coletivo em campo. Irreconhecível, sobretudo no ataque, o SC Braga nunca soube pôr em prática o seu futebol e pareceu, não raras vezes, estar ainda a remoer o afastamento da Taça frente ao Benfica ou, quem sabe, o empate cedido ao cair do pano na Pedreira, na última ronda, frente ao eterno rival Vitória de Guimarães. O que justificou a pobre exibição não sabemos, para além do evidente mérito portista, mas numa altura em que tenta, justamente e por mérito próprio, eliminar patamares para os denominados grandes do futebol português, este SC Braga tem de fazer muito mais nos jogos 'a doer'.

Os treinadores

Sérgio Conceição

"Acho que a base para se ganhar este jogo era essa solidez, principalmente defensiva. Sabíamos do poderio do Braga. No processo ofensivo é uma equipa muito positiva, chega com muita gente na frente e de diversas formas. Houve ali uma situação junto ao primeiro poste, um cruzamento, mas não me lembro de mais nenhuma situação do Braga na primeira parte. Nós tivemos várias aproximações com perigo. Fizemos o golo, podíamos ter ido com uma vantagem diferente para o intervalo.

Artur Jorge

"A entrada não foi a melhor, em ambas as partes. Não fomos o SC Braga que queríamos ser. Tivemos dificuldade em impor o nosso jogo e isso manifestou-se no resultado. Faltou energia, sabíamos que só assim teríamos outro resultado. Com entrada em falso nas duas partes, mesmo melhorando na segunda, não fomos eficaz nem o suficiente fortes para reverter o resultado. Faltou energia para lutar mais, para correr mais, não tivemos isso. Fomos uma equipa que teve dificuldade na primeira parte. O golo cedo condicionou animicamente, é verdade, mas quando com bola, em saída fomos perdendo muitos passes. Quando assim é, fica difícil chegar à área e colocar em desconforto o adversário."

O resumo