Lenços brancos, assobiadela e a liderança a fugir. O dérbi da Segunda Circular não correu de feição ao Benfica e deixou Jorge Jesus numa posição fragilizada. Num dérbi onde o rival da Cidade até estava desfalcado, o Benfica pouco conseguiu fazer para contrariar a superioridade do Sporting em campo, traduzido nos três golos marcados e uma lição em como desmontar defesas com marcação individual.

O Sporting continua líder e invencível na Primeira Liga, a par do FC Porto, e deixa o rival a quatro pontos. Foi o 12.º triunfo seguido do Sporting esta temporada.

Na quarta-feira o Benfica tem um jogo crucial com o Dinamo Kiev em casa. Um possível apuramento para os oitavos de final da Campions podia acalmar a ira dos adeptos. Mas é preciso colocar o plantel mais valioso da Primeira Liga a funcionar.

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O Jogo: Matheus Nunes nas sete quintas, Jesus incapaz de reagir

Sem o 'patrão' Coates e o 'pulmão' Palhinha no meio-campo, parecia que estava tudo alinhado para a noite de sexta-feira, 13, correr mal ao Sporting. Só que Rúben Amorim tinha outros planos e mostrou que, mesmo sem duas peças tão fundamentais, a equipa é capaz de funcionar e dar uma boa resposta, mesmo que o jogo seja em casa do rival de Lisboa, perante quase 60 mil pessoas.

O resultado espelha também dois estados de alma diferentes, duas equipas em momentos distintos: o Sporting a saber o que fazer em cada momento, com processos simples mas bem delineados; o Benfica ainda à procura da sua identidade, mesmo ao 25.º jogo da época.

Rúben Amorim deve ter visto os jogos dos Encarnados diante do Portimonense e Estoril e a forma como o Benfica promove marcações individuais do meio-campo para a frente, e explorou isso de forma perfeita. Matheus Nunes parecia um cavalo lusitano solto na pradaria, a correr de um lado para o outro sem travão. Ugarte, o substituto de Palhinha, compensava nas subidas e ajudava a proteger a linha de cinco atrás. O técnico disse que a chave da vitória esteve no facto de os seus jogadores terem interpretado melhor o que o jogo pedia em relação aos homens do Benfica.

Para tirar os homens do Benfica das suas posições, os três da frente do Sporting movimentavam-se no sentido de atrair a defensiva contrária e assim abrir espaço. Paulinho faz isso como ninguém, trazendo Otamendi ou Verthongen consigo até perto da zona do meio-campo para depois abrir caminho para as incursões dos colegas. André Almeida, o outro central, também tinha de fazer o mesmo. O espaço deixado era aproveitado por Matheus Nunes para percorrer metros com bola, sem que Weigl ou João Mário tivessem capacidade para o travar.

Claro que o 1-0 logo aos 08 minutos deixou o Sporting como gosta: confortável com o resultado, linhas mais baixas, defesa mais recuada e Benfica sem espaço nas costas para Darwin, Rafa e Everton Cebolinha explorarem. O golo nasce de uma simplicidade de processos, onde em apenas quatro passes o Sporting bateu todo a defensiva do Benfica: Porro a subir no corredor, a soltar na hora certa para Pedro Gonçalves que apareceu por dentro (Weigl e João Mário longe para dar cobertura), passe excelente nas costas de Verthongen, Lázaro muito longe e Sarabia a encostar de primeira.

A incapacidade do Benfica em furar por dentro, levou-o a usar e abusar dos cruzamentos, fáceis para a linha de cinco do Sporting, que ainda contava com as coberturas de Matheus Nunes e Ugarte.

Na conferência de imprensa, Jesus queixou-se da falta de eficácia, mas isso não explica o resultado e a exibição. No melhor período, que coincidiu com a entrada de Yaremchuk que passou a arrastar marcações no Sporting, o Benfica criou três situações claras de golo, duas delas com a bola a bater com estrondo na barra.

O Sporting 'matou' o jogo com o tal espaço deixado pelo desposicionamento dos defesas do Benfica, em duas cavalgadas impressionantes de Matheus Nunes.

O golo de Pizzi nos descontos foi apenas uma consolação.

Jesus tem de perceber o porquê de ter tido 68 por cento de posse de bola em casa diante do rival, fazer apenas três remates enquadrados (o Sporting fez seis) e perder por 3-1.

No final, os adeptos do Benfica brindaram a sua equipa com uma monumental assobiadela e mostraram lenços brancos a Jorge Jesus.

Em apenas 13 rondas, o Benfica já leva duas derrotas, todas em casa, e um empate, fora com o Estoril. Mais que as derrotas, é o nível exibicional do plantel mais caro da I Liga que preocupa os adeptos.

Já o Sporting voltou a vencer na Luz, seis anos depois (a última foi com... Jorge Jesus a treinador) e somou a 12.ª vitória seguida na época.

Momento-chave: Cavalgada de Matheus e Paulinho a sentenciar

No melhor período do Benfica em todo o encontro, o Sporting 'matou' o jogo. Matheus Nunes voltou a ter uma das suas arrancadas pelo meio, deixou adversários pelo caminho (as faltas são para serem feitas mas os jogadores do Benfica parecem ter-se esquecido disso) e soltou na hora certa para Paulinho bater Odysseas com classe. Desmarcação fantástica do avançado na hora certa, ele que tinha ganho a bola antes de a deixar no médio, ainda no meio-campo do Sporting. Impressionante a capacidade de Matheus Nunes a deixar Weigl fora da jogada apenas na velocidade.

Polémicas: Artur Soares Dias entrou em modo pistoleiro, VAR deu-lhe uma ajuda

Artur Soares Dias mostrou ao que vinha ao primeiro minuto, com dois amarelos aos jogadores do Sporting. Os jogadores perceberam logo que tipo de homem estava no apito. Mas nem por isso o jogo deixou de ter alguns lances difíceis, resolvidos com ajuda do VAR. Paulinho marcou nos descontos da primeira parte mas com ajuda do video-árbitro foi possível ver que estava ligeiramente adiantado. O mesmo aconteceu no segundo tempo com Yaremchuk, que assistiu Darwin para o 1-3 aos 80 minutos. O golo seria também anulado por fora de jogo do ucraniano no início da jogada.

Os Melhores: o plano de Amorim e um 'Mustang' solto na pradaria

Matheus Nunes encheu o campo, muito por culpa do Benfica. Com a facilidade com que fugia à marcação, o médio português foi o grande desequilibrador do jogo: pela forma como foi comendo metros antes de isolar Paulinho no 2-0 e na maneira como viu o buraco no lado esquerdo da defesa do Benfica. Por ali arrancou em velocidade, entrou na área e bateu Odysseas com classe.

Paulinho marcou um golo de grande classe mas a forma como segurou a bola e esperou pelos colegas é de se destacar. É um avançado que não dá nas vistas pelos golos que faz mas pelo que oferece à equipa, sempre pronto sair da sua zona e ajudar a equipa a ter bola no último terço.

A forma como Rúben Amorim explorou as debilidades do Benfica, mesmo sem os pilares Coates e Palhinha, é de mestre. O técnico sabia que havia 'ouro' no lado esquerdo do Benfica, onde estavam Grimaldo e Everton, e dali viu a equipa criar dois dos três golos. Entendeu bem o jogo, ao contrário de Jorge Jesus.

Em noite 'não': Jesus nunca percebeu o que se passava, Everton também não

Quando Jorge Jesus resolveu tirar Everton Cebolinha aos 86 minutos, a Luz veio abaixo com uma monumental assobiadela ao extremo. E com razão. A quantidade de bolas que perdeu no ataque e o seu menor compromisso defensivo deixaram os adeptos com os 'cabelos em pé'. A juntar a isso tudo, a sua capacidade em complicar o simples, como se viu no primeiro tempo num lance na área leonina que pedia finalização de primeira e Cebolinha pôs-se com fintas.

Jorge Jesus culpou a eficácia pelo resultado e tem uma certa razão. O Benfica enviou duas bolas aos ferros, teve outras oportunidades, mas a verdade é que o técnico nunca conseguiu ver o que se passava em campo. Nunca teve capacidade para alterar o comportamento da equipa de modo a travar as saídas do Sporting, quase sempre em velocidade pelo meio por Matheus Nunes. As marcações individuais no meio-campo foram facilmente anulados pelo Sporting.

Reações

Amorim: "Estes rapazes continuam a surpreender toda a gente, até o treinador"

Matheus Nunes: "O mister acredita muito em mim"

Jesus: "Sporting esteve bem nos contragolpes e está aqui a diferença no resultado"

André Almeida: "O campeonato ainda não terminou, vamos dar a volta"

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