Os incidentes de racismo e outros tipos de discriminação reportados no mundo do futebol sofreram um aumento de 42% no setor profissional em 2019/20, segundo dados hoje revelados pela organização britânica Kick It Out.

Aquela entidade classifica o aumento na época que agora finda, em comparação com a época anterior (2018/19), de "chocante", com as denúncias de discriminação a subirem para 446 incidências no futebol profissional, com casos de racismo a subirem 53% e ainda um aumento "ainda mais alarmante" no abuso por orientação sexual: 95% de crescimento, para 117 queixas.

No futebol não profissional, os números caíram 14%, para 94 denúncias, algo a que a Kick It Out atribui como tendo sido causado pela interrupção devido à pandemia de covid-19, até porque, se se retirar o período de inatividade da comparação com o período homólogo, "deu-se um aumento de 11%".

Um inquérito levado a cabo pela organização e pela YouGov, com mais de mil adeptos de futebol em Inglaterra, mostra que 39% dos inquiridos "assistiu ou ouviu um ato de discriminação" nos estádios no último ano, com 71% a admitir já ter encontrado comentários racistas direcionados a um futebolista nas redes sociais.

No período analisado, entre janeiro e dezembro de 2019, 32% dos fãs admitem ter ouvido comentários homofóbicos num estádio, 41% nas redes sociais, e mesmo que 84% admita conseguir reconhecer abusos discriminatórios, 22% admite que seria "improvável" submeter uma denúncia.

O presidente da Kick It Out, Sanjay Bhandari, lembrou a pandemia de covid-19 e a morte do afro-americano George Floyd como eventos que "viraram o mundo do avesso", com uma resposta "positiva dos clubes, que aumentaram o trabalho comunitário" e a luta por igualdade de oportunidades, ao ajoelharem-se antes dos jogos após a retoma.

"Mas, para lá da superfície, o ódio e a divisão na sociedade mantêm-se como ameaças perniciosas. Os nossos estudos indicam um aumento severo da discriminação ao longo dos últimos dois anos. (...) Estas queixas são só a ponta do ‘iceberg', porque só reportamos o que nos é denunciado, e não há um plano geral sobre todo o mundo do futebol”, explicou, citado em comunicado.

Segundo Bandhari, "todos precisam de fazer mais e tomar posição" para um futebol mais inclusivo, pedindo "melhor regulação e aplicação, que empresas de redes sociais façam parte da solução, que clubes e organizações peçam mudança e sancionem adeptos que ofendam outros", assim como um papel de advocacia da parte dos jogadores.