Junho de 2020. O Liverpool sagrava-se campeão inglês de futebol pela primeira vez em 30 anos, com um domínio avassalador na Premier League. Os 'Reds' terminaram a temporada com 99 pontos, 18 de avanço sobre o Manchester City, segundo classificado, e 33 (!!!) sobre o Manchester United, terceiro.

Sem grandes mudanças no plantel e até com algumas contratações, como Diogo Jota, acreditava-se que a temporada 2020/21 fosse a de confirmação da supremacia da formação orientada por Jurgen Klopp. Mas a realidade está a ser bem diferente. Este fim de semana o Liverpool viu-se derrotado em casa pelo vizinho e rival Everton por 2-0. Foi a quarta derrota seguida em casa para o campeonato inglês, algo que não sucedia na história do clube há quase 100 anos.

Mais derrotas do que nas duas anteriores temporadas juntas

Mas esse não é o único dado negativo da surpreendentemente negativa campanha do Liverpool esta época. Atualmente no 6.º lugar da classificação, a uns já incríveis 19 pontos do imparável líder Manchester City ao fim de 25 jornadas e a cinco do último lugar de acesso à Liga dos Campeões, o Liverpool estava há 23 jogos sem perder com o Everton (12 empates e 11 vitórias). A última derrota com o rival de Merseyside havia sido em outubro de 2010. Em Anfield Road não era batido pelo Everton desde setembro de 1999.

Foi, ao mesmo tempo, a quarta derrotas seguida em Anfield para a Liga inglesa. Trata-se da pior sequência em casa em 98 anos: não acontecia desde...1923. Em 25 jornadas, o Liverpool leva 11 vitórias, sete empates e...sete derrotas. São já mais derrotas na Liga inglesa do que nas duas anteriores temporadas juntas. Na temporada passada, por esta altura, os 'Reds' tinham 73 pontos e seguiam invictos.

Um cenário que ninguém esperava no início da presente época e que também não era fácil de imaginar até há bem pouco tempo. É que há oito jornadas, à passagem da 17.ª ronda, o Liverpool era o líder da Premier League. Mas aí surgiu uma derrota ante o Southampton, naquele que foi o seu primeiro jogo em 2021. Tratou-se da primeira das seis derrotas que sofreu desde então na competição, em nove jogos (dos quais só ganhou dois, tendo empatado o outro). Antes disso, porém, já tinha havido um sinal de alerta, com a histórica goleada sofrida frente ao Aston Villa.

As explicações: lesões na defesa não justificam tudo

Este mau desempenho não pode, naturalmente, ser dissociado do grande número de lesões que afetaram o clube, sobretudo no setor defensivo. Van Dijk, acima de tudo, mas também Joe Gomez e Matip. Fabinho e Milner também estão de fora, tal como Diogo Jota, que tão bem entrou na equipa aquando da sua contratação ao Wolverhampton, e agora até Jordan Henderson se lesionou com alguma gravidade frente ao Everton.

Isto levou a que Jürgen Klopp já tenha testado 16 duplas de centrais diferentes esta época, tendo aproveitado o mercado de transferências de Inverno para contratar os dois centrais: Ben Davies e Ozan Kabak.

Os problemas são defensivos, sim - esta temporada o Liverool leva 34 golos sofridos na Premier League; em toda a temporada passada, a do título, sofreu 33 - mas também no ataque nem tudo está bem.

Mas há problemas também na frente. Contra o Brighton, por exemplo, o Liverpool deu apenas um chute no gol. Nos últimos cinco jogos em casa, balançou as redes só uma vez, diante do City. É que apesar de Mohammed Salah, com 17 golos, seguir na frente da lista de melhores marcadores da Liga inglesa, o Liverpool soma menos 15 golos na competição em relação à mesma jornada na temporada passada (60 contra 45). Recentemente, por exemplo, contra o Brighton (derrota caseira por 1-0), o Liverpool fez apenas um remate na direção da baliza e nos últimos cinco jogos em casa só marcou por uma vez (na derrota por 4-1 frente ao City).

O próprio Klopp já deitou a toalha ao chão, no que toca à defesa do título. "Acho que este ano não conseguimos ultrapassar esta diferença pontual, para ser honesto. Temos de vencer jogos", disse após a recente derrota por 3-1 na visita ao Leicester. Depois de na temporada passada se ter tornado no campeão mais precoce da história da Premier League, ao garantir matematicamente a conquista do título na 31ª jornada, pode até esta temporada ver o City roubar-lhe esse recorde, caso consiga uma combinação difícil, mas possível de resultados.

A Liga dos Campeões como tábua de salvação

A Taça da Liga e a Taça de Inglaterra - eliminado recentemente pelo Manchester United, num fatídico mês de janeiro - também 'já lá vão'. Sobra, claro, a Liga dos Campeões. E aí as coisas até estão a correr bem. No meio de tão devastadora sequência a nível interno, o Liverpool venceu fora o Leipzig na primeira mão dos oitavos-de-final da Champions.

Campeão da Europa há duas temporadas e eliminado pelo Atlético de Madrid nos oitavos de final na temporada passada, recuperar o ceptro perdido para o Bayern em 2019/20 poderá, pois, ser a única forma de o Liverpool salvar uma época que não está, de todo, a correr como o esperado. O regresso de alguns jogadores, entre eles Diogo Jota, que tão boa conta de si deu pelos 'Reds' na fase de grupos da Liga dos Campeões, pode ser aqui determinante.

Mas será preciso mostrar muito mais do que a equipa tem mostrado em 2021. Desde o virar do ano, o Liverpool disputou 12 jogos. Ganhou quatro, empatou um e perdeu...sete.