A história dos Mundiais Femininos só se faz através de momentos marcantes e icónicos e, por isso, o SAPO Desporto reuniu para si uma lista de dez acontecimentos que ficaram eternizados até hoje na história de competição que completa em 2023 a sua nona edição.

Desde a estreia em 1991, elegemos alguns golos, conquistas e conquistas que vale a pena ver.

#10 - Carli Lloyd não é de meias medidas e faz um hat-trick na final do Mundial em 2015

Os Estados Unidos enfrentavam o Japão na final do Mundial em 2015, com vitória final para os norte-americanos por 5-2, mas não é esse o principal destaque do jogo. Quem brilhou foi Carli Lloyd num autêntico 'grito de revolta' depois de um início mais apagado e de uma explosão na fase final da competição.

A história do jogo faz-se quase toda através de um hat-trick que começou aos três minutos. Lloyd parecia estar longe do golo, mas um cruzamento de Megan Rapinoe fez com que aparecesse subitamente junto ao poste para fazer o 1-0.

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Dois minutos depois, outra vez Lloyd a responder de forma acertiva a um pontapé de canto, depois de um calcanhar de Julie Ertz.

Mas o melhor ficou reservado para o fim. A média norte-americana girou em torno de uma defesa japonesa e, ainda em zona do meio-campo, atirou em chapéu para o hat-trick e sem alcance para Ayumi Kaihori. Um dos golos mais sublimes das histórias dos Mundiais femininos que coroa uma exibição notável na final.

Veja o golo:

Agora, com 40 anos, já não faz parte da Seleção.

#9 - Japão responde ao terramoto e ao tsunami com a conquista do Mundial em 2011 frente aos Estados Unidos

Em 2011, o Japão respondeu dentro de campo aos problemas humanitários que afetaram o país. Um terramoto e um tsunami causaram milhares de mortos no país.

Precisamente nesse ano, a seleção feminina japonesa disputava o Mundial, mas sem grandes expectativas, até que as fraquezas viraram forças frente ao todo-poderoso Estados Unidos.

Até a chegada à final, já todos estavam surpreendidos com a qualidade de jogo da equipa, mas o melhor estava reservado para os últimos instantes. A inevitável Alex Morgan ainda adiantou os EUA, mas foi já ao cair do pano que as japonesas empataram por Homare Sawa. Tudo ficava reservado para os penáltis e aí foi a bravura asiática que se superiorizou à norte-americana. De referir ainda que esta foi a primeira equipa da Ásia a vencer um Mundial, na categoria masculina e feminina. Todo o mundo ficava rendido a esta geração.

#8 - Camarões quase abandonaram o campo frente à Inglaterra em 2019 por causa do VAR

Polémica foi a entrada do VAR no Mundial de futebol feminino em 2019, já depois de ser uma tecnologia consolidade no futebol masculino. O problema aqui foi que a decisão de se utilizar o VAR foi apenas decidida... três meses antes da competição e sem a devida formação aos árbitros.

Entre as diversas falhas de comunicação, podemos dizer que o caldo entornou no duelo entre Inglaterra e Camarões a contar para os oitavos de final. Os africanos quase sairam do terreno de jogo e passamos a explicar o porquê.

Primeiro, anulou-se um golo à inglesa Ellen White por fora de jogo, mas o VAR retificou a decisão. Depois, foi o oposto: Ajara Nchout viu um golo ser-lhe anulado pelo VAR e ficou em lágrimas no relvado. O jogo ficou parado ainda durante algum tempo e as jogadoras camaronesas não queriam mesmo voltar ao jogo.

Ainda assim, apesar dos protestos, o encontro foi reatado, e no final a Inglaterra venceu por 3-0.

#7 - Kelly Smith conseguiu dar mais nas vistas pelos festejos nos golos em 2007

Kelly Smith já tinha planeado o que iria fazer caso marcasse pela Inglaterra ao Japão na fase de grupos do Mundial em 2007: "se eu marcar, vou tirar a minha chuteira e beijá-la porque ninguém fez isto antes", contou posteriormente.

Na estreia de Inglaterra nesse Mundial, frente ao Japão, Smith cumpriu à linha o que tinha planeado depois de um bis que ainda assim não impediu o empate frente às japonesas.

Aos 81 minutos, um golo de pé esquerdo, e claro, descalçou a chuteira e beijou-a várias vezes. Dois minutos depois, mais um golo, mas de pé direito. O que apenas mudou foram os beijos... nas duas chuteiras descalças.

Um momento que ficou icónico e eternizado pelo teor dos festejos. Era já um ritual da jogadora neste Mundial, que terminou a carreira em 2017.

Kelly Smith beija as chuteiras
Kelly Smith beija as chuteiras créditos: MARK RALSTON / AFP

#6 - Brandi Chastain tirou a camisola depois de marcar o golo da vitória final dos EUA em 1999

Já falamos de um festejo icónico de Inglaterra, mas também há outra a ficar para a história dos Estados Unidos. Na Califórnia, em 1999, as norte-americanas e a China apenas iam decidir a final nas grandes penalidades. Brandi Chastain ficou com o penalti decisivo e não falhou. Mas não foi a finalização que chamou mais a atenção. O festejo fez-se forma, no mínimo insólita. A jogadora tirou a camisola e festejou efusivamente o triunfo. Um momento também de entrada da Seleção Feminina na Cultura Pop.

Este era também um importante momento de impulso para o futebol feminino, inicialmente sem o devido valor da FIFA.

#5 - Alemanha conquistou o Mundial em 2003 graças a um Golo de Ouro

Sim, também no Mundial de futebol feminino já houve o tão famoso Golo de Ouro. Tudo aconteceu na final em 2003 entre Alemanha e Suécia, com desfecho para as jogadoras alemãs.

Hanna Ljungberg até surpreendeu ao adiantar a Suécia, mas Maren Meinert empatou tudo e todas as decisões ficavam reservadas para o prolongamento.

Foi aí que entrou em vigor o Golo de Ouro e quem marcasse ganhava. A defesa recém-entrada Nia Künzer apareceu na área na marcação de uma falta e fez o 2-1 que fechou o jogo. Uma final em que não há dúvidas sobre quem foi a responsável pela vitória.

#4 - Mia Hamm fez história e passou de avançada para guarda-redes num jogo dos Estados Unidos

Este é um momento logo entre as primeiras edições do Mundial, em 1995, mas que ficou eternizado pela utilização de uma avançada enquanto guarda-redes. Em jogo da fase de grupos frente à China, os últimos cinco minutos podiam ter sido de terror após a expulsão da guardiã Briana Scurry. Não houve problemas de maior, porque a goleadora de serviço, Mia Hamm, agarrou nas luvas e foi para junto das redes.

No final do jogo, um 3-3 entre ambas as formações.

#3 - Guarda-redes dos EUA perde a titularidade, vem a público criticar e é expulsa da seleção

Em 2007 estalou o verniz na Seleção Feminina dos Estados Unidos depois de uma goleada sofrida nas meias-finais do Mundial frente ao Brasil em que a habitual guarda-redes titular, Hope Solo, perdeu surpreendentemente o lugar para Briana Scurry, que teria um histórico mais favorável contra o adversário.

Mas a verdade é que nada correu bem à guarda-redes nem aos Estados Unidos. Um auto-golo derivado da falha de comunicação na defesa e a genialidade de Marta cilindraram as norte-americanas com um 4-0 final.

Se tudo já estava mau, pior ficou com as declarações de Hope Solo na zona mista no final do encontro: "Foi a decisão errada [dar a titularidade à guarda-redes suplente], e acho que qualquer um que perceba alguma coisa sobre o jogo sabe disso. Não há dúvida de que eu teria feito aquelas defesas. Não importa o que alguém fez num jogo de medalha de ouro olímpica há três anos", criticou.

Os comentários rapidamente se tornaram públicos e a jogadora foi expulsa da Seleção.

#2 - Alemanha não sofreu qualquer golo no Mundial de 2007, muito pela ação da guarda-redes Nadine Angerer

Um Mundial de 2007 que foi de glória para a Alemanha... sem qualquer golo sofrido e com o título na mão. Seis jogos disputados, inclusive frente a adversários de peso como a Noruega, Brasil e Japão, mas a bola nunca entrou nas redes.

Para isso, muito contribuiu o nível exibicional da guardiã Nadine Angerer, um autêntico muro entre os postes.

#1 - 2019, o ano em que Rapinoe desafiou Donald Trump e entrou no Mundial para brilhar

Existem muitos casos em que o futebol se mistura coma política e este é mais um que nos remete para o Mundial em 2019. Megan Rapinoe, que curiosamente vai disputar o seu último Mundial este ano antes de pendurar as chuteiras, tinha deixado a garantia que não iria à Casa Branca, na altura de Donald Trump, caso os EUA vencessem a competição.

O então líder norte-americano respondeu na rede social Twitter e gerou-se uma grande polémica em torno do caso. Megan Rapinoe respondeu dentro de campo e entrou para brilhar.

Destaque para o jogo dos quartos de final frente à França, em que marcou e teve um festejo que perdurou até ao final da competição: Uma pose de estátua com os pés juntos e braços para cima. Na final frente aos Países Baixos, exatamente a mesma caricatura.