Disputar o Campeonato do Mundo de Clubes de 2025 dará uma grande recompensa económica, mas os prémios exorbitantes podem aprofundar as desigualdades na América Latina, onde a disparidade entre as equipas grandes e pequenas já é enorme.

A FIFA vangloria-se porque o inédito torneio, que começará no próximo sábado (14), nos Estados Unidos da América, com a presença de 32 clubes de todo o mundo, distribuirá "um prémio recorde" de mil milhões de dólares.

O campeão receberá 125 milhões de dólares (109,4 ME), o equivalente a 38% do valor de mercado do plantel do Flamengo, o mais caro da América Latina, segundo o portal especializado 'Transfermarkt'.

Nem o mais otimista, claro, aposta que o grande prémio vai escapar das mãos de algum representante da Europa, alguns dos quais são financiados por ricos estados Árabes, como é o caso do Paris Saint-Germain e do Manchester City.

Mas a mera participação garante 15,2 milhões de dólares (13,3 milhões de euros) às equipas sul-americanas, um pouco menos do que o valor do plantel do Atlético Nacional, clube mais vitorioso da Colômbia, a quarta economia da América Latina.

Para os representantes da América do Norte, os mexicanos Pachuca, Monterrey e Cruz Azul, além do Inter Miami, do Seattle Sounders e do Los Angeles FC dos EUA, o prémio pela participação é de 9,5 milhões de dólares. O montante é um pouco menor que o valor da transferência do jogador mais valioso do campeonato mexicano, o avançado Alexis Vega, do Toluca, segundo o 'Transfermarkt'.

"Recurso adicional" para investir

As receitas dos participantes podem aumentar por cada vitória (2 milhões de dólares) ou empate (um milhão de dólar) na fase de grupos e por cada eliminatória ultrapassada após a fase de grupos: 7,5 milhões de dólares por entrar nos oitavos de final; 13,125 milhões de dólares pelos quartos de final, 21 milhões de dólares para quem chega às meias-finais, de acordo com a FIFA.

O torneio "continua a marcar uma lacuna de desigualdade que já existe e está a tornar-se cada vez maior", disse à AFP Christian Solano, autor do livro 'El negocio del fútbol".

Solano destaca que, no caso sul-americano, os participantes serão os clubes tradicionalmente mais ricos, entre eles os argentinos River Plate e Boca Juniors e os brasileiros Flamengo e Palmeiras.

Brasil e Argentina, argumenta o autor, costumam dominar os torneios de clubes da região, por isso o desequilíbrio com as novas receitas tende a aumentar face aos seis rivais com um poder aquisitivo menor.

"São fundos importantes e também são um recurso adicional para um ano especial, que exige que esses fundos sejam investidos para disputar a competição", disse em fevereiro o presidente do River Plate, Jorge Brito, ao portal 'La Página Millonaria'.

Para este ano, segundo a imprensa local, o River fez jus ao apelido de 'Milionário' e pagou mais de 50 milhões de dólares para contratar jogadores campeões do mundo pela seleção argentina como Gonzalo Montiel e Germán Pezzella, entre outras contratações.

"Internacionalizar" a marca

Com o dinheiro arrecadado no torneio da FIFA, os clubes latino-americanos podem investir em infraestrutura, incluindo nos escalões de formação, fontes milionárias de receita quando surge um novo talento.

"Como ajuda, é certamente algo muito importante, tanto no futebol como na situação financeira do clube em geral", disse recentemente à AFP o ex-avançado da seleção francesa, David Trezeguet.

Uma boa campanha no Mundial de Clubes ou uma estratégia de marketing bem-sucedida não só garante receitas consideráveis, mas também uma internacionalização da marca até mercados inexplorados, como o africano e o asiático.

"Se houver a oportunidade de ter um jogador que vai aumentar a exposição da nossa marca, obviamente vamos tentar contrata-lo", disse o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, ao jornal 'O Globo'.

A "dança dos milhões" que está a tomar conta dos grandes clubes da Argentina e do Brasil, no entanto, pode ser uma maçã envenenada.

Várias autoridades do futebol brasileiro, incluindo treinadores e presidentes de clubes, advertiram sobre a necessidade de impor um fair play financeiro e alertaram para os valores exorbitantes pagos em salários e passes de jogadores.

Christian Solano afirma que existe uma "bolha" que pode estourar a qualquer momento devido ao aumento constante dos preços e à possível incapacidade dos clubes de acompanhar o ritmo do mercado.