
Já dizia Cruyff que o mais difícil no futebol é jogar simples...é verdade, mas também é seguro dizer que não ajuda quando se complica demasiado.
Roberto Martínez procurou surpreender ao colocar João Neves na lateral direita e Vitinha no banco, duas opções que, sendo benevolente, não tiveram o efeito desejado.
Apesar de um arranque que até deu boas indicações, rapidamente os alemães tomaram conta da partida, valendo nessa altura a boa exibição de Diogo Costa.
Portugal acabou a primeira parte de tática e cabeça feitas num nó, que ficou ainda mais apertado com o golo de Wirtz. Vendo que as invenções não resultavam, Martínez lá teve a humildade para, não só lançar sangue novo, como também colocar os jogadores nos seus lugares.
E o resultado não poderia ter sido melhor, com dois golos no espaço de cinco minutos, que colocam Portugal na final da Liga das Nações, seis anos depois. Pelo meio mataram-se dois borregos, um com 25 anos, outro com 40.
O jogo: Pau que nasce torto, às vezes endireita-se
Com o apito inicial, percebeu-se imediatamente que João Neves era um falso lateral, vindo, tal como Nuno Mendes, para zonas interiores, por forma a que Portugal ganhasse superioridade no miolo.
Apesar de boas iniciativas nos primeiros minutos, Portugal foi começando a recuar e a anichar-se junto à sua área, onde Diogo Costa fazia o que podia para manter a sua baliza a zeros.
Na segunda metade da primeira parte, Portugal limitou-se a defender; incapaz de ter bola, o jogo ofensivo da seleção remetia-se a lançamentos longos para o ataque, deixando jogadores como Trincão, Bruno Fernandes ou Bernardo Silva a ver as bolas passar-lhes por cima.
Tanto Portugal, como o próprio jogo, pareciam atados, mas o golo de Florian Wirtz logo no arranque da segunda parte acabou por se revelar um mal que veio por bem. A perder, Martínez desligou o complicómetro e relançou a equipa no jogo com as entradas de Nélson Semedo, Vitinha e, principalmente, Francisco Conceição que rendeu o outro Francisco, o Trincão. E esta troca de 'Chicos' acabou por se revelar decisiva para o desfecho do jogo.
O impacto de Conceição foi praticamente imediato e, aos 63 minutos, o extremo lembrou-se do que o pai fizera há 25 anos em Roterdão e, da direita para o meio, rematou em arco para um golo fantástico!
As brasas estavam espalhadas e eram agora os alemães quem se queimavam.
Aproveitando o embalo, Portugal continuou a carregar e consumou a cambalhota no marcador apenas cinco minutos depois; grande combinação entre Bruno Fernandes e Nuno Mendes, com o lateral esquerdo a entrar na área e a servir Ronaldo, que apenas teve de encostar.
Até final a equipa das quinas teve de conter a reação germânica que, apesar de intensa, apenas se materializou numa verdadeira oportunidade, aos 83 minutos, com o remate de Adeyemi ao poste. Portugal ainda teve oportunidades flagrantes para aumentar a vantagem, mas aí brilhou Ter Stegen, que negou golos feitos a Jota e Francisco Conceição.
Segue-se agora a final da Liga das Nações, onde a seleção portuguesa irá defrontar o vencedor da outra meia-final, entre a França e a Espanha, atual campeã da Europa.
O momento: Tal pai, tal filho
À hora de jogo, e já em desvantagem, Martínez fez entrar Francisco Conceição para o lugar do desinspirado Trincão. O extremo da Juventus não demorou muito a fazer-se notar, assinando o melhor golo da noite; Chico arrancou da direita para o meio e, à entrada da área, fez um golo espetacular, relembrando aquilo que o pai fizera à 'Mannschaft' 25 anos antes...mais uma boa memória contra a Alemanha para a família Conceição.
O melhor: Incansável e irrepreensível
Balanceado com a conquista da Liga dos Campeões pelo Paris Saint-Germain, precisamente em Munique, Nuno Mendes parecia que não tinha deixado o relvado desde o passado sábado.
Mesmo durante uma primeira parte de menor nível da seleção, o lateral esquerdo português foi sempre o mais constante, mostrando-se muito ao jogo e mantendo sempre uma intensidade alta.
Na segunda parte, e com a libertação das amarras táticas de Martínez, Nuno Mendes manteve o seu nível, agora já acompanhado pela restante equipa, revelando-se intratável nos duelos.
Numa das muitas subidas, e após combinação com Bruno Fernandes, o '25' das quinas assistiu Ronaldo para o 1-2, que deu o triunfo à equipa portuguesa.
Se dúvidas houvessem, esta partida serviu para comprovar que, nesta altura, Nuno Mendes é sem dúvida um dos melhores laterais esquerdos do mundo...talvez o melhor.
O pior: Gigante com pés de barro
Nick Woltemade foi uma das novidades no onze inicial da Alemanha. O avançado do Estugarda surgiu como homem mais avançado, compondo o trio de ataque com Wirtz e Sané.
O gigante de 1 metro e 98 procurou fazer-se valer da sua estampa física para ganhar vantagem sobre Ruben Dias e Gonçalo Inácio, contudo, acabou por ser totalmente anulado pela defesa portuguesa, que nunca deixou Woltemade ganhar lances dentro da área, nem segurar a bola para combinar com os colegas.
De destaque há apenas um remate após uma bola perdida dentro da área, e que obrigou Diogo Costa a uma boa defesa...muito pouco para um avançado titular alemão.
Comentários