O economista Fernando Tenreiro defendeu hoje que os limites dos gastos com salários de futebolistas, transferências e taxas de empresários a 70% das receitas dos clubes, aprovados pela UEFA, vão beneficiar os maiores emblemas europeus.

Os Regulamentos de Licenciamento de Clubes e Sustentabilidade Financeira foram aprovados na quinta-feira pelo Comité Executivo do organismo que rege o futebol europeu, naquele que é um novo quadro regulamentar, que pretende contribuir para a estabilidade financeira das equipas, entrando em vigor em 01 de junho de 2022.

Contudo, será aplicado de forma gradual, ao longo de três anos, para permitir que os clubes tenham tempo de se adaptarem.

“Há uma questão que nos interessa a nós, que é a equidade e o equilíbrio competitivo. O que acontece é que as regras da UEFA têm transformado cada vez mais, ou têm levado cada vez mais, aos maiores clubes dos países mais pequenos, como Portugal, a não irem às fases finais da 'Champions League' e mesmo ao nível, raramente, da Liga Europa”, começou por dizer o economista, em declarações à agência Lusa.

Considerando que o novo quadro beneficiará principalmente os ‘tubarões’ europeus, Fernando Tenreiro reconhece, por outro lado, que os “escândalos” que alguns clubes viveram no passado podem, a partir de agora, ser evitados.

“O controlo dessa questão [financeira] é sempre bom para evitar os escândalos que se sabe que têm existido ao nível dos maiores clubes italianos e franceses, creio. Há imensos problemas dos maiores clubes dos maiores países que a UEFA não tem resolvido, daí que tenha uma preocupação de reforma do setor, uma reforma fiscal, uma reforma total, o que é sempre bom”, argumentou.

Apesar de os novos requisitos terem aumentado o desvio aceitável de 30 para 60 milhões de euros em três anos, os requisitos para garantir o valor justo das transações, melhorar o balanço financeiro dos clubes e reduzir dívidas foram significativamente reforçados.

Segundo Fernando Tenreiro, caso os maiores clubes portugueses “entrem numa situação de débitos extremamente elevados", podem vir a deparar-se com problemas.

“Do débito poder ir de 30 para 60 milhões, quem puder fazer isso com mais facilidade e resolver a curto ou a médio prazo são precisamente os maiores clubes dos maiores países. Benfica, Sporting, FC Porto, Braga, se entrarem numa situação deste género de débitos extremamente elevados ou ainda mais elevados, para o dobro do que é permitido agora, certamente que estarão numa situação muito pior”, defendeu.

Por fim, deixa um reparo aos Regulamentos de Licenciamento de Clubes e Sustentabilidade Financeira: “É bom fazer a reforma, mas estão preocupados com a sustentabilidade financeira. Não falam de sustentabilidade desportiva, que fica no jogo dos campeonatos.”