Um técnico visionário que construiu um estilo e conduziu o River Plate ao topo, um ex-jogador elegante que levou o seu talento à França: ninguém na Argentina é indiferente quando o assunto é Marcelo Gallardo, que poderá no futuro assumir a seleção do seu país ou engrandecer o seu nome na Europa.

Aos 43 anos, Gallardo é o técnico mais vencedor da história do River Plate.

Desde que assumiu o comando da equipa em junho de 2014, Gallardo, um ídolo dos 'millionarios' como jogador nas décadas de 1990 e 2000, conquistou dez títulos (sete internacionais e três domésticos) em 13 finais disputadas.

E este sábado, em Lima, diante do Flamengo, disputará a sua terceira final de Taça Libertadores como treinador, após ganhar as edições de 2015, contra o Tigres do México, e 2018, diante do rival Boca Juniors.

"Esperava ter sucesso. Preparei-me para ter sucesso. Mas viver o que vivemos nesse período, não esperava. Muitos acontecimentos sucederam-se e que irão marcar uma época na história do clube. Quando nos reunimos pela primeira vez com Enzo [Francescoli, diretor do River e responsável por contratar Gallardo], além da vontade de formar uma boa equipa, queríamos marcar uma linha de trabalho e de conduta que nos mobilizasse", lembra Gallardo.

"Queríamos gerir algo sólido, a partir do trabalho, da seriedade e do compromisso, que fosse colocado em prática e alcançasse objetivos. Às vezes é possível, outras vezes não", completou Gallardo, comandante de um River que, três anos antes da sua chegada, vivia a pior fase da sua história após descer de divisão na Argentina.

Os elogios de Guardiola

A era Gallardo no River Plate tem sido tão 'monumental' quanto o nome do estádio do clube.

Gallardo é o autor intelectual do sucesso futebolístico do clube ao impor um estilo de jogo que não depende tanto da individualidade dos jogadores, uma filosofia confirmada por uma sucessão de títulos. Uma filosofia que encanta Pep Guardiola, treinador do Manchester City.

"Não percebo como Gallardo não foi nomeado entre os melhores treinadores do mundo, não só por um ano, mas por tanto tempo. O que ele fez no River é incrível, a nível de resultado, de consistência ano após ano", questionou recentemente o técnico dos 'citizens', ele que é outro revolucionário no futebol.

O River Plate aposta numa esquema 4-1-3-2 com um futebol ofensivo, ambicioso, com rápida circulação da bola e pressão constante na defesa adversária.

Agora, no horizonte do popular clube argentino aparece o Flamengo, melhor equipa do futebol brasileiro e que ganhou, com base no bom futebol e em resultados convincentes, o direito de disputar a final da Taça Libertadores pela primeira vez desde 1981, quando Zico e companhia foram campeões do continente e do mundo.

"Duas ótimas equipas vão defrontar-se. Merecem estar na final. O Flamengo foi de menos a mais, derrotou o Grêmio (nas meis-finais). Vinha a mostrar coisas positivas, mas nem sempre teve a possibilidade de jogar assim. Sofreu com o Emelec [nos oitavos-de-final] e hoje está num grande momento, líder do Campeonato Brasileiro e finalista da Taça Libertadores", analisou Gallardo.

O futuro? Orientar Messi e companhia na Seleção das Pampas

O futuro de Gallardo parece estar alinhado com a seleção argentina. O ex-jogador é um forte candidato para assumir o cargo de selecionador da Argentina, agora nas mãos de Lionel Scaloni, que não tinha experiência por clubes quando tomou as rédeas da seleção como interino, após a saída de Jorge Sampaoli, demitido depois do Mundial2018.

"Tenho de pensar na minha saúde, no meu tempo e também em ser feliz. Depois de cada ano, repenso a minha situação. Não tenho opinião formada para refletir sobre o que quero fazer, e é algo que todos deveríamos fazer. Por enquanto estou feliz e isso não quer dizer nada. Não é questão de ganhar ou perder. Tenho que ver como estou", explicou Gallardo, que tem contrato com o River Plate até 2021.

O ex-jogador e hoje técnico Diego Simeone, outro nome constantemente vinculado ao futuro da seleção Argentina, já deu o seu aval para que Gallardo seja o escolhido.

"É o melhor que podemos ter. Ele está muito bem à frente do River Plate há muitos anos, conhece o que o futebol argentino precisa, sabe o que as pessoas sentem nas ruas. Ele está próximo. Não quero propor o seu nome, mas estou a falar do ponto de vista do sentimento", confessou o atual técnico do Atlético de Madrid.

A Europa também é uma possibilidade. França é um destino conhecido para Gallardo, que defendeu como jogador as camisolas do Monaco e do Paris Saint-Germain. E as palavras de Guardiola têm peso para que o nome do argentino seja considerado seriamente no milionário mercado do velho continente. Gallardo já foi apontado como possível sucessor de Ernesto Valverde no Barcelona, um clube com muito altos e baixos sob a batuta do espanhol.