É compreensível que os adeptos do Leeds United sintam uma horrível sensação de 'deja-vu', quando uma época que prometia tanto sob a orientação de Marcelo Bielsa 'descarrilou' com a entrada do novo ano.

As centenas de visitantes que preencheram uma das bancadas do Griffin Park, casa do Brentford, receberam um cantico familiar depois de ficarem a perder: "O Leeds está a cair outra vez".

Os homens de Bielsa conseguiram resgatar um ponto na última terça-feira para evitar que as 'abelhas' (alcunha do Brentford) os ultrapassassem na tabela do Championship, mas o empate a uma bola significa que o Leeds apenas 'angariou' 10 pontos nos últimos 11 jogos.

A vantagem de 11 pontos sobre os perseguidores por um lugar nos dois primeiros lugares, que dão acesso à promoção à Premier League, foi pulverizada e o Fulham pode tirar o Leeds dos dois primeiros lugares, caso vença o Millwall esta quarta-feira.

Uma história familiar para aqueles que têm vivido os 16 anos no 'purgatório' à espera pelo regresso de um dos maiores clubes inglês ao nível mais alto.

"Medo e aversão é o que os adeptos do Leeds associam à viragem do ano", disse Phil Hay, correspondente de longa data do Leeds, agora a trabalhar para o site 'The Athletic'.

Relegado da Premier League em 2004, apenas três anos depois de alcançar uma meia-final da Liga dos Campeões, o pior estava para vir, ao ser relegado novamente em 2007 para terceiro escalão inglês, onde passou três épocas.

Contudo, passaram a maior parte do tempo no Championship, uma liga de 46 jogos que exige imensa resistência e habilidade.

"A liga mais difícil do mundo"

"É a liga mais difícil do mundo em termos físicos e de intensidade", afirmou o treinador do Brentford Thomas Frank.

Infelizmente para o Leeds e para o seu enorme investimento financeiro no projeto de Bielsa, o muito proclamado argentino tem a 'fama' de ver as suas equipas desvanecer fisicamente na segunda metade da época, tendo dificuldade em manter a intensidade exigida.

Na última época, o Leeds também liderava o Championship na viragem do ano, mas acabou atrás de Norwich e Sheffield United na primavera e caiu frente ao Derby nas 'meias' do playoff de subida.

A estreia de Bielsa em Inglaterra foi explosiva. A vitória de 4-2 do Derby no playoff em Elland Road (casa do Leeds) foi uma vingança para os 'Rams' depois de Bielsa admitir que enviou um dos seus assistentes para expiar o centro de treinos do Derby antes de uma partida entre os dois em janeiro de 2019.

O treinador de 64 anos pagou a multa de cerca de 238 mil euros (200 mil libras) que o clube recebeu depois do escândalo 'spygate' e acabou por receber o prémio de fair-play da FIFA por deixar o Aston Villa marcar num empate a uma bola em abril, depois do Leeds ter chegado à vantagem quando um jogador do Villa estava lesionado.

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Nas últimas semanas, Bielsa tem sido mais hostil, insistindo que o Leeds se está a aguentar física e mentalmente.

"A equipa não está a jogar pior do que estava", insistiu o antigo selecionador argentino. "A equipa não está a correr menos que antes. Eles estão a correr ainda mais. E estão tão confiantes como estavam".

Essa confiança será colocada à prova, dentro e fora de campo, nos 14 jogos que restam na campanha e, potencialmente, mais três nos playoffs caso não consigam garantir um dos dois primeiros lugares.

Tal como muitos clubes na Championship, o Leeds têm apostado em alcançar os ricos da Premier League, correndo o risco de ultrapassar as regras do fair-play financeiro da Liga Inglesa de Futebol (EFL) caso permaneça na segunda divisão por mais uma época.

"Bielsa e a sua equipa custam cerca de 7,14 milhões (por ano)", revelou o dono do Leeds, Andrea Radrizzani ao jornal inglês 'The Times' no início da época.

"Não é sustentável financeiramente manter este nível de salários que ultrapassa nesta altura os 30 milhões de libras [mais de 35 milhões de euros], provavelmente 33 milhões de libras [39 milhões de euros] com o Marcelo [Bielsa] e perto de 40 milhões (de libras) [cerca de 47 milhões de euros] com os restantes treinadores".

O Leeds tem mais consciência dos ricos de gastar mais do que o que se tem do que outros clubes do Championship.

A sua queda começou com as enormes dívidas acumuladas durante o tempo de Peter Ridsdale como presidente do clube, "perseguindo o sonho" de vencer a Premier League na viragem do século.

Apostar em Bielsa é também um risco, mas um risco no qual o Leeds terá de acreditar de dará bom resultado no final da época.