O ex-diretor desportivo do Sporting Octávio Machado confessou hoje ter ficado “magoado” com as suspeitas que disse terem sido levantadas pelo acesso ao seu email, na audição realizada na 12.ª sessão do julgamento do processo ‘Football Leaks’.

“Senti-me magoado quando tive a sensação de que alguém poderia suspeitar de que eu poderia ter feito algo ilegal”, afirmou o antigo responsável pelo futebol ‘leonino’, acrescentando: “Senti-me violado no meu direito de privacidade e que era suspeito para um cidadão qualquer. Isso chocou-me profundamente e não admito a ninguém”.

Octávio Machado admitiu que utilizava pouco a caixa de correio eletrónica e que só soube que alguém acedeu ao email quando foi informado pelas autoridades dessa situação.

Paralelamente, o ex-dirigente ‘leonino’ teve dificuldades em identificar alguns documentos em tribunal que foram publicados em 2015 na plataforma criada por Rui Pinto, reconhecendo apenas um acordo de compromisso entre o Sporting e o jogador peruano Andre Carrillo.

Questionado pelo Ministério Público (MP) sobre o ataque informático ao clube de Alvalade e o impacto causado pela divulgação dos documentos na Internet, Octávio Machado mostrou-se algo surpreendido e frisou “jamais” ter pensado que alguém “tivesse interesse” no seu computador.

“Nunca pensei que tivesse a dimensão que veio a atingir, mas não me afetava e não estava muito preocupado”, notou.

Ainda durante a manhã no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o coletivo de juízes ouviu também as testemunhas Rui Caeiro e Paulo Antunes, que integraram a SAD do Sporting.

Rui Caeiro, que exerceu também funções como vogal do Conselho Diretivo do clube, foi confrontado com quatro documentos pelo MP e teve dificuldades em reconhecer que tivessem passado pelo seu email. Com efeito, o antigo dirigente apenas identificou um documento que “muito provavelmente” teria passado pela sua caixa de correio eletrónica porque tinha a sua assinatura.

Já Paulo Antunes, antigo administrador não executivo da SAD ‘leonina’, assumiu com “certeza absoluta” não ter alterado a password do seu email e que o mesmo era somente utilizado para matérias ligadas ao clube. “Só soube que teria havido acesso ao meu email quando a Polícia Judiciária me chamou”, admitiu o advogado.

O julgamento prossegue de tarde com a audição das testemunhas Augusto Inácio, Vicente Moura e José Laranjeira.

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.