Volvidos nove anos desde a altura da destruição do histórico recinto, encarada com satisfação pelos amantes da modalidade no bairro das Cacilhas, as obras de construção da nova infra-estrutura desportiva estão paradas no "tempo e espaço", sem sinais aparentes de recomeço.

O facto, cujas causas a direcção do Sport Huambo e Benfica (Ex-Mambroa do Huambo) diz desconhecer, até ao momento, está a levar ao desespero a massa associativa do histórico clube.

Trata-se, pois, de um estádio que orgulhou, por várias décadas, a direcção, os sócios e os adeptos da agremiação, apesar de só poder albergar, à época, quatro mil adeptos.

Até ser demolido, o estádio, um dos primeiros a ser erguido na era colonial em Angola, possuía a melhor relva do país e uma das melhores pistas de atletismo em terra batida.

Foi palco, em 1981, de jogos internacionais, por altura da II edição dos Jogos da África Central.

Dez anos depois (1991), acolheu duas partidas entre as selecções do Huambo e a de sub-20 de Portugal, então campeã do mundo, com jovens promessas, como Brassard, Nélson, Capucho, Jorge Costa, Rui Bento, Paulo Torres, Peixe, Rui Costa, Figo, João Pinto, Gil e Toni.

Em 2011, por altura da demolição do campo, as autoridades locais destruíram, igualmente, o estádio do Recreativo da Caála, mas as obras deste último tiveram outro destino.

A infra-estrutura foi entregue em 2013, estando agora com capacidade para 10 mil espectadores, que acompanham as partidas do Girabola com mais condições de segurança.

A par destes, no Huambo existia o recinto do Electro (ex-Sporting), erguido em 1932, que também aguarda por intervenção, após ter sido demolido em 2015, pelo Governo local.

Voltando ao estádio do ex-Mambroa do Huambo, quem passa e olha hoje para o espaço onde estava localizado, não tem dúvidas de que se tornou um "monstro abandonado".

Conforme o reconduzido presidente de direcção do clube "encarnado", Amílcar Amândio Kandimba, até ao momento não houve qualquer esclarecimento dos ministérios da Juventude e Desportos e da Construção, responsáveis pela empreitada, sobre as razões da paralização.

Até aqui, a direcção do clube está sem horizonte temporal sobre o possível reinício das obras.

Segundo Amilcar Kandimba, a demolição do estádio, para dar lugar a outro (maior e moderno), foi feita sem consulta à direcção do clube, que se diz impotente ante à situação.

"Fomos colocados à margem de tudo, mesmo sendo beneficiários imediatos, que na altura consideramos a construção do novo estádio uma prenda", expressa.

O dirigente reafirma que não foram informados sobre os trabalhos e, por conseguinte, perderam parte da sua massa associativa, pelo facto de o estádio estar "ao Deus dará".

"Depois da demolição das bancadas e do camarote, remoção da relva, destruição dos balneários dos jogadores e do muro, o único trabalho feito foi a colocação da base de sustentação para as bancadas do novo estádio", informa o dirigente desportivo à ANGOP.

Amílcar Kandimba lembra que, antes da demolição e retirada da relva e da única pista de atletismo, o estádio era utilizado para treinos dos escalões de formação.

Esconderijo de marginais

Com o abandono das obras, por razões desconhecidas, o local foi transformado em refúgio de marginais, o que periga a vida das populações das zonas circunvizinhas.

A esse respeito, em Julho de 2014, a direcção do clube remeteu uma exposição sobre a situação do estádio ao Ministério da Juventude e Desportos, à época liderado por Gonçalves  Muandumba, e outra, em Maio de 2019, à actual ministra Ana Paula do Sacramento Neto.

"Antes do envio do ofício, a actual ministra da Juventude e Desporto visitou (2018) o recinto, e tinha prometido retornar as obras, em 2019, no âmbito da execução do Programa de Investimentos Públicos (PIP)", declara Amilcar Kandimba.

O presidente dos "encarnados" acrescenta que ofícios do género foram enviados aos governadores que dirigiram esta região do centro do país, desde o ano 2011.

O prazo de conclusão da infra-estrutura, co-financiada pelos ministérios da Construção e da Juventude e Desportos, era de apenas nove meses, mas já leva nove anos.

Para tal, foi feito um investimento inicial de 844 milhões, 462 mil e 654 kwanzas, parte do qual, correspondente à 1ª fase dos trabalhos, chegaram a ser desembolsados.

Em Abril de 2013, a empresa construtora (Omatapalo) retirou-se com os seus equipamentos e, com isso, os cidadãos vandalizaram na totalidade o muro de vedação que ainda sinalizava o estado de obras.

Por esses factos e diante da demora do Estado em solucionar o problema, a massa associativa do clube revoltada, por ver "morrer" uma grande parte da história do Mambroa.

O ancião Domingos Chilundula, de 74 anos de idade, lembra com nostalgia os tempos em que a equipa do bairro das Cacilhas enchia de glória e vaidade a massa associativa.

Nos anos 70, 80 e 90, o Mambroa contou com atletas de grande referência, como Lutukuta, Tony, Maria, Ralph, Julião, Manecas, Panzo, Rosário, Carnaval, Dongala, Geraldo, Vieira Dias, Figueiredo, Sousa, Dê, Chimalanga, Dala, Siba e outros, todos parte de uma história de várias décadas.

"Estou bastante chocado com a actual situação do estádio. É triste ver que o orgulho do bairro das Cacílhas, nos 70 e 80, transformou-se, nos dias de hoje, num aterro sanitário e esconderijo de marginais", desabafa o ancião, visivelmente triste.

Até à altura do fecho dessa reportagem, a ANGOP procurou ouvir a versão oficial das autoridades da província do Huambo, sobre o estado do estádio, mas sem sucesso.

Novos desafios

Conforme o dirigente do clube, Amílcar Kandimba, o retorno das obras de construção do novo estádio será um dos principais desafios da sua direcção.

De igual modo, vai apostar no reencontro da família Mambroa, com o recrutamento de novos sócios e patrocinadores, o que tem sido difícil pela situação actual do clube.

Outro foco, para o quadriénio 2020/2024, passa pelo cuidado do património existente, para um melhor rentabilização e sustento da agremiação desportiva.

Os "encarnados" do planalto central foram fundados a 29 de Setembro de 1931.

No passado, foram uma referência no desporto angolano, nas modalidades de basquetebol, sobretudo feminino, em que se sagrou vice-campeão nacional, e futebol.

Nessa última modalidade, foi campeão na era colonial, obteve o 2º lugar no pós-independência (1986) e o 3º (1982, 1985 e 1988).

Relegado para o segundo escalão, em 1998, o Mambroa foi o primeiro clube do país a contratar um atleta brasileiro, Rui Sousa, quando, na altura, dependia, exclusivamente, do patrocínio financeiro da direcção geral do Comércio Interno.

Foi, precisamente, no ano de 1984, que a direcção dos “encarnados”, ansiosa pelo título, trouxe o avançado Rui Sousa, cujos golos foram decisivos nas épocas seguintes, sobretudo em 1985, quando a equipa terminou na 3ª posição.

Teve também grande destaque em 1986, altura em que a equipa classificou-se na 2ª posição, mas com o mesmo número de pontos que o campeão da época.

De notar que a região do Planalto Central conta também com o estádio dos Kurikutela, inaugurado em 1947, que é a sede do Ferrovia do Huambo.

Tal como o Recreactivo da Caála, o Ferrovia do Huambo é um dos representantes desta região na 1ª divisão do campeonato nacional de futebol (Girabola).