A produtora e organizadora de eventos Inygon terminou 2020 “a crescer”, mesmo com a pandemia de covid-19, e pede que as marcas “abram os olhos” para o potencial dos esports, além de apoios e atenção do Governo.

Para a organizadora da Liga Portuguesa de League of Legends (LPLOL), entre outros torneios e eventos, o ano marcado pela pandemia de covid-19 foi de “sobrevivência”, e mesmo que tenha havido “preocupação” e a perda de duas pessoas a tempo inteiro, de 14 para 12, a verdade é que até houve um crescimento.

“Perdemos tudo na parte da indústria dos eventos. Tínhamos planeado trabalhar cerca de 11 eventos, e tivemos zero, ou um, porque trabalhámos um evento no Dubai, ainda antes do início. (...) Por outro lado, vimos um crescimento muito grande no digital”, realça João Cício Carvalho, que encabeça a empresa, em entrevista à Lusa.

As audiências “subiram bastante”, houve “mais procura destes conteúdos”, o digital “salvou o ano”, pelo que o objetivo para 2021 é “continuar o percurso”, mantendo os campeonatos, a que querem trazer “cada vez mais qualidade”, e ajudar a “trabalhar o profissionalismo neste desporto e evoluir tudo”.

“Fazer crescer a empresa, a modalidade, as equipas, dar-lhes mais oportunidades. Estamos a pensar, também, nas próximas modalidades em que vamos investir. (...) Vamos apostar mais no digital, porque os eventos são ainda uma incógnita”, prevê.

Formado em engenharia informática, mestre em ‘marketing’ e estratégia e aluno de doutoramento de ciências empresariais, fez uma tese sobre o potencial de mercado dos esports e, hoje, vê o ano de 2020 como “uma lição”, uma vez que o desporto dito tradicional parou durante vários meses e “a LPLOL continuou a mandar equipas para provas europeias, a desenvolver jogadores, exportar jogadores, a entreter os fãs”.

Sobre o que pode ajudar o setor a crescer, não tem dúvidas.

“Acima de tudo, falta mais marcas abrirem os olhos para o potencial deste mercado, e acima de tudo para o potencial de comunicação que tem”, atira.

A esse respeito, “falta mais interesse de fora”, que também a comunicação social olhe para o mercado “com outros olhos”, porque quem faz parte da indústria, como as empresas que já nela investem, “sabem o valor que isto tem”.

“Eu acho que não estamos muito longe do desporto, porque vejo isto como outra modalidade, mas temos uma vertente de investimento superior ao desporto”, considera, pedindo “mais apoios para as equipas”.

“Como há apoios para ‘startups’, mas não para associações desportivas a começar neste mercado. Mais apoios para atletas que são alunos, como há atletas estudantes [nas modalidades ditas tradicionais], e falta reconhecimento de que isto já não é só brincadeira. Se alguém quiser levar o futebol a sério, ninguém ‘goza’. Nos esports, ainda há muito o estigma”, comenta.

João Cício Carvalho, antigo jogador de Starcraft, quer usar a empresa para fazer crescer o mercado como um todo e, sobretudo, “dar oportunidade a esse pessoal de finalmente ter um percurso sólido a seguir” para “quem tem o sonho”, lembrando que mais de 20 portugueses já saíram da LPLOL para o estrangeiro.

Por outro lado, a nível global, está criada “uma pequena indústria”. “Já dá para ser analista, treinador, gestor de uma equipa... todo um universo para quem tem essa paixão e interesse”, aponta.

Na LPLOL, exemplifica, as equipas “já têm de ter contratos com os jogadores, o plantel organizado, um mínimo de salário para pagar aos jogadores”, uma série de “requisitos mais profissionais” que aproximam o setor do desporto.

Assim, tanto o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) como a secretaria de Estado da Juventude e do Desporto “teriam um apoio importante”, e até diz que “não há muito trabalho que seja necessário”.

“Não é assim tanta coisa que precisam de fazer, mas era uma intervenção que, aqui, era crítica. Estas coisas já eram suficientes para as equipas terem mais estabilidade”, como permitindo aos jogadores que possam apostar numa carreira profissional e não deixar os estudos, afirma.

No que toca a essa intervenção, refere o “pagamento dos prémios às equipas”, que não é pago nem tratado como prémio desportivo, como exemplo da necessidade de regular o mercado.

“Para os jogadores, [falta] trazer regulação do seu estatuto de trabalho, estatuto profissional, contratos, para ter a certeza que os jogadores, que ainda são muito novos, são protegidos e têm os seus direitos, e também para as equipas, que investem”, realça.

Numa “indústria muito rápida”, o “futuro é risonho”, porque o mundo é “cada vez mais digital”, e porque “enquanto houver jogos, aparecerão aqueles que vão querer competir”.

“Faço um paralelo: os esports e o ‘gaming’ estão para a informática um pouco como a Fórmula 1 está para a indústria automóvel. Enquanto houver computadores e necessidade de desenvolver ‘hardware’, haverá ‘software’ que puxe por ele, e os videojogos são um bom exemplo”, compara.

Da parte da Inygon, diz, este ano “também foi histórico”, com a aquisição dos direitos de transmissão em Portugal da LEC, ou o Campeonato da Europa de League of Legends, “um dos mais vistos do mundo”, que gerou “uma audiência vinda do Brasil significativa”, nota de “um passo de expansão, de internacionalização”.

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