O Presidente brasileiro defendeu esta terça-feira, durante uma reunião da ONU, que o avançado do Real Madrid Vinícius Júnior deu uma “lição” ao mundo ao insurgir-se contra os insultos racistas que sofreu no estádio do Valência.

“A lição que fica para nós desses episódios imperdoáveis é que, se Vini Júnior, de 22 anos, é capaz de se insurgir contra multidões hostis, não há dúvida de que podemos e devemos fazer mais para interromper esse assustador ciclo de violência”, destacou Luiz Inácio Lula da Silva numa mensagem de vídeo.

Lula, um dos primeiros a manifestar-se contra os insultos racistas recebidos pelo avançado da seleção da seleção brasileira de futebol e do Real Madrid na partida contra o Valência, garantiu que a grande repercussão que o episódio teve no Estádio Mestalla mostrou que "o racismo transcende as fronteiras".

O chefe de Estado do Brasil voltou a surgir publicamente em defesa de Vinícius, desta vez numa mensagem em vídeo, divulgada pela presidência, onde Lula da Silva se dirigia ao Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, na reunião realizada esta terça-feira na sede da entidade em Nova Iorque, na qual foi representada por sua ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

Lula da Silva aproveitou ainda a participação à distância para propor que a próxima reunião do Fórum seja realizada no Brasil, país com a segunda maior população de afrodescendentes do mundo, depois da Nigéria.

"Hoje, mais do que nunca, este Fórum é fundamental para o avanço da declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos afrodescendentes. A delegação brasileira reitera o seu compromisso com a bandeira da igualdade racial no cenário interno e internacional e deixa as portas abertas para a próxima sessão do Fórum no Brasil", destacou o Presidente do Brasil.

Durante um jogo da 35.ª jornada da Liga espanhola, que chegou a estar interrompido e terminou com a vitória da equipa anfitriã, por 1-0, Vinícius, que acabou expulso depois de agredir um adversário, mesmo no final do encontro (90+7), criticou a Liga espanhola e os adeptos com uma mensagem publicada nas redes sociais.

“Não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira. O racismo é normal na LaLiga. A competição acha que é normal, a federação acha que é normal e os adversários encorajam-no. Lamento-o. O campeonato, que já pertenceu a Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi, hoje pertence aos racistas", escreveu o futebolista no Twitter.

O Valência foi punido com o encerramento parcial de uma bancada do Estádio Mestalla, primeiro por cinco jogos e depois por três, após recurso do clube, sendo que o órgão federativo reduziu também o valor da multa, de 45.000 para 27.000 euros, mas rejeitou o pedido do clube para suspender cautelarmente a sanção imposta pelo Comité de Competição da RFEF na terça-feira.

A justiça federativa decidiu ordenar o fecho da bancada Kempes, de onde terão saído grande parte dos insultos, entre os quais o único relatado no relatório do árbitro, que refere que, aos 73 minutos, um adepto chamou "macaco" a Vinícius Júnior.

O Comité de Competição considerou que, tendo em conta as provas apresentadas, os insultos começaram ainda no exterior do estádio, no momento da chegada do Real Madrid, continuando no interior, com o organismo a salientar que, entre outros, ouviu-se "um grito generalizado nas bancadas" a chamar "macaco" ao brasileiro perto do final do encontro.

"Este Comité considera que ficou provado que, apesar dos esforços que vem fazendo o clube, este não foi suficientemente expedito na implementação efetiva de todas as medidas necessárias para erradicar este tipo de comportamentos", justificou.

Nos últimos meses, Vinícius, de 22 anos, tem sido alvo de vários insultos racistas e, no final de janeiro, o jogador foi o protagonista de um episódio que levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a enviar uma carta às entidades que regem o futebol (FIFA, UEFA e CONMEBOL), medidas concretas para punir os comportamentos racistas e aumentar a consciencialização sobre o tema.