Numa primeira reação, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell -- que se encontra no Ruanda -, recorreu à sua conta na rede social Twitter para dar conta da "maior preocupação com os eventos em curso no Sudão" e apelar "a todas as partes e parceiros regionais para que voltem a colocar o processo de transição no bom caminho".

Na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, a porta-voz Nabila Massrali reforçou que "a UE está muito preocupada com as notícias de forças militares terem colocado o primeiro-ministro Abdullah Hamdok sob prisão, assim como detido vários outros membros da liderança civil" e indicou que o bloco europeu exorta "à sua rápida libertação".

Referindo-se ao corte da Internet no país, afirmou que a UE "apela urgentemente" ao restabelecimento das comunicações "sem restrições", de modo a que seja possível entrar em contacto com aqueles em necessidade.

"A violência e o derramamento de sangue devem ser evitados a todo o custo", declarou a porta-voz, acrescentando que, face aos "múltiplos desafios" que a região enfrenta, "proteger a transição histórica do Sudão é mais importante do que nunca".

"Todas as partes devem implementar os diversos elementos da declaração constitucional e acordo de paz de boa-fé", disse.

A porta-voz admitiu que a situação no Sudão é "muito fluida", já que os eventos estão a desenrolar-se neste momento, e, já depois da sua reação, o presidente do Conselho Soberano, o mais alto órgão de poder no processo de transição do Sudão, o general Abdelfatah al Burhan, anunciou a dissolução do Governo e o próprio conselho.

Al Burhan leu uma declaração na televisão estatal sudanesa, na qual anunciou a instauração de um estado de emergência em todo o país.

Abdel Fattah al-Burhane afirmou também que continua vinculado por acordos internacionais assinados pelo seu país, um dos quatro Estados árabes que decidiram recentemente reconhecer Israel.

Num momento em que as ruas de Cartum se encheram de pessoas que denunciam a existência de um "golpe de Estado" em curso, Burhane parece com esta declaração dar um sinal à comunidade internacional, que multiplicou os apelos para que os dirigentes miliares e civis sudaneses regressem ao "processo de transição".

O Ministério da Informação sudanês anunciou através das redes sociais que as forças armadas estão a disparar contra manifestantes "que rejeitaram o golpe militar" em Cartum.

O exército disparou "munições reais" contra manifestantes que se concentraram no exterior do quartel-general do exército no centro de Cartum, que se encontra protegido com blocos de betão e soldados há vários dias, afirmou o ministério através do Facebook.

O gabinete do primeiro-ministro sudanês, Abdullah Hamdok, detido esta manhã por militares e que se encontra em parte incerta, apelou aos sudaneses numa declaração, igualmente emitida pelo Ministério da Informação, para "se manifestarem" contra o "golpe de Estado".

"Exortamos o povo sudanês a protestar através de todos os meios pacíficos possíveis", afirmou o gabinete de Hamdok.

O Governo sudanês culpou hoje os militares pelas eventuais consequências do golpe de Estado, que os militares estão a tentar levar por diante, e confirmou que tanto o primeiro-ministro como a sua esposa se encontram em paradeiro desconhecido.

"A liderança militar do Estado sudanês tem plena responsabilidade pela vida e segurança do primeiro-ministro Abdullah Hamdok e da sua família. Estes líderes são responsáveis pelas consequências criminais, legais e políticas das decisões unilaterais que tomaram", afirmou o gabinete do primeiro-ministro numa declaração.

O texto acrescenta que o primeiro-ministro e a sua esposa foram "raptados na segunda-feira de manhã cedo da sua residência de Cartum e levados para um local desconhecido por uma unidade militar".

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