Em ano de estreia no campeonato universitário dos Estados Unidos (NCAA), Neemias Queta reconheceu hoje estar “cada vez mais perto” de se tornar o primeiro português a pisar os palcos da liga norte-americana de basquetebol (NBA).

“Chegar à NBA é um sonho para qualquer miúdo que começa a jogar basquetebol. Sinto que estou cada vez mais perto de concretizá-lo porque tenho jogado a um alto nível. Mas ainda não estou lá e nesta altura preocupo-me mais em ajudar a minha equipa”, sublinhou, em declarações à Lusa, o caloiro dos Utah State Aggies, segundos classificados na Conferência Montanha Oeste, que integra o escalão máximo do basquetebol universitário americano.

Neemias, de 19 anos, não precisou de muito tempo para dar nas vistas do outro lado do Atlântico. Em 28 jogos, o poste de 2,11 metros apresenta médias de 11,6 pontos, 9 ressaltos e 1,6 assistências por jogo, tendo suplantado no início de fevereiro o recorde de desarmes de lançamento numa época pelos Aggies (70), o que direcionou os holofotes mediáticos para internacional sub-20 português.

“O cartão de visita de Queta vai ser o lado defensivo, no qual os seus instintos para desarmar e perfil físico quase exigem estatuto de primeira ronda [do draft]”, escreveu em janeiro a revista Sports Illustrated, num artigo que inclui Neemias nas cinco maiores promessas de futuros ‘drafts’, evento anual no qual as 30 equipas da NBA podem recrutar jogadores provenientes da universidade ou do estrangeiro.

Questionado sobre a possibilidade de fazer história, o poste prefere manter os pés no chão, mas manifesta que se sentiria “muito orgulhoso e recompensado por todo o esforço” caso um dia viesse a integrar a elite do basquetebol mundial.

“O basquetebol na Europa é mais tático, mas vir para os Estados Unidos foi a melhor escolha. Já era um jogador muito alto e atlético e aqui fortaleci a minha massa muscular. Depois tive de me adaptar às arbitragens norte-americanas, que param muitas vezes o jogo, e ao equilíbrio de forças no campeonato, que obriga a pensar e executar com mais rapidez”, pormenorizou, garantindo que os Utah State trabalham “desde o primeiro dia” para quebrar uma ausência de oito anos do March Madness (Loucura de Março, em tradução livre), a fase final na NCAA.

Nascido em Lisboa e filho de pais guineenses, Neemias Queta cresceu na margem sul do Tejo e driblou pela primeira vez num campo de basquetebol com dez anos, por influência da família, ao serviço das camadas jovens do Barreirense.

“Tinha ido acompanhar um treino da minha irmã e reparei que no campo ao lado estava o Barreirense. Aceitei treinar com eles e nunca mais larguei”, rememora o basquetebolista, que aos 17 anos se apercebeu do futuro que teria na modalidade.

No início da temporada passada, Neemias transferiu-se para o Benfica, tendo evoluído com a equipa B na Proliga e participado em cinco jogos com a formação principal. O ‘salto’ competitivo deu-se pela necessidade de “poder evoluir como jogador numa equipa melhor”, aproveitando a companhia do ídolo Carlos Andrade, seis vezes campeão nacional, com FC Porto, CA Queluz e Benfica, que terminou a carreira em 2017/18.

Após ter sido eleito o melhor poste do Europeu de sub-20 Divisão B, disputado em Sófia, na Bulgária, no verão de 2018, onde Portugal terminou no nono lugar, Queta foi chamado aos trabalhos da equipa principal das ‘quinas’ pelo selecionador Mário Gomes.

“Estive uma semana e gostei muito de aprender com jogadores mais velhos do que eu, alguns dos quais a jogar internacionalmente num patamar elevado”, contou o Neemias, cujo desempenho não passou despercebido aos observadores das universidades americanas, e não só, que observam as provas europeias.

Com o sonho da NBA na mente, Neemias Queta aproveitou a mediação logística concedida pela empresa de consultoria Next Level Sports e aceitou a proposta de Utah State, mudando-se sozinho de malas e bagagens para a cidade de Logan, onde reparte os dias entre as aulas do curso de jornalismo, os treinos e os jogos, na companhia de outro emigrante português, o base Diogo Brito.

“Quero ser jogador de basquetebol, tendo sempre um segundo plano. Quando aqui cheguei não sabia o que esperar da escola, dos árbitros, da minha equipa e do treinador. Era tudo muito diferente, mas acho que me habituei rápido. O importante é que siga os meus sonhos, sem deixar que ninguém me corte as asas para voar”, rematou.