A COVID-19 é assim, chega de mansinho e sem alertas. Quem passa pela experiência não encontra muitas explicações para o enigma que é a origem da doença . José Barbosa, basquetebolista da Oliveirense, viu confirmada a infeção por COVID-19 no dia 17 de novembro num estágio da seleção portuguesa.

"Testei positivo a uma segunda-feira e no dia anterior tinha tido algum cansaço, mas achei que era normal porque tínhamos defrontado o V. Guimarães no sábado [74-84] e pensei que eram dores pelo facto de estar dorido do jogo. Já no dia a seguir quando fiz o teste já estava perfeitamente bem e já não tinha dor nenhuma. Fora isso, não tive absolutamente mais nada, nem tosse nem dores de cabeça, nem dificuldades respiratórias nem qualquer tipo de sintoma, só a falta de paladar. Depois após o 10.º dia comecei a fazer a minha vida normal", começa por nos contar o jogador.

Sobre a origem para a infeção, o atleta de 30 anos tem apenas suposições do que poderá ter acontecido. "Há essas coincidências porque o Francisco Albergaria [da Oliveirense] também acabou por testar positivo no mesmo dia que eu e por coincidência ou não dois ou três dias antes de partilhar o quarto comigo. Como é um grupo fechado cruzamos-mos bastante, partilhamos o mesmo balneário e ele até é da mesma posição que eu, por isso é capaz de ter sido por aí. Não sei se foi por ele, se foi através de outra pessoa qualquer, isso isso não sabemos. Ainda por cima a minha mulher trabalha numa unidade de saúde, tenho um filha, há muitos cenários", relembra.

Os 10 dias de isolamento foram passados no hotel durante a concentração da seleção, longe da mulher e da filha que também acabaram por ficar infetadas. "Os primeiros dois, três dias não foram assim tão maus. Por coincidência estavam dias de sol e eu fui passando o tempo na varanda [do hotel] a ler, ver séries e a fazer o exercício que conseguia. Mas os restantes dias foram complicados, as saudades começaram a apertar. Estava longe da minha família, estava remetido a um quarto de hotel, com uma varanda e uma cama", recorda.

Tendo em conta o impacto que tem tido a doença no nosso país e no mundo, a palavra'covid-19' assusta, mesmo para quem é atleta de alta competição. "Tive um pouco de receio, até porque tive um problema de saúde meses antes. Fui operado de urgência e então não sabia até que ponto estava completamente recuperado. Mas acabou por ter zero impacto. Eu não tive sintomas, apenas perda de paladar. Já a minha filha e mulher tiveram alguns sintomas e foi o que custou mais. Estando num hotel fechado e sabendo que elas estavam infetadas e com sintomas, isso gera alguma preocupação. Felizmente correu tudo bem", denota.

A condição física de José Barbosa é que se ressentiu e dezembro acabou por ser uma espécie de uma "nova pré-época" para o atleta de 30 anos.

"Ao regressar sentia-me completamente fora de forma e desgastava-me muito mais rápido do que o normal. Só depois no final desse mês é que senti os índices físicos a voltarem ao normal. Foram aqueles sintomas já conhecidos por pessoas que passam pelo Covid-19. Agora tenho a certeza que já estou quase ou mesmo a  100%", garante.

Na quinta época ao serviço da Oliveirense, o base garante que a equipa ficou afetada durante o período em que esteve em isolamento. "Mesmo os que não estiveram infetados estiveram parados 15 dias, o que a meio da época nunca é benéfico", mesmo assim elogia o grupo que tem resistido a uma "época tão atípica."

"Jogar sem adeptos é do mais estranho que pode haver, então aquele período inicial, ambientar-nos a essa falta de apoio é difícil para todos, porque acabam por dar outra chama à competição. Também há o fator da incerteza, nunca sabemos se alguém vai testar positivo, se vai haver jogo. Tivemos que nos adaptar a isso tudo. Penso que agora já estamos mais adaptados à realidade em que vivemos", analisa.

Para o que resta da temporada, e com a Oliveirense no quarto lugar a quatro pontos do líder Sporting, o objetivo passa pelo conquista do tricampeonato e pelo triunfo na Taça de Portugal.

"Temos dois troféus em disputa que é a Taça de Portugal e campeonato. Sem dúvida alguma o objetivo é alcançar o tricampeonato é o que mais desejamos. Se pudermos juntar a Taça de Portugal... Há muitos aqui no clube que não têm esse troféu no currículo e se alcançarmos o tricampeonato e a Taça de Portugal fantástico. É por isso que temos trabalhado. Agora com a integração dos últimos norte-americanos vamos ver se eles se adaptam ao nosso estilo de jogo e à nossa maneira de pensar e vamos à luta."

O base comentou ainda o regresso à seleção nacional depois de quase dois anos de interregno, tecendo elogios à nova fornada de jogadores lusos.

"Eu já não ia à seleção há algum tempo, há dois anos e o grupo que eu encontrei foi um grupo renovado sem dúvida, com muita 'malta nova' com vontade aprender e muita qualidade. Cheguei à conclusão que o meu papel em dois anos tinha mudado bastante porque passei a ser dos mais experientes e fiquei contente por ter esse papel, porque acho que me assentou bem. No que puder ajudar a seleção, estarei à disposição. A nível de grupo, fizemos uma campanha muito boa nesta última semana. Conseguimos atingir duas vitórias com uma margem considerável, melhor era impossível. Fomos das seleções que mais subiu no ranking e o futuro é muito promissor para esta nova fornada", termina.

Recorde-se que a seleção portuguesa confirmou no dia 22 de fevereiro a vitória no Grupo A da primeira ronda de pré-qualificação para o Mundial de 2023, ao vencer o Chipre por 84-52, na sexta e última jornada.