A integração de Dorian Keletela na equipa de refugiados nos Jogos Olímpicos Tóquio2020 é uma “conquista fantástica”, contudo o velocista do Sporting precisa “crescer em outros domínios” para singrar na vida, advertiu hoje responsável do Comité Olímpico de Portugal.

“É uma conquista fantástica. Ele, como qualquer outro, está felicíssimo como se deve calcular. Tem muitas expectativas de bater o seu recorde pessoal [nos 100 metros]. (...) Esperemos que tenha muito sucesso nos Jogos”, desejou Maria Machado, coordenadora do projeto “Viver o desporto, abraçar o futuro”.

Em declarações à Lusa, a responsável nacional pelo projeto que ajudou a levar Dorian Keketela à equipa de 29 refugiados de todo o mundo em Tóquio2020 considera que este prémio vai “dar e abrir” oportunidades ao refugiado, caso ele “continue a trabalhar e a ser determinado”, pois, recorda, esta participação no Japão “só por si não lhe garante uma vida melhor”.

“A barreira da língua tem sido significativa. Agora já começa a falar português, mas não sabia uma palavra. [Ir aos Jogos] É importante, pode ajudar a abrir portas, mas que ele também possa crescer nos outros domínios”, vincou Maria Machado, destacando o valor dos “estudos”.

No acompanhamento diário aos refugiados que integram o programa percebeu que Dorian “cresceu muito como pessoa, pois aquele rapazinho que chegou a Portugal já está mais maduro e determinado”, ainda assim, insistiu que é “fundamental” uma aposta pessoal no seu crescimento em outras áreas, para poder singrar na sociedade.

“Agora falta também aplicar-se noutros setores porque, tal como os portugueses, não é fácil sobreviver ou viver só de resultados desportivos”, advertiu, sobre o menino que chegou a Portugal aos 16 anos, sem pais, vítimas de perseguição política no Congo.

O programa que o COP promove desde 2016 já envolveu entre “1.200 a 1.400 refugiados”, incluindo o afegão Farid Walizadeh, o pugilista que renasceu em Portugal depois de uma vida plena de obstáculos e que era o outro elemento designado para a equipa internacional.

Walizadeh foi novamente vítima, neste caso de um processo de qualificação cheio de azares, já que, por distintos motivos relacionados com a covid-19, se viu impossibilitado de competir no apuramento Europeu e, posteriormente, no Mundial, acabando por não o conseguir via ranking, já que fez poucas provas.

Walizadeh, tal como outros atletas de diferentes nacionalidades, continuarão, no entanto, a ser apoiados pelo Comité Olímpico Internacional (COI) e seus ramos nacionais, “com programas para a transição de carreiras e para carreiras duais, para que possam competir e estudar, valorizando-se”.

“A sua vida é um exemplo de resiliência, pelo que acredito que estará com a mesma força e motivação para Paris2024”, disse Maria Machado.

A Chefe de Missão Tegla Loroupe mostrou-se satisfeita com a composição da equipa ressalvando que “os atletas não se representam só a si próprios, nem só ao COI, mas também todos os refugiados do mundo”.