Há algo que distingue Nélson Évora dos outros 91 atletas portugueses presentes na maior comitiva olímpica portuguesa de sempre: ser campeão olímpico. Em 2008, na cidade de Pequim, o saltador português atingiu o Olimpo do desporto ao ganhar o ouro. Desde então, o homem responsável por colocar o triplo salto na ribalta do desporto nacional viveu anos de altos e baixos. As lesões quase o deram como ‘acabado’, mas a determinação fê-lo renascer. Uma e outra vez. As vezes que foram precisas para poder voltar a voar, agora no Rio de Janeiro.

As expectativas de quem já venceu
Para quem já ganhou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, o objetivo numa nova participação não pode ser muito diferente. Mesmo sabendo que a concorrência é muito forte, Nélson Évora ambiciona conseguir o melhor resultado possível e fazer nova ‘prova de vida’. Os 17,67 metros saltados em Pequim’2008 são a referência – o recorde pessoal e nacional de 17,74m foi estabelecido em 2007 nos Mundiais – e Nélson Évora assume estar em “grande forma” para brilhar na ‘Cidade Maravilhosa’.

Entrevista do SAPO Desporto a Nélson Évora em 2013.
Depois da praga de lesões que lhe roubaram sensivelmente dois anos de competição, incluindo os Jogos Olímpicos de Londres’2012 em que não pôde defender o seu título, o saltador do Benfica conseguiu regressar à sua forma de outrora. O reencontro com os títulos foi uma questão de tempo, com 2015 a figurar como um dos seus melhores anos da carreira. O ouro nos Europeus de Atletismo de pista coberta e o bronze nos Europeus de Atletismo no espaço de poucos meses devolveram o sorriso ao campeão olímpico. Afinal, a esperança de voar como fizera em Osaka’2007 ou Pequim’2008 não era um sonho impossível.

Saltos curtos ou nulos
O presente ano de 2016 revelou-se bastante mais irregular a nível de resultados. Apesar das boas marcas nos treinos orientados pelo Prof. João Ganço, Nélson Évora ficou-se pelo quarto lugar nos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta, tendo mesmo falhado a presença na final nos recentes Europeus de Amesterdão. Um ‘salto nulo’ no seu percurso, mas rapidamente relativizado e colocado atrás das costas. Superar um mau resultado não custa tanto como superar as graves lesões que já venceu.

A ansiada prova
Nélson Évora foi um dos primeiros elementos da comitiva olímpica portuguesa a chegar ao Rio de Janeiro. Na mente do saltador está a adaptação a uma realidade diferente, já que a prova do triplo salto ainda está longe no calendário olímpico. Com efeito, a final da prova do triplo salto está marcada apenas para 16 de agosto, numa competição que arranca já esta sexta-feira, dia 5, com a cerimónia de abertura. No entanto, importa lembrar que até o futebol entra em ação antes da inauguração oficial.

Uma vida a saltar
Natural da Costa do Marfim e com raízes cabo-verdianas, Nélson Évora chegou a Portugal com cinco anos de idade. Por um feliz acaso do destino, a família do futuro campeão olímpico foi viver para o andar de cima de João Ganço, antigo recordista nacional de salto em altura e treinador. O pequeno Nélson tornou-se amigo dos filhos de João Ganço e por entre as brincadeiras detetou-se um talento natural para o atletismo. João Ganço não deixou escapar a oportunidade e levou-o para o mundo das competições.

Um salto visto pelos olhos de Nélson Évora.

Os primeiros passos até foram dados no salto em altura, onde conseguiu marcas bastante impressionantes para o seu escalão etário. Experimentou também o salto em comprimento e só depois o triplo salto. Uma lesão num joelho acabou por afastá-lo em definitivo do salto em altura, fixando-se então nas outras duas especialidades. Em 2002, Nélson Évora naturaliza-se finalmente como português e começou a frequentar os Europeus e Mundiais como júnior. Os resultados não tardaram a aparecer e o sucesso foi construído prova a prova.

Até chegar ao Olimpo, onde espera agora regressar no Rio de Janeiro.