Depois de ter conseguido o melhor resultado das suas três participações olímpicas no Rio'2016, com o 12.º lugar nos 20 quilómetros marcha, a atleta natural de Rio Maior enveredou pela mais longa distância do atletismo, os 50 quilómetros marcha, até então apenas percorrida por homens.

O recorde do mundo está na posse da chinesa Liu Hong (03:59.15) desde 2019, mas Inês Henriques foi a primeira a fixá-lo, em 15 de janeiro de 2017, em Porto de Mós, com 04:08.25 horas, melhorando o registo em 13 de agosto do mesmo ano para 04:05.56, em Londres, onde se sagrou campeã do mundo.

No ano seguinte, também na estreia da distância em Europeus, em Berlim, venceu e assumiu a luta pela introdução da prova no programa olímpico, tal como já acontecia nos homens, na edição de Tóquio'2020, anunciados como os Jogos da igualdade de género.

"Se houvesse realmente a intenção de haver igualdade de género, deviam ter introduzido a distância dos 50 quilómetros e não foi isso que fizeram. As medidas que tomaram foi colocar dois porta-estandarte, um homem e uma mulher, mas isso não é nada, na verdade não tem nada a ver com competição igualitária", afirmou Inês Henriques, em entrevista à agência Lusa.

O calendário dos Jogos conta com 12 provas mistas, juntando ambos os sexos: três no tiro, e uma de cada em modalidades como natação, tiro com arco, atletismo, badminton, judo, vela, ténis de mesa, ténis e triatlo.

"Eu acho injusto, até podia não fazer nenhum resultado de qualidade, mas acho que era justo poder, tal como os homens, disputar a prova olímpica dos 50 quilómetros marcha. Até porque não me parece que as equipas mistas promovam o desporto no feminino, talvez sejam um espetáculo televisivo, mas não a igualdade de provas", lamentou Inês Henriques.

No dia em que arrancam as competições de atletismo, a atleta natural de Rio Maior reconheceu a estranheza com este quotidiano, longe de Tóquio e da Aldeia Olímpica, depois de ter estado em três edições.

"É estranho! Parece que é algo que nunca vivi. Fui aos meus primeiros Jogos em 2004 e é sentir-me um bocado como uma reformada, mas isso vai depender da decisão de haver prova dos 35 quilómetros em Paris'2024", reconheceu.

Aos 41 anos, Inês Henriques faz depender o investimento na carreira da decisão de World Athletics e Comité Olímpico Internacional (COI) de introduzirem os 35 quilómetros marcha no programa olímpico, retirando os 50 masculinos.

"Se só houver 20, o meu trabalho como atleta de alto rendimento está feito, porque já não tenho capacidade para treinar e alcançar resultados de qualidade. Se houver 35, vou ver como o corpo reage, já estou a retomar para voltar a sentir prazer em treinar, antes de tomar uma decisão", sublinhou.

A ausência dos Jogos foi atenuada pelo reconhecimento dos dirigentes do Comité Olímpico de Portugal (COP) pela sua causa.

"Fiquei sensibilizada pela visita do presidente do COP, José Manuel Constantino, e do diretor desportivo Pedro Roque antes de irem para Tóquio. Eu sei que o presidente tem um grande carinho por mim, como eu tenho com ele, e quiseram mostrar-se solidários comigo, porque concordaram que foi injusto não haver 50 quilómetros, queriam que eu lá estivesse e perceberam que eu fiz tudo o que estava ao meu alcance", atestou.

Com a decisão definitiva, em fevereiro último, de a maior distância não integrar o programa feminino, Inês Henriques ainda tentou contrariar a razão e também o treinador, Jorge Miguel, investindo na qualificação olímpica para os 20 quilómetros.

"Os 20 eram um recurso, não era o que verdadeiramente queria, e eu pensei com o coração e tentei, mas, se tivesse sido racional, nem devia ter insistido. Só que eu queria lá estar e tentei trabalhar por isso. Em 2017 e 2018, ainda fiz provas de 20 muito boas, mas estava a preparar os 50, e, sendo um recurso, não correu bem", admitiu.

Inês Henriques contou três presenças olímpicas, Rio2016 (12.ª), Londres2012 (15.ª) e Atenas (25.ª), e alcançou mínimos para Pequim2008, mas não integrou a convocatória, antes de ter ficado sem prova em Tóquio2020 ou, como a própria disse, "sem chão".

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