O Presidente da República considerou hoje que a final da Taça de Portugal de 1969, entre o Benfica e a Académica, ultrapassou os dois clubes, a competição em si, o futebol, e projetou o movimento estudantil, deixando o Governo de então exposto.

“Aquela final foi uma manifestação impossível de proibir, porque não era possível impedir aquele afluxo de muitos milhares de adeptos ao estádio Nacional”, relembrou Marcelo Rebelo de Sousa durante o debate sobre a final da Taça de Portugal de 1969 no contexto da luta estudantil ao regime do Estado Novo.

Para Marcelo as ditaduras “têm dificuldades para lidar com a liberdade” e usou uma imagem futebolístico para lembrar que “a democracia, todos os dias, ou ganha ou perde”, considerando a exposição e o debate sobre luta estudantil no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, “uma vitória, um golo para a democracia”.

O debate contou com a participação dos antigos futebolistas do Benfica e da Académica, Toni e Mário Campos, que participaram na célebre final de 1969, da investigadora Raquel Vaz Pinto e do antigo ministro da Justiça e presidente da Associação de Estudantes de Coimbra à altura dos acontecimentos, Alberto Martins, foi antecedido de uma visita guiada à exposição ‘Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril’, patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência até 28 de agosto, palco da conversa moderada pelo jornalista Carlos Daniel.

Alberto Martins, então presidente da Associação de estudantes de Coimbra, evocou a greve estudantil aos exames em abril de 1969, que foi um movimento de massas, que envolveu alunos e professores: “86 por cento dos alunos fez greve aos exames, chumbando, um facto então inédito em Portugal e na Europa, e a equipa da Académica identificava-se com esse movimento dos estudantes”.

O antigo futebolista da Académica Mário Campos lembrou que sete dos jogadores titulares e mais dois suplentes que entraram na final de 1969 eram estudantes universitários, sendo sete deles internacionais A, e que estes aderiram ao luto académico decretado pelos estudantes como forma de desafio e rebelião ao poder instituído.