Numa entrevista em que recordou alguns dos melhores momentos da sua carreira, à conversa com o antigo internacional brasileiro Ricardo Rocha, que chegou a passar pelo Sporting, Deco falou dos primeiros tempos em Portugal e da ida para o Benfica, onde acabaria por nunca vir a jogar.

"Quando chegámos ao aeroporto de Lisboa estava lá a Imprensa toda e eu disse ao Cajú, que também tinha viajado comigo: 'nossa, estão aqui à nossa espera'. Estávamos com moral. Afinal estavam todos à espera do Paulo Nunes, que era a grande contratação da época", lembrou sobre a chegada a Portugal, em 1997.

Foi apenas nesse momento que Deco começou a perceber que o seu destino talvez não fosse, efetivamente, o Benfica. "Mal chegámos, apresentaram-nos um diretor do Alverca. Entrámos num Renault 19 e nunca mais chegávamos à Luz, só víamos placas a dizer Alverca. Era o clube satélite do Benfica. Não queria ter saído do Corinthians, um grande clube, e ir para o Alverca era um retrocesso", sublinhou o antigo internacional português.

No Alverca, apesar de dar nas vistas, Deco nunca foi chamado pelo então treinador do Benfica, o escocês Graeme Souness. "O Souness começou a apostar em jogadores mais velhos e não olhava para aquela base que tinha no Alverca. Não era só eu: havia também o Maniche, o Hugo Leal, o Bruno Basto e outros jogadores que fizeram carreiras importantes. Lembro-me que o António Simões queria que eu ficasse e até me disse que foi o maior erro do Benfica não ter ficado comigo. Mas naquela época o Souness não me deu oportunidades e o Vale e Azevedo fazia o que o treinador mandava", explicou Deco.

Foi então que Jorge Mendes entrou em cena. "O Benfica não me aproveitou, porque tinha de exercer a opção de compra pelo meu passe. E foi aí que entrou o Jorge Mendes, que foi fundamental. Em dezembro desse ano [1997], tinha propostas de clubes da I Divisão do campeonato Paulista, entre eles o Ituano e a Portuguesa Santista. Fiquei na dúvida se devia voltar ao Brasil, porque mesmo estando num clube da II Divisão portuguesa, estava a destacar-me. Lembro-me que nessa altura em que ponderava regressar ao Brasil marquei dois golos num jogo e o Jorge Mendes ficou impressionado. Fomos jantar e foi o ponto de viragem", apontou.

Depois de ter sido também emprestado ao Salgueiros, Deco acabou por assinar pelo FC Porto. Passou cinco épocas e meia nos 'dragões', conquistando inúmeros troféus, entre eles a Taça UEFA e a Liga dos Campeões antes de rumar ao Barcelona. No clube catalão conquistou mais uma Liga dos Campeões, mudando-se depois para o Chelsea, último clube que representou na Europa. Pelo meio, naturalizou-se português e representou 75 vezes a seleção portuguesa.